Israel é um país coberto de plástico. Os israelitas são viciados em PET, poliuretano, esferovite e derivados. Louça e talheres descartáveis são a moda nas refeições de Shabbat. As toalhas de mesa são cobertas por uma manga de plástico e no fim da refeição simplesmente deitam-se os restos com as louças e os talheres para o caixote. Muito práctico.
Eu, habituado à separação de embalagens em Portugal - confesso que é a única coisa em que sou manifestamente ultra-ortodoxo - deparo-me com um retrocesso de anos nos meus hábitos mais básicos do dia-a-dia: deitar sacos de lixo sem qualquer separação para o contentor. E se me custa! Por inúmeras razões.
Primeiro, acho importantíssimo o cuidado com o ambiente. Daí depende não só o nosso futuro, mas também o nosso presente mais são. Depois, por questões económicas: há que ter sentido práctico.
Ora, Israel (ainda mais que Portugal) é um país muito pobre em termos de recursos naturais. Petróleo e gás existem, mas em quantidades insignificantes. (Há poucos meses foi descoberta uma jazida de gás natural ao largo da Faixa de Gaza que será explorada por uma empresa britânica.)
De um modo geral, matérias-primas têm de ser importadas. Petróleo e derivados são importados de longe, apesar da ironia de os maiores produtores de petróleo do mundo serem vizinhos de Israel. É que, esses vizinhos que nadam em petróleo boicotam Israel e assim a fonte de combustíveis tem de ser procurada mais longe. Tudo isto acarreta custo enormes ao país.
A única coisa que consigo salvar para reciclagem são as garrafas de plástico, para as quais há uns contentores aqui e acolá. Todavia, parece ser um acto tão pouco habitual que, há poucos dias, um dos meus professores, ao ver-me levar um saco de garrafas para o 'ecoponto' me chamou tzadik*!
No Judaísmo existe a ideia de Tikkun Olam - reparar o Mundo. A ecologia acaba por ser uma das formas mais básicas de atingir esse princípio.
PS - 'Uma pessoa cujos méritos ultrapassam a sua iniquidade é um tzadik'. (Mishnê Torá). O Talmud diz que, em cada momento há 36 tzadikim a viver entre nós e é por eles que o mundo não é destruído.
Confirmo a ideia existente em Portugal de que os brasileiros conhecem muito mal os portugueses. O portuga é o sujeito de inúmeras anedotas brasileiras. O ignorante, bruto e simplório por excelência.
Entre quase uma dezena de brasileiros que estuda aqui na yeshiva, todos têm do português a imagem do Manuel dono de uma padaria, cuja família provém de alguma aldeola perdida no meio de Portugal. Para eles, as mulheres portuguesas têm buço e cabelos nos sovacos.
Música portuguesa conhecem pouca ou nenhuma, simplesmente porque, segundo me disseram, as rádios no Brasil não passam a música Made in Portugal. Mas se, por algum acaso ouviram falar de música portuguesa, foi Fado.
PS - Hoje (6 de Dezembro) mudou-se mais um aluno para o meu quarto. Todas as camas ocupadas. Agora somos seis, dois israelitas, dois brasileiros, um português e o recém-chegado francês. Por cá, os franceses têm a fama de sujos e barulhentos. Vamos a ver se se confirma o estereótipo...
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