Passei o último Shabbat em Pisgat Zeev, um moderno bairro no Nordeste de Jerusalém. Foi um Shabbat especial, o Shabbat que caiu num dos sete dias de Succot, o festival judaico das Cabanas. Nesta altura do ano, a tradição judaica manda construir cabanas. É costume comer e dormir dentro das cabanas durante os sete dias do festival.
Como a yeshiva está de férias nesta altura do ano – assim como a maioria de Israel – organizou-se ou Shabbat especial para os alunos do grupo sul-americano da yeshiva. Várias famílias sul-americanas acolheram-nos nas suas casas e succot (cabanas) por um dia. A família que me acolheu mora no limite do bairro de Pisgat Zeev Oriental.
Da sua varanda, onde construíram a succa, avistam-se já os subúrbios a sul de Ramallah. Um pouco abaixo, serpenteando no vale e subindo pelas colinas, o muro que Israel está a construir, para servir de barreira e eventual fronteira com um ainda hipotético estado palestiniano. Numa das secções do muro, um posto de controlo, eventual passagem de fronteira entre os dois países.
Do outro lado do muro, para lá de um decadente vilarejo árabe, a povoação judaica de Adam. Mais além, Maale Michmas e no horizonte, Rimonim. Todos estes locais estão na "lista negra" dos colonatos a serem desmantelados, em caso de uma eventual nova retirada israelita da Margem Ocidental.
No topo da colina, sobranceiro a todo o bairro, aquele que seria um dos palácios do Rei Hussein da Jordânia. Nunca terminado, seria a residência de Jerusalém do Rei da Jordânia, soberano da área até à Guerra dos Seis Dias. Apesar de sob soberania israelita desde 1967, o decrépito palácio nunca foi demolido, apesar de ter apenas os pisos dos vários andares do edifício.
Apesar de a Jordânia, nos últimos anos do reinado do mesmo Rei Hussein ter abdicado da soberania sobre a Margem Ocidental, a favor da constituição de um estado palestiniano, do alto da colina a carcaça corrompida do palácio continua a ser um símbolo de um poder passado mas ainda influente.
Marcel Marceau - 1923-2007
align=justify>face=Verdana size=2>O génio do silêncio, o actor judeu francês Marcel
Marceau, morreu este Sábado, aos 84 anos. Para a eternidade fica o Bip, a sua personagem mais famosa, paradigma da arte de fazer mímica.
Com frequência, analistas, jornalistas e políticos referem-se à resolução do conflito entre Israel e os Palestinianos como a chave para a estabilização do Médio Oriente e daí, de todo o Planeta.
Recentemente, o Iraq Study Group (ISG) liderado por James Baker, antigo Secretário de Estado americano foi incumbido pelo presidente Bush de encontrar formas para vencer a guerra no Iraque, de uma forma mais rápida e menos custosa. Em sangue e dólares. A conclusão do ISG foi: "a resolução a disputa Israel-Palestina" é a chave para ganhar a guerra no Iraque.
A ideia da centralidade do conflito Israel-Palestinianos não é exclusiva de James Baker e seus associados. Kofi Annan, ex-Secretário Geral da ONU partilha da mesma ideia. E também, aparentemente, o seu sucessor Ban Ki-Moon, que recentemente disse a um jornal sul-coreano: "Se as questões no conflito entre Israel e a Palestina [sic] forem bem, outras questões no Médio Oriente... irão da mesma forma ser resolvidas."
Será o conflito entre Israel e os Palestinianos assim tão central no Mundo e mesmo no Médio Oriente?
Façamos então um passeio pelo Grande Médio Oriente, ao qual Tony Blair chamou "o arco da crise". Estendendo-se do Atlântico ao Índico, compreende 22 países. Dezasseis deles árabes, mais a Turquia, Arménia, Azerbeijão, Israel, Irão, Afeganistão e Paquistão. Todos foram fundados após o desmembramento de algum império colonial. Como primeiro sinal de instabilidade, saiba-se que nenhum destes estados goza de fronteiras inteiramente reconhecidas. Todos têm diferendos fronteiriços com um ou mais vizinhos, reclamando partes dos seus territórios. A maioria já travou guerras em consequência dessas reclamações.
Comecemos a digressão pelo Afeganistão. Reclama a soberania sobre a paquistanesa Província da Fronteira Noroeste. Na década de 1960, os dois países travaram uma série de guerras fronteiriças pelo controle da região. O Irão, por seu lado, insiste no direito de supervisão no oeste do Afeganistão baseado no Tratado de Paris de 1855. Iranianos e afegãos disputam ainda as águas de três rios fronteiriços, o Hirmand, o Parian e o Harirud.
