Sexta-feira, 22 de Junho de 2007

Rádio-grafia

Na última quarta-feira, teve lugar na Sociedade Portuguesa de Autores um seminário onde se discutiu a sobrevivência da rádio. Num grupo de gente ilustre da rádio portuguesa, entre os quais Luís Montez, Luís Osório e António Sala, várias vozes vaticinaram o fim da rádio.

O jornalista Luís Filipe Costa disse mesmo que "a rádio vai morrer muito em breve e só a publicidade é que decidirá por quanto tempo é que ela se mantém".

O peso da televisão (em especial pela fatia da publicidade que ela abocanha em detrimento da rádio), a Internet e outras novas tecnologias precipitam o fim da rádio segundo alguns.

Já assistimos há décadas a essa previsão da desgraça da rádio. Quando surgiu a TV na década de 1930 a rádio foi enterrada. Hoje, vemos que há mais rádios do que em qualquer outra era no passado. Nem todas bem de saúde, mas subsistem.

A Internet vai matar a rádio? Não creio. Acho mesmo que a Internet vai ser a definitiva alavanca para o futuro risonho da rádio. Afinal, hoje através da Internet, podemos ouvir uma rádio bem para lá dos confins das ondas hertzianas. Até as rádios locais, estando disponíveis on-line, tornaram-se media de alcance planetário.

Parece que, como disseram, que o futuro da rádio depende apenas da vontade da publicidade em manter este suporte – aliás, vejamos as coisas com clareza, isso é o que já acontece há muito tempo, na esmagadora maioria das rádios privadas.

Creio é que publicidade terá de descobrir as novas oportunidades surgidas com a rádio on-line.

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publicado por Boaz às 17:04
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Quinta-feira, 21 de Junho de 2007

Batatinhas contra o boicote

Parece que duram os boicotes das universidades inglesas contra as universidades e professores israelitas, e da União dos Jornalistas Ingleses contra os produtos israelitas. Há já algumas décadas que dura o boicote de muitos países árabes a tudo o que tem a ver com Israel.

Mas a realidade tem destas ironias e Israel, mesmo sem nadar em petróleo e sob o embargo do Mundo Árabe, nas últimas décadas cresceu ao ponto de ser um dos países mais desenvolvidos do Mundo enquanto a generalidade das nações árabes, mesmo ensopadas em petróleo e para lá dos palácios sumptuosos dos seus sultões, príncipes e ditadores, dos hotéis de sete estrelas e outros luxos das Arábias, continuam tão atrasados como sempre foram.

Em alguns países da Europa, grupos de cidadãos organizam boicotes aos produtos israelitas nos supermercados, colando uma muito politicamente correcta etiqueta pró-palestiniana em cada laranja israelita que encontram à venda. É uma espécie de queima-da-sapatilha-indonésia-na-praça-pública que aconteceu há uns anos em Lisboa, em protesto pela ocupação indonésia de Timor-Leste. Salvo a comparação (das ocupações).

Ora, em Portugal não existe nenhum boicote a Israel, mas também é verdade que por cá não é muito comum encontrar bens (marcados como) israelitas à venda. Todavia, sempre se encontra alguma coisa. No supermercado já encontrei pelo menos toranjas, meloas, mangas e batata-doce.

E ainda ontem a minha mãe me disse ter encontrado há uns meses umas batatas israelitas que até eram muito boas.

Ora bem meus caros paspalhos ingleses, à batatada se vence o boicote.

publicado por Boaz às 15:26
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Quarta-feira, 20 de Junho de 2007

A atracção do Oriente

Há dias, de regresso a casa, depois do meu último Shabbat em Lisboa – também o último como cidadão (unicamente) português, quando mudava de linha de Metro na estação do Marquês de Pombal, ouvi alguém falar hebraico.

