No próximo Domingo vou mudar de casa. Deixo o lugar que foi o meu lar durante quase um ano, a yeshiva Machon Meir. Não vou para muito longe, apenas a 20 minutos de autocarro, até à Cidade Velha de Jerusalém.
Não é fácil deixar para trás o lugar onde aprendi realmente a ser um judeu comprometido. Foi com esta bagagem que me aguentei mais de um mês em Portugal, fora de um ambiente judaico. Antes de entrar para o Machon Meir, por exemplo, apenas por uma vez tinha passado um dia em que havia feito as três orações diárias requeridas pelo Judaísmo. Rezar com minyan e estudar Torá passou a fazer parte do meu dia-a-dia. Judaísmo autêntico.
Desde o primeiro dia fui tratado com todo o respeito e o facto de ainda não ser judeu, nunca foi obstáculo para os estudos. Aqui, judeus e futuros-judeus estudam sem qualquer separação. Desde o início que a maioria passou a chamar-me logo pelo meu nome judeu - Boaz -, o nome que já havia escolhido, meses antes de completar o processo de guiur (conversão).
Foi de entre os estudantes da yeshiva que escolhi aquele que seria o meu sandak - a pessoa que me acompanhou durante a operação/cerimónia de circuncisão - uma espécie de padrinho. Foi cá também que recebi os primeiros abraços no dia em que completei o meu guiur.
Todavia, nem tudo foi fácil na vida na yeshiva. O pior foi mesmo ter de abdicar da privacidade e obrigar-me a ser um pouco condescendente com a falta de arrumação dos companheiros de quarto. Ter de aturar os muitos "loucos" que tenho por colegas e vizinhos. Tanto assim que um dos lemas em tom de piada entre os estudantes cá do sítio é: "o manicómio tem inveja da yeshiva". Mas é um lugar deveras especial.
Quando comuniquei ao favorito dos meus professores a minha saída próxima, ele mostrou-se triste com a perspectiva da minha saída. Que melhor reconhecimento poderia receber eu da parte de um sábio? O director do programa de lingua espanhola - do qual fiz parte durante a minha estadia na yeshiva - comentou nestes termos a minha saída: "É pena. Vai-se um dos baluartes do nosso departamento..."
Estas palavras enchem-me de orgulho, mas também são um peso que levo às costas para a nova yeshiva. Um fardo de responsabilidade que não quero nem posso desprezar. Apesar de mudar de casa e acima de tudo de lugar de estudo, quero continuar a merecer os elogios e a consideração dos mestres que deixo. O nível que me vai ser exigido na nova yeshiva é bem mais alto do que aquele que experimentei nos últimos meses.
Ainda não sei o que me espera. Não sei se os estudos que vou iniciar na próxima semana serão parte de um plano definido de vida, para além da obrigação de qualquer homem judeu de estudar Torá. Afinal, como ensinam os sábios: "o estudo da Torá vale por todas as outras mitzvot".
Para a última festa do Avante!, o PCP convidou a revista Resistencia, que não é mais que um dos veículos da propaganda das FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O facto causou um embaraço diplomático entre Portugal e a Colômbia, uma vez que essa organização está na lista das organizações terroristas feita pela União Europeia. Mas esse embaraço é o menos mal de tudo isto.
O PCP defendeu que a presença da voz oficial da guerrilha colombiana, pretendendo assim «denunciar as tentativas de criminalização da resistência ao grande capital e ao imperialismo e para reiterar a sua frontal oposição à classificação pelos EUA e União Europeia das FARC, uma organização popular armada que há mais de 40 anos prossegue, entre outros objectivos, a luta pela real democracia na Colômbia e por uma justa e equitativa redistribuição da riqueza, dos recursos naturais da Colômbia e da posse e uso da terra, como organização terrorista.»
Até onde chega a demência destes senhores? E os massacres contra populações civis perpetrados pelas FARC? Os raptos, como da deputada ecologista e pacifista Ingrid Bettencourt, raptada há mais de 40 meses por aqueles que o PCP chama de lutadores pela liberdade... Além disso, para se financiar, além de raptos e do subsequente pedido de resgate dedica-se à produção de drogas.
Mas isso, claro, faz parte da sua luta «por uma justa e equitativa redistribuição da riqueza, dos recursos naturais da Colômbia e da posse e uso da terra».
Em nome de quê se continua a permitir que uma organização política com esta postura continue a existir e a propagandear-se? Não falo das FARC, falo do PCP.