O Paquistão desde 1947 mantém uma longa disputa territorial com a Índia pelo controle de Caxemira, desde a divisão do antigo Império Britânico da Índia, em dois estados, em 1947. Caxemira foi a origem de três guerras em larga escala e numerosos episódios de violência na fronteira entre os dois países. É responsável ainda pela corrida de ambos às armas nucleares, além de centenas de ataques terroristas, sobretudo na Caxemira indiana. Além de Caxemira, o Paquistão mantém uma disputa com o Irão sobre águas territoriais no Mar Arábico e sobre a nacionalidade de várias tribos de etnia Baluch que vivem dos dois lados da fronteira entre os dos países.
Numa escala muito maior, o Irão e o Iraque travaram uma série de guerras desde 1936 pelo controle o estuário do Shatt al-Arab. Um tratado de paz foi assinado em 1975, mas em 1980 Saddam Hussein invadiu o Irão, começando uma guerra de oito anos e que fez mais de um milhão de mortos nos dois lados. Desde a deposição de Saddam em 2003, o Irão redesenhou a fronteira a seu favor. E continua a reclamar o direito de supervisão sobre santuários xiitas no Iraque como Samara ou Karbala.
Irão, Esquadrão de fuzilamento nos primeiros anos da Revolução Islâmica.
Foto de Jahangir Razmi, fotógrafo iraniano. Prémio Pulitzer
A sul, e desde 1971, o Irão reclama dos Emirados Árabes o controle de três estratégicas ilhas no estreito de Ormuz, por onde flúi diariamente metade do petróleo do Mundo. A norte, luta com o Turquemenistão, o Kazaquistão, o Azerbeijão e a Rússia pelo Mar Cáspio. Os vizinhos pretendem a divisão deste mar interior conforme a extensão das suas fronteiras. Para reclamar a divisão equitativa que duplicaria a sua extensão do Cáspio, o Irão mantém desde 1995 uma marinha de guerra e impede as petrolíferas internacionais de explorarem gás e petróleo nas águas azeris e turcumenas que Teerão reclama como suas. Teerão tenta ainda manter um controlo da província de Khuzestan, rica em petróleo. A região teve uma maioria de população árabe até à década de 1940. Desde então tem sido sistematicamente "persianizada." Recentemente, várias tribos árabes residentes perto da fronteira iraquiana foram expulsas e substituídas por habitantes persas do centro do Irão.
O Irão é visto pelos países árabes como uma ameaça directa, em especial os Estados do Golfo. No entanto, mesmo entre estes, as relações não são amistosas. Apesar das relações tribais entre as famílias reais da região, a Arábia Saudita travou em 1955 uma guerra com Omã pelo controle do oásis de Buraimi, alegadamente rico em petróleo. Décadas de negociações não foram suficientes para se chegar a um acordo. No ano passado os Emiratos Árabes renunciaram a um tratado de 1974 com a Arábia Saudita, adivinhando-se uma terceira reclamação sobre o oásis.
Desde o final da década de 1990, o Qatar luta com os sauditas pela região de Khor al-Udaid, rica em petróleo. Em 2000, os sauditas anexaram a área à força, cortando assim a fronteira do Qatar com os Emiratos. O Qatar reclama do vizinho Bahrain o controle das ilhas de Hawar, travando uma guerra naval em 2001.
Entre a Arábia Saudita e o Kuwait, alegadamente os mais próximos dentre os Estados do Golfo, mantém-se o diferendo acerca da demarcação de fronteiras na chamada "Zona Neutra." Após a Guerra do Golfo de 1992-93, a fronteira do Kuwait com o Iraque foi estabelecida. Todavia, mesmo o parlamento eleito do Iraque não abdicou ainda da reclamação de soberania sobre as ilhas kuwaitianas de Warbah e Bubiyan e da parte sul dos campos petrolíferos de Rumailah atribuídos ao Kuwait pela ONU. A desconfiança em relação a Bagdade, levou o governo do Kuwait a erguer fortificações, cercas electrificadas, armadilhas anti-tanque e a implantar uma “terra de ninguém” que se estende numa faixa de 15 quilómetros. A Arábia Saudita tem em construção estruturas similares na sua fronteira com o Iraque.
