Nestas últimas semanas andei enrolado com a possibilidade de ser guia e animador de jovens judeus estrangeiros de visita a Israel. Um trabalho interessante e que costuma ser bem pago.
A oportunidade surgiu quando um dos meus professores indicou o meu nome à secção "Israeli Experience" da Agência Judaica, que organiza viagens de grupos de jovens judeus e forma os seus guias e animadores. No meu caso, na mira teria os vários grupos de jovens judeus brasileiros que todos os anos visitam Israel, durante várias semanas. Passeiam, têm actividades lúdicas e educativas, com o objectivo de os aproximar da realidade israelita e, porque não, tentar despertar neles o desejo de, futuramente, imigrarem para Israel.
Primeiro tive de preencher alguma papelada. Um "teste americano" com dezenas de perguntas de cultura geral e judaica, história e geografia de Israel. Em hebraico, o que me criou mais dificuldades do que estava à espera. “Não vale a pena quebrar muito a cabeça com isso”, disse uma das secretárias da organização ao ver-me atrapalhado. Ainda assim demorei mais de uma hora com o teste.
Seguiu-se uma entrevista exploratória. Pedi que fosse em inglês. Razões para a minha candidatura, experiência anterior, os meus prós e contras para uma função desta natureza, o que eu posso dar de especial aos jovens que pode ser valioso para os objectivos do programa. As perguntas esperadas.
Uns dias depois passei à próxima fase: um dia de actividades em grupo com os outros candidatos. Comigo estavam vários colegas da yeshiva que buscavam a mesma oportunidade. E ainda vários israelitas.
Fizeram-nos várias provas individuais. Pediram-nos para classificar e comentar frases polémicas do género: "O Estado de Israel tem de fazer uma separação entre politica e religião" ou "Sem a ocorrência do Holocausto, o Estado de Israel não teria sido fundado."
Divididos em pares, em pouco tempo tínhamos de elaborar uma actividade a ser apresentada a todo o grupo. Durante a apresentação, de apenas 5 minutos (não sabíamos do tempo tão curto enquanto a preparávamos) éramos interrompidos por um dos monitores, que nos pedia para explicarmos o que fazíamos, em inglês. Retomávamos. Nova interrupção: agora explica em espanhol! Unos segundos de explicación... OK, em português! Pus à prova o meu jeito para línguas...
Seguiram-se teatrinhos para testar a nossa capacidade de resolver situações complicadas. E se um dos jovens do grupo do qual éramos guias não quisesse levantar-se cedo para rezar? Como falaríamos com ele e o convenceríamos a levantar-se? E se vários elementos do grupo tivessem roubado as toalhas do hotel, incluindo a professora que os acompanhava? E se o enfermeiro estivesse "a fazer-se" às meninas? Ou um dos jovens não quisesse ir fazer um passeio a Hebron "por ter medo de ser morto num tiroteio"?
Se for escolhido para ser guia, ainda terei de passar por um seminário de preparação, durante dois dias. Além da componente financeira, que não é nada negligenciável, alicia-me a possibilidade de ajudar alguns jovens a aproximarem-se das suas raízes judaicas.
Mesmo estudando em colégios judaicos no Brasil, muitos deles têm uma vivência judaica muito pobre. A imagem que têm do Judaísmo é pouco mais do que um pequeno conjunto de tradições estranhas passadas pelos avós. De Israel sabem o que lhes ensinam nas aulas de história judaica, das celebrações da Independência de Israel ou do Dia de Jerusalém. Lá longe. Da actualidade israelita sabem o que lhes chega pelo olhar vesgo da televisão.
Tenho visto – e eu próprio o experimentei – que não é a mesma coisa ser judeu em Israel e na Diáspora. Depois de passar um tempo por cá, as marcas são demasiado profundas para se ignorarem. Alguns dos jovens provavelmente baixarão os braços face ao "peso de ser judeu". Contudo, para a maioria, estou seguro, despertar-se-á um desejo de aprender mais sobre essa herança dos avós e dos pais que eles muitas vezes não entendem, mas não conseguem deixar de lado.
Garantir que apenas um destes jovens afastados não ceda à assimilação, é um desafio enorme, mas é um trabalho essencial e muito recompensador. No mundo de hoje, nós os judeus, falamos muito das ameaças dos árabes e do Irão. Esquecemo-nos que a maior ameaça ao povo de Israel não parte dos Ahmadinejads, mas dos milhares de Moshes, Yosefs e Davids que desprezam o seu Judaísmo e se perdem pela assimilação.
E quem tem armas para lutar contra esta tendência suicida, não pode ficar de braços cruzados.
Os meus gostos de música sempre foram bem ecléticos. Desde o grunge dos Nirvana ou Pearl Jam, que vem desde a minha época de teenager nos anos 90, ao Pop/Rock dos U2 ou de Sheryl Crow. Do estilo alternativo de Tori Amos, à eterna música clássica. Da inclassificável sonoridade de Björk e à depressão crónica de Fiona Apple aos melódicos Coldplay.
Recentemente, fiquei rendido aos encantos da música étnica (também conhecida por World Music). Primeiro foi o folk escandinavo, descoberto por acaso numa visita a uma loja de discos, quando escolhi, na mais absoluta ignorância pelo género, um dos discos disponíveis para escuta. As bandas suecas Hedningarna e Garmarna estão à cabeça, com a sua original fusão de folclore nórdico e música electrónica. Agora ando interessado na música folclórica búlgara, as famosas "Vozes Búlgaras".
Os meus colegas da yeshiva espantam-se quando ponho a tocar músicas em japonês, sueco ou finlandês (ainda não lhes dei a experimentar o repertório búlgaro). Na verdade, até as portuguesas (Humanos, Mafalda Veiga, Rui Veloso, Resistência, Zeca Afonso – sim, em música portuguesa eu sou da «velha guarda») são coisas estranhas para eles, mesmo para os brasileiros.
O facto de não entender uma palavra do que dizem de sueco, finlandês ou búlgaro, não é uma barreira para apreciar a música. Assim, fixo-me na pureza das vozes, nos acordes dos instrumentos, nos arranjos do sintetizador. Nas horas vagas da Gemara.
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