- 'Slihá'? Como quem diz 'faz favor?', alguém perguntou atrás de mim. Virei-me e dei de caras com um barbudo de turbante. Em hebraico, perguntou-me se eu falava hebraico, ao que eu respondi com um 'caha, caha'. Assim-assim... ainda mais após dois meses sem quase praticar, menos razões para responder com um 'sim' directo.

Perguntou-me se eu era judeu. Julgou que também poderia ser muçulmano, dado que havia uns 'árabes' que também cobriam a cabeça com umas 'toucas' brancas idênticas a kippot. Não, não, sou judeu mesmo.

Fiquei intrigado com o facto de o barbudo de turbante – que eu tinha pescado assim que tinha saído do metro anterior – saber falar hebraico. É que eu sou judeu e já vivi em Israel.

Pelo louro das barbas e os olhos claros e ainda mais pelo sotaque do hebraico, só podia ser russo. Disse chamar-se Baruch. (Abençoado). Resolveu dar-me o número de telemóvel e o endereço de e-mail, que escreveu no meu bilhete de metro. Não havia mais nenhum papel disponível e eu estava com uma pressa enorme para chegar à estação dos expressos.

Acabei por nem lhe escrever nem telefonar, mas Baruch fez-me pensar. Pelo seu modo de se vestir percebi que era sikh – membro de uma religião da Índia que mistura elementos do hinduísmo e do Islão. A barba longa, o turbante (azul, no seu caso) e a pulseira no braço direito. Baruch é apenas mais um caso de um judeu atraído pelo modo de vida oriental. Hinduísmo, sikhismo, taoísmo e especialmente o budismo atraem cada vez mais ocidentais. Judeus incluídos.

Nos Estados Unidos é sabido que uma parte substancial dos adeptos do Budismo são judeus ou de ascendência judaica. O primeiro americano a converter-se ao Budismo terá sido mesmo um judeu, no final do século XIX. Os casos sucedem-se. Alan Ginsberg, fundador do movimento beat dos anos 60, ou o cantor Leonard Cohen são apenas dois exemplos famosos. Alguns tentam fazer uma mistura entre as duas culturas. De uma dessas experiências forjou-se o termo 'JuBu', Judeu Budista, descrita no best-seller The Jew and the Lotus: A Poet’s Rediscovery of Jewish Identity in Buddhist Índia.

Em Israel, milhares de jovens recém-saídos do serviço militar viajam todos os anos para a Ásia, com predilecção pela Índia e a Tailândia. Aí, além das intermináveis 'raves' incensadas a pozinhos psicotrópicos e regadas a álcool nas praias de Goa, têm contacto com as filosofias orientais. Vindos, na maioria, de ambientes pouco ou nada religiosos, muitos ficam seduzidos pelo encanto da meditação, do transe e até da austeridade monástica.


Meditação na floresta, Safed. Da colecção de fotos de haredim de Yaacov Kaszemacher

Para muitos aquela é uma experiência passageira, durante o ano livre até voltarem a casa. Para outros, de regresso a Israel, mantêm os hábitos mais ou menos espirituais adquiridos no Oriente. Muitos, envolvidos pela primeira vez nas suas vidas num ambiente de meditação e religiosidade, acabam até por descobrir as suas raízes judaicas e tornarem-se judeus religiosos.

E finalmente descobrem que o Judaísmo tem também uma riquíssima tradição de meditação.

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publicado por Boaz às 17:23
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Quarta-feira, 6 de Junho de 2007

Silêncios ao som das bombas

Desde há quase duas semanas, que todos os dias ouvimos e vemos nas notícias o regresso da violência em larga escala no Líbano. O exército libanês ataca com toda a sua força as posições de uma tal Fatah al-Islam, um grupo terrorista palestiniano derivado da OLP e com alegadas ligações à Al-Qaeda em dois campos de refugiados. Os sinistros membros desse grupo terrorista fizeram já saber que lutarão até à morte. Como todo o bom terrorista, aliás.

