Durante os anos de domínio grego, o estudo da Torá foi proibido, para que, esquecendo a Torá, os Judeus deixassem de ser Judeus e aceitassem o domínio helénico, não só a nível político mas acima de tudo cultural e religioso. Após uma guerra em que um pequeno exército de judeus, comandados pelos famosos Macabeus, venceu o poderoso exército grego, o governo judaico foi restabelecido na Terra de Israel. Hannukiot, os candelabros de Hannukah. Yeshivat Hakotel, Cidade Velha de Jerusalém
Ao entrarem no templo profanado pelos Gregos, os Macabeus encontraram intacto apenas um pequeno jarro de azeite para acender o candelabro. Suficiente para um único dia de luz. Porém o azeite durou milagrosamente oito dias.
Hannukah significa inauguração. Os oito dias do "Festival das Luzes" que os Judeus celebram nesta altura lembram o milagre ocorrido no tempo dos Macabeus e a reinauguração do Templo de Jerusalém que havia sido profanado pelos invasores gregos, há mais de 2200 anos.
Os Gregos foram expulsos da Terra de Israel e o curso imparável da História reduziu o seu império a pó. Vieram os Romanos e a ruína acabou por tomar também conta de todo o seu fausto e poder. Como já haviam sido reduzidos os Egípcios, os Babilónicos e os Persas. Todos impérios poderosos. E depois deles, os impérios fundados pelos Cruzados, os Espanhóis, os Portugueses, os czares russos e os Nazis.
Apesar do seu poder e de todos terem lutado em enorme superioridade numérica contra os Judeus, a todos o Povo de Israel resistiu e sobreviveu.
Porque a luz sempre consegue vencer as trevas. Hannuka é a afirmação da certeza dessa vitória.
Recentemente, um grupo de estudantes americanos da Yeshivat HaKotel foi de viagem à Polónia. No passeio de uma semana visitaram locais que representam alguns dos momentos mais gloriosos da história judaica e também dos mais trágicos.
Das estreitas ruas de Kazimierz, o antigo bairro judeu de Cracóvia, onde viveram durante séculos inúmeros rabinos que escreveram obras fundamentais do saber judaico. E a menos de 50 quilómetros de distância, o arame farpado, os pavilhões de madeira e as ruínas das câmaras de gás de Auschwitz.
Poucas semanas depois da viagem dos americanos, foi a vez de um colega brasileiro fazer a mesma "peregrinação". De volta a Jerusalém, descreveu a experiência como uma viagem a não repetir. «Foi impressionante, mas nunca mais volto àquele país», disse. «Foi como andar num ambiente de filme de terror. Tudo era fantasmagórico.»
Wroclaw, Polónia (antiga Breslau alemã), o velho cemitério judeu, 2004
Experiências como estas fazem parte de um já instituído ritual de passagem para os jovens em Israel: a viagem a um passado algumas vezes brilhante, mas acima de tudo de desgraça. Uma destas iniciativas, destinada também a jovens judeus de todo o mundo é chamada muito adequadamente, "Marcha dos Vivos". Inclui uma viagem de uma semana pela Polónia e depois outra semana em Israel. Na mente dos jovens, invariavelmente fica impressa a mensagem de que o lugar dos judeus é, agora e sempre, em Israel.
Muitos pais israelitas são reticentes em relação a estas iniciativas. Porquê regressar às ruínas e reviver um passado macabro? Mais, porque ainda hoje vivem actualmente em Israel cerca de 200 mil sobreviventes da Shoa. Avós de alguns desses jovens.
Para lá da perspectiva pedagógica, do lado religioso também há objecções. Na Torá, quando o Povo de Israel saiu do exílio do Egipto, Deus ordenou-lhes que nunca mais voltassem àquela terra. Pela escravatura sofrida na terra dos Faraós, nunca mais o Povo de Israel poderia viver naquele país. Ora, pelo mesmo princípio, dada a violência sofrida pelos Judeus na Polónia, alguns rabinos defendem que os Judeus nunca mais deveriam viver aí.
No entanto, parece ser exactamente o contrário que está a passar-se. A comunidade judaica está em expansão na Polónia. Isto depois do Holocausto - em que mais de 3 milhões de Judeus polacos foram chacinados - dos vários massacres ocorridos poucos meses após a guerra, que terão feito 2 mil vítimas mais e dos 50 anos de domínio comunista. No pós-guerra o anti-semitismo não deixou de ser propagado e a negação da colaboração dos polacos com os nazis foi política oficial.
Casos como o de Jedwabne - uma aldeia onde todos os seus habitantes judeus, cerca de 1500, foram assassinados num só dia, a 10 de Julho de 1941, pelos próprios vizinhos polacos em ajuda aos ocupantes nazis - foram abafados. A imagem que foi sendo passada foi a de que os polacos foram apenas vítimas, e não perpetradores ou sequer colaboradores.
Desde a derrocada do regime comunista assiste-se a um revigorar da vida judaica na Polónia. Após décadas de vida em segredo - para evitar reavivar velhos ódios - em que pais esconderam dos próprios filhos a sua identidade judaica, mais e mais judeus (especialmente os jovens) se revelam, enfrentando uma sociedade onde, de tempos a tempos, se repetem casos de anti-semitismo.
Casos como o ocorrido com o rabino-chefe Michael Schudrich, atacado a murro e com spray-pimenta numa rua de Varsóvia, a profanação de antigos cemitérios ou os grafitis que se repetem nas fachadas das sinagogas.
O tal colega brasileiro que fez a viagem revelou que, desde a chegada ao aeroporto de Varsóvia e um pouco por toda a viagem, a reacção das pessoas à presença visível de um grupo de judeus, não se mostrou muito amistosa. Com frequência ouviam comentários pouco simpáticos.
É neste ambiente que se encontra uma pessoa muito especial para mim: o rabino Boaz Pash, actual rabino de Cracóvia e que serviu como rabino em Lisboa durante 2 anos. Interrogado porque aceitou a missão de ser rabino num país com um registo tão trágico e em que o presente tampouco é risonho para os judeus, respondeu à boa maneira judaica, com outra pergunta: «Sabem o que é um met mitzvá?»
Um met mitzvah é um morto que não tem que se ocupe do seu enterro e que não pode obviamente ser deixado sem ser enterrado. Sejam quais forem as circunstâncias, com todas dificuldades e os perigos, os judeus que continuam a viver na Polónia, não podem ser deixados sem assistência.
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