O Zimbabué vai hoje a votos. Não se esperam mudanças no panorama político daquele país africano. Infelizmente. Como nas últimas eleições, marcadas pela fraude em larga escala e pela intimidação da oposição, actualmente as forças que se opõem a Mugabe quase não têm acesso aos meios de comunicação social, enquanto o poder usa todos os meios do Estado para se promover.
Mugabe tem feito a sua campanha do mesmo modo que tem conduzido o seu último mandato presidencial, acusando a Grã-Bretanha e Tony Blair de todos os males que afectam o Zimbabué. Vai ao cúmulo de acusar Blair de ser o culpado pela seca e pela fome.
Apesar da situação catastrófica do país e da demência do presidente, não se espera uma revolução para exigir a democracia como as que se sucederam nos últimos meses na Geórgia e na Ucrânia e, na semana passada, no Quirguistão. Infelizmente de novo. Não haverá observadores internacionais independentes para fiscalizar a legalidade do escrutínio. Haverá alguns mirones de ocasião, apenas por fachada, já que são "compadres" de Robert Mugabe.
Família, Transkei, África do Sul. National Geographic
E a isto o mundo, infelizmente deverá reagir como reagiu da última vez que houve eleições por aqueles lados. Aliás, como reage de cada vez que há eleições fraudulentas em África. Olha, cala-se e vira as costas.
O fantasma colonial
Nada se faz para travar os genocídios dos negros animistas e cristãos da Núbia e dos negros muçulmanos no Darfur, ambos no Sudão. Só no caso do Darfur, um relatório divulgado esta semana revelou haver já mais de 300.000 (trezentos mil!) mortos. Mais do que os do tsunami do Índico!
O espinho colonial cravado na consciência política europeia, faz com que os governos do mundo, em especial os da Europa, evitem denunciar o que quer que seja. O único que se atreve a levantar a voz é Tony Blair, exactamente aquele a quem muitos na Europa olham como o cãozinho de estimação de George W. Bush. Enorme ironia. Enquanto isso, os intelectuais de França vão tecendo hipócritas considerações pseudo-humanistas sobre o estado do Mundo e Monsieur Chirac defende o fim do embargo de armas à China.
Mesmo as Nações Unidas pouco fazem para travar as ditaduras africanas. Quando a Indonésia saiu de Timor-Leste e as milícias arrasaram o país, a ONU estabeleceu um governo provisório, liderado por Sérgio Vieira de Mello. No Kosovo, após a violência étnica entre sérvios e albaneses, de novo a ONU interveio, e ainda hoje a província sérvia é governada pelas Nações Unidas. Nada disto é feito em África e a razão é evidente.
Estabelecer governos sob a égide da ONU em países como o Zimbabué ou o Sudão seria um "perigoso" precedente, para ser aplicado a uma boa parte dos países africanos, assim como a alguns asiáticos e latino-americanos. Obviamente que o influente bloco africano da ONU se oporia a tal medida. Veria nela um regresso ao colonialismo, esse fantasma recorrente nos discursos dos presidentes africanos - com Mugabe à cabeça. Desculpa válida para todas as suas deficiências.
Hoje passo para os 28. (Quem diria, vendo as figuras das fotos...) Não faço questão na festa com bolo e gente a cantar-me os "parabéns a você". (Bolas, que anti-social!).
Cada uma destas imagens tem uma história e um momento especial. Um abraço enorme para os fotógrafos de ocasião e todas as pessoas que também estavam nas fotos e que eu cortei (só na foto, não do coração) e também para as que passarem por aqui hoje, e amanhã e depois e depois...
PS - o título do post não é a expressão de um desejo de chegar depressa àquela idade - isso costumava acontecer nos anos anteriores aos 18, por razões óbvias. É que essa é a idade que a minha mãe me dá... desde os 25.
Hoje mais do que nos outros dias todos. A propósito do Dia Mundial da Poesia, um poema que encontrei num pequeno grande livro que comprei há dias numa feira. A prova de como se pode conseguir um tesouro por apenas 1 euro e meio.
O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece?
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
XXXIX, de "Poemas de Alberto Caeiro"
Recentemente, o PM britânico Tony Blair propôs a adopção de um compromisso sério e empenhado para combater a pobreza em África. O plano não é novo e prevê o cumprimento de compromissos antigos, feitos pela maioria dos países desenvolvidos, que consistem na atribuição de um valor equivalente a menos de 1% do PIB em ajudas ao desenvolvimento em África. Embora o valor de 1% pareça pequeno, são poucos os casos em que a promessa é cumprida: somente alguns países escandinavos. Sabe-se que o valor, já de si pequeno, da ajuda ao desenvolvimento do Terceiro Mundo tem decrescido na maioria dos países.
Não me lembro de ter ouvido Blair falar do fim dos subsídios da UE aos agricultores europeus, incluindo aos britânicos. Não sou daqueles ocidentais, normalmente de esquerda, que, talvez por sentimentos de culpa não resolvidos, acham que TUDO o que acontece de mal em África é causado pelo Ocidente. No entanto, é inegável que a existência de subsídios agrícolas na Europa (e EUA) é um dos principais entraves ao desenvolvimento dos países pobres.