Recebi o comentário de uma amiga portuguesa acerca da frase que encabeça este blog: "Se os árabes baixarem as armas, acaba-se a guerra. Se Israel baixar as armas, acaba-se Israel."
Perguntava-se ela: "Não deveríamos ser todos pela Paz?". Claro que sim, mas a verdade é que, quando se vive aqui, tem-se uma outra perspectiva das coisas que em Portugal ou qualquer outro país passa ao lado. A paz e a bondade são fundamentos essenciais do Judaísmo. Como diz o Talmude: a Torá (Pentateuco) começa com a bondade de Deus cobrindo a nudez de Adão e termina com Deus sepultando Moisés.
No entanto, Paz não pode ser apenas um ideal separado da realidade. Há que ter a consciência do que significa realmente e o que se pode fazer para atingir uma "paz autêntica". Não aquilo que é na verdade um estado passageiro de ausência de guerra.
Em Israel, chama-se muitas vezes aos bonzinhos de coração ashrei ha'maamim, ou seja "bem aventurados os crentes". Num sentido em que muitos dos que acreditam na bondade a todo o custo, não passam de ingénuos. A realidade em Israel não é, para o bem e para o mal, igual à do resto do Mundo.
Obviamente, eu também sou pela paz. Mas, não tenhamos ilusões, Israel vive na corda-bamba e se não se defender com todas as suas armas, depressa será esmagado. Sejamos honestos. Quantos passos deram os Árabes em direcção à paz com Israel, nos quase 60 anos de existência deste país? A negação árabe à ideia e ao projecto do Estado de Israel começou ainda o país não passava de um esboço num papel. Logo no primeiro dia de vida da Israel independente, em 14 de Maio de 1949, ainda o povo dançava nas ruas de Tel Aviv pela Declaração de Independência, já os exércitos de cinco países árabes se alinhavam nas fronteiras do novo estado a fim de o matar à nascença.
Se esperar pela ajuda e compreensão estrangeira em relação à sua defesa, Israel arrisca-se a desaparecer. O diálogo, a negociação são importantes e sem eles não se atingirá a ansiada paz. No entanto, Israel já experimentou por várias e trágicas ocasiões o que significa e onde tem levado o diálogo com o lado árabe do conflito. Casos não faltam.
Veja-se o Egipto, o primeiro país árabe a fazer as pazes com Israel, nos tempos de Anwar al-Sadat. Apesar do acordo de paz, da completa ausência de conflito bélico entre os dois Estados e da activa cooperação egípcia na resolução do conflito com os Palestinianos, basta ver os manuais escolares egípcios e ler o que têm sobre Israel. O hoje habitual ódio árabe contra Israel continua a ser propagado às novas gerações, mesmo num país onde ao menos ao nível político parece haver concórdia.
Desta forma, até quando durará a actual situação de não agressão entre o Egipto e Israel? Quando o poder actual for substituído por algum "inculturado" nesse ódio, como ficará esta relação? Nos recentes atentados contra estâncias turísticas egípcias no Sinai - Taba, Dahab e Sharm el-Sheikh - alguns ditos "analistas" egípcios depressa apontaram israelitas como os culpados pelos ataques. A paranóia anti-israelita vai ao nível de, num recente julgamento de homens homossexuais, uma das acusações apresentadas (verdadeiras ou falsas, não sei) foi que eles haviam ido aos "antros sodomitas de Tel Aviv". Como se o Cairo não tivesse suficientes "antros". Mas Israel é o tradicional bode expiatório de todos os problemas de qualquer país e cidadão árabe, porque não também a fonte da homossexualidade de alguns?
Até a ajuda e cooperação aparentemente incondicional dos EUA não é certo que dure eternamente. No Partido Democrata americano muitas vozes dominantes já opinam que o apoio americano a Israel tem sido prejudicial aos interesses americanos. No Partido Republicano, tradicionalmente o mais pró-Israel, dominado por evangélicos e outros cristãos tradicionalistas que por alguma razão são sionistas ou ao menos "amigos de Israel", também há vozes completamente contra o Estado de Israel. Então, podemos questionar-nos até onde e até quando durará esse apoio? E não tenhamos ilusões, o apoio americano que tanto irrita os árabes e os europeus não é incondicional como se pensa. Exige contrapartidas.
Portanto, Israel na verdade depende acima de tudo de si mesmo e tem de usar de todo o seu poder para se manter. Disso depende o seu presente e o seu futuro. Não da boa-vontade ou seriedade árabe ou do auxílio americano.
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