Ao mesmo tempo que a situação se arrasta, não vemos qualquer reacção dos nossos "defensores dos oprimidos" de ocasião. Voltemos então no tempo até Março de 2002 e façamos uma breve comparação.

Na altura, a Europa tinha manifestações umas atrás das outras a condenar Israel por uma acção militar no campo de refugiados de Jenin, onde o exército israelita combatia militantes palestinianos armados. Israel foi, sem piedade, acusado de enormes atrocidades e de matar centenas de civis. Mesmo em Lisboa, frente à embaixada israelita, bloquistas, comunistas e simpatizantes gritaram slogans acusatórios e empunharam cartazes mostrando de um lado, uma inocente e heróica criancinha palestiniana de pedra na mão e do outro, o arrogante e terrível tanque israelita.

"Estes bárbaros são capazes de tudo!" rosnava um músico decadente aos microfones da televisão. "Podiam ser os nossos filhos...", carpia uma mãezinha amargurada de cartaz em punho.

Investigações posteriores por parte de observadores internacionais provaram que as "centenas de civis chacinados" em Jenin foram afinal 70 e, na sua maioria, militantes armados. Na altura, Israel mandou soldados de infantaria para o terreno para minorar as baixas civis e limitar a destruição. Mesmo assim as acusações choveram contra Israel, apesar de terem morrido mais de 20 soldados do Tzahal durante a operação.

Ora, de volta ao presente, o exército libanês bombardeia diariamente e com artilharia pesada campos de refugiados no norte e no sul do país, onde muitos civis ainda se encontram encarcerados sem conseguir escapar do meio dos combates.

E os justiceiros da nossa praça calam-se. Parecem não ver as ligações entre os casos. É que até os coitadinhos são aparentados: tanto a Fatah al-Islam de Nahr al-Bared, como as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa de Jenin descendem de uma forma ou de outra do aparelho da OLP, a organização fundada pelo saudoso Yasser Arafat, o grande herói da malta que gritava contra Israel por essa Europa fora em 2002.

A razão deste silêncio é evidente. Afinal, é ideia aceite que os Árabes e os Muçulmanos são inimputáveis. Afinal, se eles se matam entre eles, alguma razão devem ter. Seja o exército libanês, os sunitas e xiitas em guerra aberta entre si no Iraque, os talibãs no Afeganistão, os lacaios do governo sudanês no Darfur, os senhores da guerra na Somália e por aí em diante. A lista seguiria longa. Só vale mesmo a pena ladrar e empunhar vistosos cartazes quando são as bestas ocidentais a matar cidadãos árabes. Seja Israel (posto avançado do Ocidente no Mundo Árabe), sejam os EUA no Iraque.

É que é apenas seguindo este modelo que o tradicional maniqueísmo da esquerda europeia funciona. É óbvio que esses senhores não estão para admitir que os seus modelos de valores estão, há muito, caducos.

publicado por Boaz às 20:47
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Terça-feira, 5 de Junho de 2007

Iconoclastia

Há dias, estava eu a sair de casa, quando passou uma senhora residente aqui da aldeia e me viu. Há muito que não me encontrava, obviamente, já que estive um ano fora da terrinha.

Perguntou-me como estava a minha mãe - que ela também não via há muito, já que a minha mãe mudou de local de trabalho. Quando se despediu, poucos segundos depois, disse-me uma coisa talvez... fofa:

"Ai que olhos tão lindos que tu tens! Parecem os olhos de Jesus Cristo."


 

Boaz, o Iconoclasta. Os olhos do Messias, do falso e do improvável*

"De quem!?" pensei eu. Saiu-me um sorriso amarelo. Que mais lhe poderia dizer...

* Dado o facto de eu ser convertido, é altamente improvável que eu seja o Messias. Fora outras - muitas - variáveis.

publicado por Boaz às 16:20
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Perfil do autor. História do Médio Oriente.
Galeria de imagens da experiência como voluntário num kibbutz em Israel.


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