País de merda. Assim mesmo. É desta forma que Israel é visto, chamado, (des)considerado, sentido, em muitos lugares do mundo, na mente de muita gente.
O jovem David Navarro, um espanhol residente em Israel, decidiu pegar nesta concepção e mostrar o outro lado de Israel. Aquele lado tapado muitas vezes pela trampa que passa pelos meios de comunicação social do Mundo acerca deste país.
Criou um site chamado, muito a propósito, País de mierda. Eu sei que em Portugal, as coisas ainda não tendem a ser tão escatologicamente distorcidas em relação a Israel, como em países como Espanha ou o Brasil, mas mesmo para os portugueses ainda há muitas ideias erradas que persistem.
Proponho uma visita. Prometo que não tem cheiro.
NOTA: Parece que este caso já dá que falar em Espanha: ABC, El Mundo, Telecinco, 20 minutos.
No Mundo há terramotos, ciclones, atentados na Índia, engarrafamentos gigantes em Jerusalém pela visita do Bush (muito importante, sim) mas, a notícia do momento em Portugal: O Sr. PM José Sócrates não resistiu ao vício e fumou num avião. (Apupo) Alega que não sabia que era contra a lei. (Apupo e lançamento de tomates).
Ora vejamos, assim que se sentou no seu lugar no avião, a caminho da Venezuela, não digo só desta vez, mas em qualquer das centenas de vezes que a criatura terá viajado de avião, será que nunca olhou para cima do banco e, viu o sempre iluminado sinal do cigarro com um proibitivo traço por cima, que significa "Não fumar"? (Faço um desenho). É mesmo ao lado da luzinha que indica que já pode soltar o cinto de segurança e dar uma voltinha pelo corredor! (Dahh!)
Seja como for, o Sr. PM arrependeu-se de ter violado a lei. (Tadinho) Alegadamente, já que ele não sabia que era ilegal fumar em aviões. E, vejam só que ele, quando contou a sua versão do episódio, não se esqueceu de mencionar que fumou junto com o Sr. ministro da Economia, Manuel Pinho. (Também tu Brutus!?). O Sr. PM pode afundar-se, mas alguém irá ao fundo com ele. Se ele paga, o colega também não se livra! (Ah, biltre traidor!)
Ah, e como o arrependimento é grande, ele já prometeu que vai deixar de fumar. (entra o coro de anjinhos a voar em redor do arrependido) Caramba, Sr. PM, não se lhe pediríamos tanto. Pode começar por não fumar apenas onde é expressamente proibido. E se lhe custar muito viajar de avião pelas longas horas sem o vício, vá a pé. Afinal, não é seu costume fazer uma saudável corridinha matinal?
PS - Olhem só como a TAP veio a correr para defender o tão fiel cliente. Parece que "Pedir para fumar num voo fretado é tão 'normal' como solicitar uma 'refeição especial'. Quer dizer que é a mesma coisa, eu pedir uma refeição casher ou puxar uma passa a bordo?
Ainda a tinta das assinaturas na Declaração de Independência de Israel não tinha secado e, cinco nações árabes (Egipto, Transjordânia [actual Jordânia], Síria, Líbano e Iraque) alinhavam as suas tropas frente às fronteiras demarcadas pela ONU, prontas para invadir o recém-criado Estado Judaico. A estratégia árabe era simples e previa que a derrota judaica seria alcançada num prazo de uma ou duas semanas apenas.
Isto foi há 60 anos. Israel ficou abalado. Resistiu. Triunfou. Alguém religioso não nega o magnífico "dedo de Deus" presente em muitos dos momentos históricos destas seis décadas em Israel. Mesmo os cépticos certamente se perguntam como esta pequena nação, composta na sua maioria por refugiados, conseguiu erguer um país como o Israel do presente. Um puzzle social confuso, composto de peças dificilmente ajustáveis: judeus e árabes, religiosos e seculares, sefarditas e askenazitas, ex-soviéticos, americanos, etíopes, peruanos, filipinas e tailandeses.
O "milagre israelita" não é fantasia. É conhecida a metáfora do pequeno território composto, ainda há menos de um século, por pântanos e desertos, transformado num fértil jardim. As coisas não acontecem por acaso. Tudo - tudo mesmo - em Israel funciona à custa de muito suor e engenho humano. E fé. Da irrigação dos campos ao trânsito na auto-estrada.
