Com a situação financeira em que me encontro - com a perfeita consciência que tenho de ser bem poupadinho e evitar as despesas supérfluas, de vez em quando, quando caminho pelas ruas, penso que vou encontrar algum dinheiro perdido. Porque não? Tive dias em que cheguei a encontrar... 1 ou dois shekels. Confesso que nunca ponho grande fé nessa possibilidade, mas, pode ser que...
Hoje foi um desses dias. Quando caminhava para o trabalho pus a fasquia nos 50 shekels (pouco menos de 10 euros). Não fiz a coisa por menos.
Até chegar ao trabalho: moedinhas ou notas perdidas nos passeios, não vi nada. Assim que comecei a trabalhar, chegou-se um rapaz morador no edifício onde trabalho e disse-me que deveria limpar esta semana o jardim do prédio.
Já trabalho naquele lugar há mês e meio e nunca tinha limpo o jardim. Para o pouco que recebo, bem me chegam as escadas para me cansar. Bem, e aquilo não é jardim, coisa nenhuma. É uma área em que metade é cimentada e a outra é um matagal seco. Tudo imundo, com sacos e garrafas e copos de plástico, papeis e folhas de árvores. Uma felga.
Aí lembrei-me de que se limpasse o tal jardim receberia mais 75 shekels. A Torá ensina a não esperarmos milagres, incluindo possivelmente, dinheiro no caminho. Está certo que foi mais uma hora que tive de trabalhar, mas não ganhei 50 shekels caídos - do céu - no caminho. Ganhei 75 a enrijecer os calos das mãos. Deus é realmente bom.
Uma série de organizações de esquerda, com o selo de garantia do Bloco de Esquerda e do PCP, convocou uma manifestação contra Israel (quem mais?) na cidade do Porto. Razão: a exigência do "fim da agressão à Palestina, dos bombardeamentos ao Líbano e do terrorismo de estado de Israel". Quanto aos bombardeamentos do Hezbollah no norte e Israel e do Hamas no sul de Israel a partir de Gaza, nem uma palavra.
Ainda, os factos que despoletaram a actual situação - o rapto de soldados pelo Hamas e pelo Hezbollah, merecem umas eloquentes aspas. Para um tal de Movimento pela Paz, Israel "procede metodicamente ao aniquilamento de dois países - a Palestina e o Líbano", "a pretexto do que chama 'rapto' de três dos seus soldados", ao mesmo tempo que "milhares de palestinianos e libaneses jazem nas masmorras israelitas".
É verdade que há milhares de libaneses e palestinianos presos em Israel, alguns mesmo condenados a prisão perpétua. Mas nenhum deles lá foi parar por ajudar velhinhas a atravessar a rua ou por ter roubado chupa-chupas na mercearia da esquina.
É que, em Israel, terrorismo resolve-se com mão de ferro. Não há outra forma. Ao contrário de Portugal, onde a pretexto de um passado "heróico-revolucionário-antifascista" se fecharam os olhos aos crimes de alguns senhores das FP-25 como Otelo Saraiva de Carvalho e respectiva pandilha, os quais, após uns mesinhos na prisão, lá saíram em liberdade e de nariz erguido e hoje andam aí a falar às televisões como se tivessem a folha limpa...
Mas isso não interessa nada, como diria a outra senhora.
Um artigo corajoso e em sentido contrário da maioria da opinião pública na Europa. Da autoria do professor universitário português Luciano Amaral. Publicado no Diário de Notícias, no passado dia 20 de Julho.
A guerra por procuração
Era de prever que um dia o Médio Oriente regressasse à violência explosiva da última semana. E era também de prever que, num contexto semelhante, logo se erguesse o habitual coro de vozes contra Israel - neste caso, por causa da sua reacção "desproporcionada". Não é evidentemente bonito o espectáculo desta brutal ofensiva militar. É mesmo trágico. Mas não perceberá o chamado conflito israelo-árabe quem não perceber que essa brutalidade sempre foi a condição de sobrevivência de Israel. Israel é uma espécie de palhaço pobre da cena política internacional, a quem toda a gente se sente autorizada a dar lições, por cima de reprimendas a pretexto dos seus presumíveis disparates ou injustiças.