Os tomates do Gana
Este é um exemplo verídico. No Gana existe uma fábrica de transformação de tomate para produção de conservas. A matéria-prima era normalmente adquirida a centenas de produtores locais, que assim tinham um rendimento garantido que lhes permitia manter as suas famílias.
A certa altura, embora existindo matéria-prima local abundante e barata, a fábrica começou a importar tomate. De Itália. A razão é simples. Os produtores de tomate italianos recebiam da UE grandes subsídios à produção, o que lhes permitia venderem o tomate a um preço ainda mais baixo do que o produzido no Gana. Uma evidente distorção das regras da concorrência, com efeitos desastrosos. No Gana, não em Itália, obviamente. Centenas de famílias ganesas perdessem uma importante fonte de sustento.
É bem possível que alguns deles tenham entretanto decidido imigrar para a Europa. Inclusive para Itália.
A Zâmbia e o milho transgénico
Um outro exemplo real do cinismo europeu aconteceu à cerca de dois anos. A Zâmbia atravessava um período de grave seca e escassez alimentar. (Nós temos seca, mas é evidente que não vai faltar comida nos supermercados, nem que ela tenha de vir de Vanuatu.)
O governo zambiano decidiu autorizar a importação de sementes de milho transgénico, de uma variedade mais resistente à seca - que acontece ciclicamente naquela região. Logo da Europa se eriçaram cabelos. Os barrigudos de Bruxelas apontaram as baterias à Zâmbia e, com medo de uma eventual contaminação genética, ameaçaram proibir a importação de todos os seus produtos agrícolas, caso a medida fosse adiante.
Para evitar perder os escassos recursos provenientes das exportações, o governo de Lusaka voltou atrás na decisão. Os zambianos continuaram com fome até o governo ter encontrado outra solução e os intelectuais-de-barriga-cheia de Bruxelas puderam continuar a ir ao supermercado e comprar o que lhes apetecesse, sem receio de estarem a levar para casa um molho de grelos contaminado por transgénicos.
Depois ainda há os defensores do perdão da dívida externa dos países subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento como fica bem dizer). Mas isso é outra história...
Numa cerimónia que contou com a presença de dezenas de governantes estrangeiros, foi inaugurado o novo museu do Holocausto no complexo de Yad Vashem, em Jerusalém. Usando avançados meios audiovisuais, o local pretende mostrar a história do ponto de vista das próprias vítimas, incluindo pela exposição de objectos pessoais, ao contrário do que acontecia até agora, em que dominava a perspectiva do establishment da instituição.
Visitei o Memorial de Yad Vashem há quase seis anos. Na altura, alguns dos espaços pareceram-me demasiado "institucionais", em que cada um dos diferentes memoriais carregava uma enorme carga simbólica, mas pouco pessoal.
A visita guiada em inglês ao museu iniciava-se com uma breve passagem pela Alameda dos Justos entre as Nações, um bosque em que cada árvore recorda um não-judeu (em alguns casos um grupo) que ajudou judeus durante a II Guerra Mundial. Dada a fama do homenageado, a explicação do local era dada em frente à árvore de Oskar Schindler, o mais reconhecido dos "Justos" depois do filme de Spielberg. Mais tarde procurei - e encontrei - a árvore plantada em honra de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português de Bordéus, que é o único português homenageado no local.
Durante a visita à exposição, não prestei a mínima atenção à guia. Face a tanta informação - nos objectos, nos cartazes, nas fotos - e apesar de ter demorado uma hora a percorrer todo o museu, as suas explicações eram demasiado vagas e rápidas para permitir perceber o significado de tudo o que era via.
Em redor do museu e do Centro de Documentação existem diversos monumentos evocativos. Um vagão de comboio, verdadeiro, usado nas deportações. Incrivelmente pequeno, ainda mais pensando que, de cada vez, levou 80 a 100 pessoas para a morte. O Vale das Comunidades, um labirinto de pedra e cimento em que as paredes estão cobertas de nomes de terras cujas comunidades judaicas foram devastadas. Desde centenas de aldeias da Polónia ou da Lituânia, a grandes cidades como Varsóvia, Salónica ou Frankfurt.
E o Memorial das Crianças, uma caverna com um milhão e meio de minúsculas luzes, uma para cada criança morta no Genocídio. Percorrer o local é claustrofóbico, ziguezagueando numa quase absoluta escuridão. E ouvir os nomes, idades e origem das vítimas. É que, apesar da tendência para se invocar apenas a estatística, nenhuma delas era anónima.
É esse anonimato que o novo Museu quer quebrar, através da recolha e do relato da história de cada um dos 6 milhões.
NOTA: Monte da Recordação, ou Har Ha'Zicaron, o monte de Jerusalém onde fica situado o Memorial de Yad Vashem.
Amanhã faz um ano um dos meus blogs favoritos, o Outsider. Há um ano que a Annie se dedica a mostrar o que a natureza tem de mais belo e, ao mesmo tempo, de mais simples.