Vim pela primeira a Israel em 1999. Queria passar dois meses das minhas férias de Verão no país, gastando o mínimo de dinheiro possível. Ser voluntário num kibbutz foi a opção ideal. Sem conhecer ninguém no país, sem falar nada da língua local. (Valeu-me o meu inglês.) À chegada, a surpresa: um país verdadeiramente moderno. É certo que já tinha visto imagens de Israel na TV, mas ao vivo é outra sensação. Os arranha-céus de Tel Aviv. Um mito destruído de imediato: a influência americana era quase inexistente. Cartazes publicitários em hebraico! Como era possível viver num país moderno sem usar uma língua ocidental? Peço desculpa pelo eurocentrismo idiota.
Nessa altura, o meu interesse em Israel já não era meramente turístico ou mesmo cultural. Eu estava a bater à porta do Povo de Israel. Nos meus planos, mesmo desconhecendo inteiramente o alcance desse ideal, estava uma conversão ao Judaísmo. Passaram-se anos até voltar a pisar a Terra Santa. Na segunda visita, de apenas 11 dias, o meu processo de conversão já dera muitas e difíceis voltas, mas finalmente começara a tomar forma.
Em apenas quatro meses estaria de volta. Para sempre. Nem eu sabia à partida. Conseguira uma vaga num curso oficial de conversão ao Judaísmo, nos arredores de Jerusalém. Sem trabalho fixo em Portugal, sem ter uma família para sustentar, pouco me prendeu em casa. Fiquei seis meses no curso de conversão e entretanto entrei numa yeshiva. Pela primeira vez, entrei a fundo no mundo religioso judaico.
Sem planos para ficar em Israel, a princípio planeei ficar apenas 6 meses. Ir, converter-me, voltar. As minhas identidades portuguesa e judaica pareciam perfeitamente equilibráveis. O retorno à minha vila da Batalha foi estranho. Eu era um estranho. Foi um regresso a casa, apenas de visita. Fui um turista na minha terra natal. Foi um alívio voltar a Jerusalém.
As mudanças são muito rápidas e radicais para quem vive por estes lados. Em 2005, chegara quando ainda se sentia em força o abalo da destruição dos colonatos de Gaza. Passei cá a Segunda Guerra do Líbano, com os telefonemas quase diários da minha mãe, aterrada com as violentas imagens da guerra transmitidas pela televisão. Implorou-me para voltar para casa. Tentei, como podia, descansá-la. "Que iria eu fazer a Portugal?", pensei. Não queria sair naquela hora difícil. Não queria ter problemas para voltar, caso saísse.
Frequentemente recebo mensagens de amigos em Portugal que me pedem para voltar. Alegam que esta não é a minha terra. Que não tenho nada a fazer por aqui. Que o meu lugar é em Portugal. Entendo o ponto de vista deles. Um emigrante é visto como um ente temporariamente distante. Não conhecem a essência da emigração para Israel. Afinal, transplantar as raízes para um novo lugar é sempre um choque, também para a terra deixada vaga. Israel foi recém reimplantado nesta terra. Recém, se lembrarmos a cadeia de mais de 3500 anos de história judaica. Todos os que, como eu, decidiram viver aqui, são parte deste novo e impressionante reflorescimento judaico na Terra de Israel.
Estou em Israel há menos de três anos. Como judeu, há quase dois. Como cidadão, ainda não completei sequer um ano. Casei por cá, há exactamente um mês. Não me consigo imaginar a viver, de forma permanente, noutro lugar. Ao fim de um ano de aliya, dentro de alguns meses, vou poder tirar o passaporte israelita. Um ano de israelita em 60 anos de Israel.
Nota: O título provém de um versículo entoado na recitação de Halel, o conjunto de cânticos de louvor a Deus entoados nos dias mais alegres do ano. O Dia da Independência de Israel é um desses dias.
A ideia para este artigo partiu de Nuno Guerreiro, um jornalista judeu português residente em Nova Iorque e autor do excelente blog Rua da Judiaria. A intenção dele era publicar textos de escritores, jornalistas e bloguistas de língua portuguesa residentes em Israel. (A minha foto que acompanha o artigo já tem uns aninhos, mas, verdade seja dita, eu também não mudei assim tanto).
Depois de uns dias "off", com tantas coisas em que pensar para lá do blog, regresso a esta humilde casa virtual.