A esta luz, pouco importa o que dizem e fazem os seus inimigos. O Hamas não reconhece o direito de Israel a existir e está vocacionado para a sua destruição. O Líbano não reconhece o direito de Israel a existir e vive refém de um sinistro movimento terrorista (o Hezbollah), cujo propósito é a destruição do Estado de Israel. Para além de alvo perpétuo de actos terroristas, agora um pouco mais rarefeitos - será que o novo "muro da vergonha" terá alguma coisa que ver com isso? -, Israel é também vítima permanente de ataques militares, tanto a partir do Sul do Líbano quanto da Faixa de Gaza. Perante isto, o conselho que se lhe costuma dar é que esqueça esses pormenores e continue a oferecer mais ou menos tudo o que pode em troca de pouca coisa, ou mesmo coisa nenhuma.
Em 2000, Israel retirou do Sul do Líbano, onde mantinha uma zona-tampão que servia de segurança contra ataques na fronteira norte. Seria de esperar que, do outro lado da fronteira, se seguisse em consequência a contenção e a aceitação desse passo como o princípio de uma nova situação duradoura. A única coisa que aconteceu, porém, foi a intensificação da ocupação pelo Hezbollah, munido dos seus famosos rockets, cada vez mais sofisticados - os últimos de lá lançados na passada semana foram mais longe do que quaiquer outros anteriores, atingindo mesmo a terceira cidade do país, Haifa.
Em 2005, Israel saiu da Faixa de Gaza, também na esperança de que isso fosse visto como um passo arriscado mas positivo em direcção a uma solução para o conflito. Mais uma vez se deveria esperar aqui alguma moderação do outro lado. Muito pelo contrário, Gaza foi-se transformando nos últimos meses numa espécie de segundo vale de Bekaa, com os ataques de rockets a aumentar quotidianamente.
Quem se queixa das acções "desproporcionadas" de Israel, e que será certamente simpatizante da chamada "causa palestiniana", talvez devesse então pedir aos representantes e apoiantes internacionais da dita que aceitem finalmente o direito de Israel a existir. Como é evidente, qualquer princípio de negociação séria só pode ocorrer a partir desse instante. Israel existe hoje, não graças a resoluções da ONU ou sofisticados conselhos das chancelarias internacionais, mas porque venceu todas as guerras que os seus vizinhos hostis coligados lhe lançaram desde o exacto primeiro dia da sua existência em 1948. Estas vitórias não puderam obviamente ser obtidas sem uma certa brutalidade.
Israel é um pequeno país de seis milhões de habitantes, rodeado por uma colecção de países hostis que, somados, chegarão quase aos 400 milhões de pessoas. Até agora incapazes de vencer Israel militarmente, estes vizinhos árabes apostaram, para manter vivo o anti-sionismo, na instigação da intransigência dos movimentos palestinianos. É do meio disto tudo que sobra, de facto, a tragédia do povo palestiniano. Se Israel se preocupa pouco com ele, menos se preocupam ainda os seus supostos apoiantes, que o usam como mera massa de manobra anti-israelita. A última coisa que lhes interessa é a moderação palestiniana.
É o caso do Irão, o criador e grande patrocinador do Hezbollah e mais recente sponsor do Hamas. Não haja dúvidas. Por debaixo da cor local, o que neste momento ocorre no Líbano é uma guerra por procuração entre o Irão e os EUA. A mesma na qual os EUA andam a evitar a todo o custo envolver-se directamente.
O Irão continua a ridicularizar os planos ocidentais de restrição ao seu programa nuclear, e a guerra indirecta que declarou a Israel permite-lhe desviar as atenções internacionais. Os EUA, desprovidos de outros aliados capazes de os ajudarem no ordenamento político internacional (graças ao estado de beatitude irresponsável dos países europeus) socorrem-se do único povo "ocidental" que ainda sabe fazer a distinção entre amigo e inimigo.