Já vão um pouco atrasados, mas também aqui deixo os meus parabéns à Ana Albergaria por mais um aniversário do excelente Crónicas Matinais. Foi na semana que passou.
Obrigado pelos momentos excelentes que tenho, cada vez que entro nos vossos blogs e parabéns.
Definitivamente, há quem ria com a mais absoluta miséria e com isso faça mesmo programas de televisão. E chamam-lhe programas de humor.
Há coisa de duas semanas, a SIC estreou a versão televisiva de "O Inimigo Público", inspirada no suplemento satírico que acompanha uma vez por semana o jornal "Público". De um modo geral, sou apreciador do tal suplemento, e o programa também me parecia ter alguma graça, apesar de achar o Rui Unas um pouco tosco. No último programa, a pintura ficou irremediavelmente borrada com uma tirada de muito mau gosto. Aliás, nem sequer foi a primeira vez que aparecem "piadas" deste nível n'O Inimigo Público, no caso, na versão escrita.
O lema do jornal e do programa é "se não aconteceu, podia ter acontecido". Num dos sketches - sobre o estado do turismo no Algarve -, o actor-repórter revelava que as praias algarvias assemelhavam-se a Auschwitz, com o chão coberto de corpos queimados e alemães a beber cerveja. O meu comentário é simplesmente mostrar a imagem seguinte, a qual creio ter servido de inspiração ao autor da peça.
Trata-se da única foto da cremação dos prisioneiros mortos nas câmaras de gás de Auschwitz II-Birkenau. Quando os crematórios ficaram sobrelotados em 1944 - o auge das deportações -, prisioneiros do Sonderkommando* foram obrigados a queimar os cadáveres em piras nas traseiras das câmaras de gás. A fotografia foi tirada secretamente por um prisioneiro e passada à Resistência.
Para uns será apenas uma piada de mau gosto. Para mim, além de um sinal de mau gosto e de evidente ignorância, é sinal de uma enorme torpeza de espírito. Eu sei que já passaram uns dias sobre o programa, mas como eu não posso vir aqui sempre que quero, fica para agora este reparo. De qualquer modo, não deixei o caso passar em claro.
PS - No canal ao lado e num registo oposto. A 2: exibiu ontem o sexto e último episódio da série documental da BBC "Auschwitz - os Nazis e a Solução Final". À hora das novelas e dos concursos. De realçar a qualidade da investigação, com a reconstituição digital das diversas fases da história do campo. Perturbadora a frieza com que, 60 anos depois, alguns dos antigos guardas SS e colaboradores relatam a sua experiência, procurando justificar o injustificável e sem o mínimo remorso.
Creio que os autores de "O Inimigo Público" deveriam ter assistido a este documentário. Eles e os outros que contam e se riem com as chamadas "piadas do Hitler". Conheço alguns...
Kippá, yarmulke, solidéu: o barretinho que os homens judeus usam durante as orações (os religiosos usam-no a toda a hora). Existem de todas as cores e padrões, até mesmo com bonecos dos Power Rangers! (private joke). A minha é uma simples kippá de veludo preto, comprada numa loja do Bairro Arménio de Jerusalém. (Ficam já avisados: está tudo em "fixed prices", ali não há regateio).
Após a minha última aula de religião e língua hebraica, assim que saí da sinagoga não a tirei logo. Ainda no átrio, enquanto abria o portão, um colega perguntou-me com estranheza: "vais com ela posta?". Não é comum na rua verem-se homens de kippá, mesmo sabendo que os Judeus são escassos por cá. Assim que se deixa a sinagoga, toca a arrumar o barrete no bolso ou na pasta, não vá algum goy (gentio) ver... Medo ou vergonha de se mostrar... não sei.
Apesar de já ter pensado no assunto, nunca me aventurei a "ir com ela posta" lá fora, fazer todo o caminho até casa, mesmo no metro. Contudo, não gosto de correr a tirá-la assim que acaba a aula. Gosto de prolongar um pouco aquele estado... É como se levasse um pouco do oásis para o deserto.
Bem sei que isto não é Paris ou Bruxelas, onde homens de kippá têm sido alvo de ataques e insultos (alguns dos casos reportados aqui). Pois é, por cá diz-se que "somos de brandos costumes". O pior foi ter lido recentemente num jornal que um grupo português de cabeças-rapadas foi aceite num clube internacional dessa canalha, o qual obriga que, para merecerem tamanha "honra", tenham de mostrar "obra feita". Ou seja, espancando (ou mesmo matando) judeus, negros ou gays. Já se sabe, os untermenschen do costume.
Por agora, mais vale prevenir, mesmo que não me agrade nada ter de me esconder.
Como se não fosse já um grande blogue, o Rua da Judiaria passou a ter mais uma excelente razão para uma visita. Passou a publicar a banda desenhada judaica Shabot 6000.
É a história de um judeu ortodoxo que inventou um robô e que lhe vai ensinando os mistérios e tradições do Judaísmo.
Desculpem-me ser tendencioso, mas não há humor como o judaico.
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