Desde o início do mês de Abril, tive imensos assuntos a tratar para o casamento e a passagem para a minha nova casa – a real, não a virtual. A mudança para a nova casa foi a coisa que deu mais trabalho. Marcada primeiro para um dia, depois adiada porque a família que ocupava o nosso futuro apartamento ainda não tinha tirado todas as coisas e limpo o lugar. E a dor de cabeça começava. Como levar todos os nossos pertences, e arrumar tudo, ainda a tempo da data do casamento?
Tínhamos recebido a maior parte dos móveis da casa, de uma organização de beneficência: os móveis do quarto, um roupeiro imenso, a mesa da sala, o fogão e o frigorífico. Sem podermos ainda levá-los para o nosso futuro lar, tivemos a mão generosa de uns vizinhos amigos que nos dispensaram a sua cave como armazém provisório. As mobílias que faltavam, decidimos comprá-las em segunda-mão, através da Internet.
Tudo o que eu tinha acumulado na yeshiva levei, em várias viagens de autocarro, para o apartamento de solteira da minha futura esposa, no bairro de Kiryat Yovel, em Jerusalém. Pedimos caixas num supermercado vizinho. Passámos dias a encaixotar roupas, livros, louças, CDs.
Entretanto, quando faltava uma semana para o casamento, concordámos em seguir a tradição judaica de o futuro casal não se encontrar durante uma semana inteira. Concordámos também, dada a quantidade imensa de coisas que ainda tínhamos para tratar, de nos falarmos por telefone e trocarmos mensagens. Comunicação por telepatia não é a minha especialidade.
No dia da mudança, a viagem da carrinha de transporte iria ter várias paragens. Primeiro, no bairro de Baka, em Jerusalém, para recolher os sofás-cama para o futuro quarto das crianças (entretanto usado como quarto de possíveis visitas e sala do computador). Coordenado ao minuto com a hora em que o antigo dono dos sofás iria estar em casa, antes de partir para o trabalho. Depois, um trabalho extra da empresa de mudanças. A seguir, uma saída até Givat Zeev, a norte de Jerusalém, onde foram recolhidos os sofás da sala. Quase na hora limite de a dona dos sofás sair de casa… Regresso a Jerusalém para levar todas as caixas do apartamento de Kiryat Yovel. Destino: Alon Shevut, um pequeno colonato no bloco de Gush Etzion, 15km a sul de Jerusalém.
O pequeno apartamento do bairro antigo do colonato ficou atulhado de caixas e mobílias fora do lugar. Decidimos não manter um dos sofás na casa, dado que a sala ficaria demasiado apertada com dois sofás. Montar a cama de casal, entregue em peças, foi uma empreitada só à altura de especialistas em puzzles. Ao menos podia dormir na cama das visitas, montada na hora pela equipa das mudanças. O enorme e lindo roupeiro de seis portas para o quarto de casal, teve de regressar ao armazém de conveniência na casa dos vizinhos. Obsoleto no quarto de casal, onde já existe um roupeiro de parede, estava destinado ao futuro quarto das crianças, mas… Era demasiado alto para o baixo tecto daquela divisão. O dono da empresa de mudanças foi simpático em emprestou-nos um outro roupeiro, mais pequeno.
Consegui arrumar muitas das coisas trazidas pela carrinha das mudanças. O resto foi empilhado num canto do quarto. Para ir sendo arrumado. Devagar, ao ritmo das necessidades.
Aos poucos, a nossa casa foi-se compondo. A generosidade dos vizinhos e famílias conhecidas do colonato é infindável. De tempos a tempos ligam-nos a dizer que têm algo para nós. Algo que já não usam, ou que receberam e não precisam e que nos querem oferecer.
A máquina de lavar roupa, também oferecida, foi entregue alguns dias depois da boda. Mas esteve várias semanas sem sair da respectiva caixa. Teria de ser um técnico a instalá-la, para não perdermos a "garantia". A montanha de roupa suja foi crescendo até ocupar metade da – já de si apertada – casa de banho. No dia em que foi finalmente montada, foi um alívio. Menos para a máquina: saía uma carga de roupa, entrava outra. Até não haver mais espaço no estendal.
A lista de coisas que ainda nos faltam vai sendo cada vez mais curta. A vida segue tranquila. Telefone, Internet. Tudo já está tratado. Agora falta alterar o nosso endereço. E mudar de documentos. O "solteiro" no estado civil é coisa do passado.
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