Talvez até já seja tarde, mas a única coisa que há a esperar é que esta Quarta Guerra de Israel corresponda à acção preventiva necessária para restaurar alguma ordem nas fronteiras israelitas e devolver o Irão a uma certa humildade. É muito importante que seja bem sucedida, até porque é muito mais do que apenas isso o que está em causa.
Desde o rapto de dois soldados israelitas pelo Hezbollah, Israel ganhou o direito de ripostar sobre o movimento terrorista libanês, que é apoiado pela Síria e o Irão.
O governo de Israel, através de uma operação militar em larga escala com o objectivo de acabar de vez com o Hezbollah, poderia além de terminar com a ameaça terrorista na fronteira norte, ainda ter ganho o reconhecimento da maioria do povo libanês. Poderia. Todavia, por uma série de decisões tácticas erradas, não o conseguiu.
A decisão de partir para uma vaga de destruição, com a escolha errada de alvos, tira uma grande parte da legitimidade do ataque de Israel. Alvos como pontes, estradas, portos e o aeroporto de Beirute não são alvos que se possam reclamar - sem contestação - como "alvos legítimos". Em termos militares pode alegar-se que a partir desses pontos, o Hezbollah pode, por um lado, receber reabastecimentos, por outro, permitirem que retirem do Líbano os soldados sequestrados. Em termos humanos e de política externa, essa decisão é um desastre.
O pânico gerado pela onda de ataque israelita na população libanesa e nos milhares de estrangeiros, tanto trabalhadores como turistas, terá minado o apoio que a decapitação do Hezbollah teria suscitado na população do "país dos cedros". O próprio primeiro-ministro libanês Fuad Siniora disse reconhecer que a Síria e o Irão têm influência no que se passa no país, e que os bombardeamentos israelitas apenas farão aumentar a popularidade do Hezbollah no Líbano.
Olmert e o governo de Israel deveriam ter aproveitado o facto de o próprio governo libanês desejar livrar-se do Hezbollah e ainda mais de este último ter apenas o apoio local dos xiitas, sendo os muçulmanos sunitas e a metade cristã da população libanesa totalmente contra o movimento pró-iraniano.
As bombas caídas num bairro cristão de Beirute - onde dificilmente encontrariam refúgio terroristas do Hezbollah - não destruíram apenas vidas e edifícios. Destruíram um apoio vital que já havia existido a favor de Israel em 1982, quando o exército israelita invadiu o Líbano para terminar com os ataques contra a Galileia, após o país se ter tornado um abrigo para a OLP e campo de treino para os seus terroristas. A história parece estar a repetir-se. Infelizmente.
É verdade que a opinião pública israelita exigia uma resposta dura sobre o Hezbollah, mas a oposição a uma resposta como a que tem sido dada já se faz sentir em Israel.
Em tempos de guerra, uma das coisas mais extraordinárias do espírito humano é a capacidade que as pessoas têm de se adaptarem à situação. Há uma adaptação de tal modo forte que até deixam de lhe chamar guerra e passam a chamar-lhe exactamente "situação".
Em Jerusalém as coisas continuam como em todos os dias. É verdade que, até agora, não chegaram aqui os katiushas do Hezbollah, mas Israel é um país muito pequeno e o que acontece na Galileia (norte) é apenas a pouco mais de uma hora de carro de Jerusalém. Tudo é muito próximo.
Durante uma guerra, o modo como as pessoas se divertem, mostra muito a sua força de espírito. Há poucos dias passei pela Baixa de Jerusalém à noite. Tive um duplo espanto. Para além de ter ficado a saber que os bares da parte ocidental da Cidade Santa funcionarem também na noite de Shabbat, vi que os jovens de Jerusalém e os milhares de turistas que ainda cá estão, não cedem ao ambiente de tensão nacional e insistem no seu direito a divertirem-se, a dançar, a beber as suas cervejas, a conversar e passear à noite pelas ruas.