A dinastia hashemita da Jordânia mantém há décadas uma reclamação de suserania sobre a província saudita de Hejaz, onde se situam as cidades santas de Meca e Medina, despojada do controle das tribos hashemitas em 1924 pelas tribos que compõem a actual família real saudita. A cada onda de pressão sobre a casa real saudita pela Al-Qaeda ou por militantes xiitas, de Amã ouvem-se apoios a um Hejaz independente.
O Iémen continua sem conseguir traçar a sua fronteira com Omã ao longo do Golfo de Hauf e no deserto de Rub al-Khali, “o vazio da Arábia”. Em 1999 travou uma guerra com a Eritreia pelo controle das ilhas Hanish, um arquipélago estratégico na entrada do Mar Vermelho.
Desde os anos de 1940, o Iraque e a Síria mantêm um diferendo com a Turquia pela divisão das águas do Rio Eufrates. Ainda, tanto a Síria como o Iraque reclamam a província turca de Iskanderun, onde os Árabes compõem 30% da população. A Turquia reclama o direito de supervisão do Norte do Iraque baseado no Tratado de Lausanne de 1923, em especial sobre as regiões petrolíferas de Mossul e Kirkuk e tem treinado e armado grupos tribais turcomanos na região. Na década de 1990, a Turquia actuou militarmente na região na sua guerra contra a milícia marxista curda do PKK.
A Síria reclama a totalidade do Líbano como parte da "Grande Síria", da qual reclama também fazerem parte a Palestina histórica e parte do Norte da Jordânia. Em quase 30 dos 50 anos do Líbano independente, a Síria manteve aí um exército de ocupação e esteve activamente envolvida nas três guerras civis libanesas. A Síria foi em grande parte responsável pela morte de mais de 100 mil libaneses e pela fuga de outros dois milhões e meio. No ano passado, a Síria e o seu maior aliado, o Irão, encorajaram o Hezbollah a travar uma guerra com Israel. Nos últimos anos, Damasco tem sido responsável por grande parte da agitação social e política no Líbano e por uma série de assassinatos políticos, incluindo o primeiro-ministro Rafik Hariri.
O Egipto, o maior dos estados árabes, mantém divergências fronteiriças com a Líbia e o Sudão. Na década de 1960 fomentou várias guerras por todo o mundo árabe. Desde a guerra 1958-62 na Argélia a um golpe de estado no Iémen que deflagrou uma guerra civil que se prolongou por seis anos e fez mais de 200 mil mortos. Recentemente, anexou partes do território sudanês e mantém um conflito intermitente com a Líbia sobre uma área do deserto Egípcio. Ironicamente, a sua única fronteira estável e reconhecida internacionalmente é aquela que o separa de Israel.
A Líbia é desde os anos 70 um dos grandes patrocinadores do terrorismo internacional. O atentado contra o avião da PanAm que se despenhou em Lockerbie e uma bomba numa discoteca alemã frequentada por soldados americanos estão no cadastro de Muamar Khaddafi. Mantém disputas com o Chade, a Tunísia e o Sudão. No Sudão desenrola-se um dos maiores desastres humanitários da actualidade, na região de Darfur. Centenas de milhares de mortos e mais de um milhão de refugiados, resultado dos massacres das milícias janjaweed apoiadas pelo governo central. Ao longo de várias décadas, o país esteve numa guerra civil. Árabes muçulmanos do Norte contra tribos negras cristãs e animistas do Sul. Mais de dois milhões de mortos e outros tantos refugiados até ao recente acordo de paz.
Marrocos, Argélia e Mauritânia têm lutado entre si pelo controlo do Saara Ocidental. A região foi anexada por Marrocos em 1975. Em retaliação, a Argélia tem apoiado a Frente Polisário, que reclama ser o governo legítimo do povo Saraui. Desde 1976 que Marrocos e a Frente Polisário travam uma guerra de baixa intensidade. Na década de 1990, Marrocos retribuiu à Argélia o seu apoio à Frente Polisario fechando os olhos à sangrenta campanha terrorista dos islamistas que custou a vida a mais de 250 mil argelinos.
Tudo isto é apenas uma síntese do que tem acontecido no "arco da crise". Nas últimas seis décadas, a região sofreu não menos de 22 guerras de larga escala em disputas de território e recursos, nenhuma delas tendo alguma coisa a ver com Israel ou os Palestinianos (se tem dúvidas, volte atrás e releia o artigo). Além disso, a história destes países tem sido dominada por séries de lutas domésticas, golpes de estado, ondas de violência étnica e sectária, em muitos casos com altos níveis de crueldade.
