Não sou um fiel seguidor do hábito de sair à noite. Nunca fui. Cada saída para beber um copo com os amigos é geralmente um espectáculo deprimente. Deprimente porque, na maioria dos sítios onde se vá, se encontram hordas de miúdos que ainda andavam na escola primária na altura em que eu entrei para a faculdade.
Eles, ainda com penugem em vez de barba, e elas a terem estreado há pouco o primeiro soutien.
E se, por acaso, se vislumbra alguém realmente adulto, normalmente ou é um pai à procura da filha adolescente que àquelas horas já deveria estar em casa ou - pior ainda -, é algum predador à caça de "carninha fresca."
Ontem, num ataque suicida na estação de autocarros de Beersheva, sul de Israel, dez pessoas ficaram feriadas, duas das quais com gravidade. Foi o primeiro ataque terrorista desde a retirada israelita de Gaza, ocorrida na semana passada. A acção foi reivindicada conjuntamente pelos braços armados da Fatah e da Jihad Islâmica. Poucos dias antes, num vídeo divulgado pelo Hamas, o novo líder do movimento prometeu continuar com os atentados terroristas contra Israel.
Interpretando a retirada israelita de Gaza como uma capitulação israelita face à estratégia do terror, os movimentos terroristas palestinianos prometeram continuar com acções suicidas para conseguirem o seu objectivo de apagar Israel do mapa. "Primeiro Gaza, no futuro Jerusalém e toda a terra do Jordão ao Mediterrêneo."
A mesma perspectiva teve o Hezbollah em 2000, quando o exército de Israel retirou do sul do Líbano. Que a retirada não era só uma mudança de estratégia de segurança (nunca é), mas uma fuga face à ameaça constante das emboscadas, dos mísseis e dos ataques suicidas. Desde então verificam-se confrontos esporádicos, com lançamento de rockets sobre Kiryat Shmona e outras cidades junto à fronteira libanesa.
Não deixa de ser irónico que, para lá da "cedência de terras bíblicas", seja exactamente a mesma "capitulação ao terror" o argumento dos israelitas que se opõem ao plano de retirada.
Definitivamente, Se Isto É Um Homem, de Primo Levi não é um bom livro de cabeceira. É um bom livro. Um excelente livro, mas não para ter à cabeceira. Deveria constar da "Lista dos 10 Livros Essenciais das Pessoas Cultas", que há uns anos Pacheco Pereira (um tipo convencido e que tem um blogue famoso - onde eu não costumo ir porque não suporto o sujeito - chamado Abuso ou Aburro, ou coisa do género) desfiou numa palestra na faculdade.
Não é indicado para antes de dormir, nem como leitura matinal. No primeiro caso, não sossega e logo, não dá bom sono. No segundo, faz passar o resto do dia deprimido. Não o aconselho antes das refeições. Péssimo para se conjugar com o apetite, já que, depois de o ler, a fome passa a ter outra dimensão...
Antes pelo contrário, a obra de Primo Levi é um livro fundamental que se deve ler antes de dormir, ao acordar, antes e depois de comer. Porque, por isso mesmo, incomoda, choca, desassossega. Conceitos e realidades tão básicas para cada um de nós como os amigos, o trabalho, o descanso, a comida, a doença, a distância entre a vida e a morte são mostradas de uma forma inconcebível para qualquer homem livre. Este e outros livros da chamada "literatura concentracionária". Não para leitura sistemática, mas que deveria constar, de tempos a tempos, das escolhas literárias de cada um.
PS - Outras obras do género que recomendo: O Comboio da Morte, Os Médicos Malditos, Os Médicos do Impossível e, muito especialmente Os Feiticeiros do Céu, todas de Christian Bernadac. Desafio quem quer que seja minimamente consciente, depois de ler qualquer destes livros, a contar, com alguma vontade de rir, um certo tipo de piadas...
Deste lado da cortina de fumos, é assim que se tem mostrado a Lua nos últimos dias. De dia, também o Sol apresenta um tom avermelhado, e não apenas quando se põe.
Quando por cá não houver mais nada para arder, a Lua e o Sol ganharão as suas cores habituais...
PS - "Quando o homem queimar a última árvore, poluir o último rio e matar o último peixe, descobrirá que o dinheiro não serve para comer." Penso muitas vezes neste provérbio índio. Cada vez é mais sinistramente real. E mesmo no nosso cantinho, cada vez parecemos estar mais alheios à sua mensagem.