Mesmo que as chovam as bombas, há que continuar vivendo.
Shir Ha'maalot (Canto de ascensão). De David.
Elevarei os meus olhos às montanhas, de onde virá a minha ajuda? Pelos habitantes de Haifa e das outras cidades da Galileia. Pelas gentes de Beirute e do Líbano. Pelos soldados israelitas raptados. Pelos soldados que estão neste momento mobilizados. Pelas suas famílias angustiadas.
A minha ajuda provém do Eterno, criador do céu e da terra.
Não deixará resvalar o teu pé, nem se adormecerá o que te guarda.
É aqui que não adormecerá e não dormirá o guardiâo de Israel.
O Eterno é o teu guardião.
O Eterno é a tua sombra sobre a tua direita.
De dia o sol não te ferirá nem a lua de noite.
O Eterno cuidar-te-á de todo o mal; cuidará da tua alma.
O Eterno cuidará a tua saída e a tua entrada desde agora até à eternidade.
Depois do choque causado pelo rapto do soldado Gilad Shalit na Faixa de Gaza, hoje, a atenção da sociedade israelita vira-se para a fronteira norte, com o Líbano. Numa aparente manobra de engodo, guerrilheiros do Hezbollah dispararam a partir de território libanês para uma posição israelita. Os soldados terão decidido passar a fronteira para responder ao fogo. Nessa altura dois soldados israelitas foram raptados pela guerrilha pró-iraniana e mortos outros três.
Na operação que se seguiu para resgatá-los, foram mortos outros quatro soldados na explosão de um carro armadilhado. A liderança do movimento libanês declarou que os soldados sequestrados só serão entregues numa troca por prisioneiros árabes nas prisões israelitas. Fala-se já de guerra. Espero que sejam apenas declarações "a quente"...
O problema é que guerra é exactamente aquilo que o Hezbollah quer. Os terroristas alimentam-se e fortalecem-se quando os seus alvos decidem virar-se contra si. Veja-se o que se passou no Iraque com a Al-Qaeda. A cada manobra militar americana, mais os terroristas ganham adeptos, mais aumenta por todo o mundo árabe e muçulmano a oposição à presença militar americana no Iraque e no Afeganistão.
Uma nova guerra no Líbano para além de fazer ganhar popularidade ao Hezbollah nas massas árabes, ainda iria fazer agravar as ameaças nucleares iranianas contra o Estado de Israel.
Por outro lado, a opinião pública israelita exige ao governo de Ehud Olmert uma acção enérgica para resolver tanto a situação do soldado sequestrado em Gaza, como aos soldados raptados entretanto. Exige-se uma justificação de políticas. Após a saída de Gaza, com o argumento que essa manobra iria aumentar a segurança em Israel, verificou-se, pelo contrário, um aumento da actividade terrorista palestiniana naquela região. Foguetes Qassam do Hamas caem diariamente sobre Sderot e outras cidades israelitas próximas de Gaza.
Os planos de construção de casas de palestinianos nos terrenos dos antigos colonatos não foram levados adiante, apesar da situação grave da falta de habitações na sobrepovoada Faixa de Gaza - um dos locais com maior densidade populacional do planeta - não se concretizaram. Infra-estruturas construídas por Israel para os seus colonos e deixadas intactas aquando da retirada, tais como escolas, centros médicos e outras instalações civis foram entretanto vandalizadas pelos habitantes que delas deveriam usufruir após a retirada israelita.
Outro dado que também fala por si: 70% da população de Gaza defende o sequestro do soldado israelita e é contra a sua entrega, apesar das consequências severas que essa acção tem causado para os habitantes da Faixa de Gaza, como a quebra no abastecimento de água e luz.
Inegável é todavia, a legitimidade do governo de Israel para tomar medidas para resolver a situação. Que medidas e se realmente resultam, essas são as grandes questões que se impõem nesta altura.
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