O Grande Médio Oriente tem-se caracterizado por uma crónica instabilidade, níveis baixos de desenvolvimento e atraso cultural. A região é a única zona do Mundo que, de um modo geral, passou ao lado da onda de mudanças positivas que se seguiram ao fim da Guerra Fria. Imprensa ou universidades privadas, sindicatos livres, partidos políticos ou liberdade de associação e expressão são realidades distantes. No século XXI, as linhas de produção das grandes marcas internacionais estenderam-se da Polónia ao Vietname ou ao Peru. Mas não à Síria ou ao Egipto. Nenhum destes estados tem, por exemplo, fábricas de automóveis ou de produtos de alta tecnologia.
Os déspotas que chefiam os estados entre a Mauritânia e o Paquistão há muito que pretendem desviar as atenções dos seus oprimidos súbditos com o sonho de atirar ao mar "o inimigo sionista". Como fazia o antigo presidente Nasser do Egipto, sempre que espreitava a ameaça da revolta política, logo se apressava a assegurar às massas do seu país e da "grande nação" árabe que a reforma política e social teria de esperar até que "o inimigo" fosse expulso da "nossa amada Palestina."
Para até um grupo de, aparentemente, homens sábios americanos, adoptar a mesma visão retrógrada e facilmente refutável, demonstra uma absoluta e perigosa ignorância da realidade.
Baseado num artigo de Amir Taheri, ex-editor do diário iraniano Kayhan, para a Commentary Magazine.
Passaram três anos desde o massacre na escola de Beslan, Rússia. Quem ainda se lembra?
Peluche e flores no chão do ginásio calcinado da escola nº 1 de Beslan
No primeiro dia de aulas, 1 de Setembro de 2004, um grupo de terroristas chechenos ocupou a escola da pequena cidade de Beslan, República da Ossécia do Norte, vizinha da Chechénia.
Após dois dias de sequestro, a 3 de Setembro, um esquadrão da polícia russa tomou a escola de assalto, desencadeando um tiroteio caótico com os terroristas. Resultado: Um massacre. Foram mortos pelos terroristas e pelas tropas russas quase 400 pessoas, dos quais 186 crianças, e ainda pais e professores confinados ao ginásio da escola.
De acordo com a tradição judaica, juntar duas almas num casal é tão difícil como a abertura do Mar dos Juncos (o Mar Vermelho na versão ocidental).
O casamento é um dos meus próximos desafios. Está marcado para o mês de Nissan (inícios de Abril).
Aqui na yeshiva, desde que eu fiz a cerimónia de yerusin, ou noivado, que os colegas do departamento sul-americano querem dizer a toda a gente que eu estou comprometido. Ao saber disso, é costume na yeshiva, fazer uma grande roda com os alunos da yeshiva e dançarem com o noivo, normalmente durante a hora de almoço, o tempo em que se junta mais gente.
Havia pedido aos companheiros da yeshiva a quem tinha contado para guardarem segredo e não fazerem ainda a tal rodinha, mas agora que a data está marcada, não deve tardar a que alguém se levante à hora de almoço, me pegue no braço e comece a cantar uma canção típica de casamento. Como um sinal de alvorada, nessa hora se levantarão dezenas de outros alunos da yeshiva e dançarão e cantarão comigo.
Longe da família – a minha em Portugal, a da minha noiva no Brasil – tudo parece mais complicado. Em Israel, felizmente, não faltam instituições que ajudam os futuros casais a concretizar uma das mais importantes mitzvot (preceitos) do Judaísmo.
Seja com os bancos de roupa para casamentos – existentes em vários locais do país, em especial nas comunidades religiosas – ou instituições que apoiam monetariamente para as despesas da festa, braços estendidos para ajudar, não faltam. Por exemplo, alguns alunos do curso de conversão que eu frequentei, tiveram a ajuda do próprio curso, para fazer a festa.
Todavia, além do próprio dia do casamento, há que pensar no local onde vou morar depois de casar. É que, uma vez casado, não dará para continuar a morar num quarto partilhado na yeshiva.
Uma casa-caravana num colonato próximo de Jerusalém é uma das opções mais baratas e, enquanto a família for pequena, uma solução suficiente. Mas por agora, nem essa opção está garantida, dada a longa lista de espera para esse tipo de alojamento.
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