Dentro de três dias, se as coisas correrem como o previsto, começará a retirada dos 21 colonatos israelitas de Gaza e de mais quatro no norte da Cisjordânia. Os ânimos estão há muito exaltados em Israel. E têm crescido sempre, desde o anúncio do plano de retirada, há vários meses. Centenas de colonos e seus apoiantes têm tentado entrar nas colónias a ser desmanteladas, para impedir a operação.
A semana passada, um soldado extremista disparou sobre os passageiros de um autocarro numa cidade árabe do norte de Israel, a fim de desencadear confrontos que desviariam os soldados que devem assegurar a prossecução do plano. Morreram 4 passageiros e mais de 20 ficaram feridos. O soldado foi depois linchado até à morte, pela população em fúria.
Quando estive em Jerusalém em Maio passado, eram bem visíveis as divisões causadas pelo "disengagement". Por todo o lado, se viam as fitas cor de laranja, a cor dos opositores da retirada. À porta da estação central de autocarros da capital, raparigas judias religiosas, cumpriam a sua parte no esforço por angariar gente e fundos para a sua causa. Tinham montado uma banca no passeio, onde vendiam pulseiras de borracha, fitas, crachás e bandeiras. Tudo no mesmo tom invariavelmente laranja fluorescente. Os carros andavam engalanados com bandeiras nacionais e os apoiantes dos colonos acrescentavam à bandeira a tal fita. Alunos das escolas usavam-nas atadas na pega das mochilas. Alguém se tinha esforçado muito para mostrar a sua oposição ao plano, pendurando a dita cuja nos fios eléctricos, bem no meio das ruas e avenidas.
Eu, que sou a favor da retirada - peca por tardia, mas mais vale tarde que nunca -, também consegui arranjar uma dessas fitas, sem ter contribuído para a causa. Encontrei-a perdida, à beira da estrada que liga Belém a Jerusalém. Curioso sítio para encontrar tal símbolo, já que a estrada corre em "território ocupado" não longe do checkpoint e do "muro" à entrada de Belém e serve de acesso a vários dos colonatos mais militantes.
É óbvio que o "disengagement" não é o fim da retirada. Outros planos de retirada se seguirão. Não pode ser de outro modo. Ninguém no governo de Israel, por mais militante sionista que seja, acredita que os Palestinianos irão dar pulos de alegria por terem 300 quilómetros quadrados de dunas e esgotos a céu aberto (é isso que é Gaza, nada mais) para fazer o seu Estado.
As divisões na sociedade israelita são profundas, apesar de a maioria se manifestar a favor da decisão de Ariel Sharon. Mas abandonar a porcaria de Gaza e de 4 pequenas comunidades da Margem Ocidental, com o realojamento de pouco mais de 7000 colonos até parece fácil, face ao desafio que será abandonar a Margem Ocidental em peso, onde vivem mais de 100 mil israelitas.
Há poucas semanas ouvi a posição oficial do governo israelita em relação ao plano, pela voz do embaixador em Portugal. Na altura, das pessoas presentes, só uma se manifestou declaradamente a favor da retirada. Com a sua experiência e autoridade de antigo militar de elite que passou os 3 anos de tropa numa unidade de tanques exactamente em Gaza, revelou que Israel deveria abandonar todos os territórios ocupados em 1967: Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Isso traria, de acordo com as suas palavras, a paz para Israel.
Infelizmente, não tenho soluções que ache que sejam milagrosas, ou mais ou menos definitivas. Não consigo conceber nenhuma ideia que seja capaz de, definitivamente, parar com a violência e resolver o conflito com justiça e equilíbrio. Tenho esperança que, mais cedo ou mais tarde a paz chegue.
Recebi isto por email.
Animado pelo anúncio da recandidatura de Mário Soares à Presidência da República, o nosso querido Eusébio já confirmou o seu regresso à Selecção.
Por seu turno, António Calvário começou a ensaiar o tema que vai levar ao Festival da Eurovisão de 2006.
No caso de Rosa Mota, a atleta portuense reconhece não ter tempo para se preparar devidamente para os Jogos Olímpicos, a disputar em Pequim, em 2008, pelo que resolveu adiar o seu regresso para os Jogos de Londres em 2012, onde participará na Maratona.
Tinha de o partilhar. Aqui, em vez de encher as caixas de correio da malta.
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