Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009

O moralista

O primeiro-ministro turco Recip Erdogan envolveu-se numa discussão com o Presidente israelita Shimon Peres num debate no Fórum de Davos, na Suíça. Veio à baila a situação em Gaza. Shimon Peres tentou defender a posição de Israel o melhor que pôde, tentando fazer o turco imaginar os mísseis do Hamas a cair em Istambul e não em Sderot. "Vocês estão a matar pessoas...", foi o desabafo de Erdogan à operação israelita, antes de abandonar a sala da conferência.

Sendo a Turquia herdeira do genocídio de mais de 1,5 milhões de Arménios em 1917 - e que oficialmente continua a negar (e ai de quem se atrever a admitir em público a culpa turca!); matou milhares e expulsou outras centenas de milhar de cipriotas-gregos do Norte de Chipre, e que só nas últimas décadas matou mais Curdos do que Israel matou palestinianos desde 1948 - a quem é que este senhor quer dar lições de moral?

Talvez para o PM turco, os Arménios, os Curdos e os Cipriotas Gregos não sejam pessoas, daí que quando os Turcos os matam, não há que sentir remorso.

publicado por Boaz às 01:03
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Sábado, 24 de Janeiro de 2009

Falafel com chop suey

Em 1977, um cargueiro israelita que navegava no Sudeste Asiático detectou um barco apinhado com 66 homens, mulheres e crianças. Os passageiros encontravam-se num estado miserável. Eram alguns entre as centenas de milhar de "boat people" ou "balseiros", que tentaram fugir do Vietname, nos anos que se seguiram ao final da Guerra do Vietname. Apesar dos repetidos e desesperados apelos de S.O.S., os refugiados, sem água ou comida, foram ignorados por outros barcos da Noruega, Japão, Alemanha Oriental e Panamá.

Os passageiros foram recolhidos pelo cargueiro israelita e levados para Israel. Uma pátria fundada por refugiados chegados da Europa após o Holocausto comoveu-se com a sua sorte, concedendo-lhes asilo político. Trinta anos passados, os descendentes destes e de outros refugiados vietnamitas acolhidos em Israel servem no exército de Israel e estão integrados na sociedade local. Este é apenas um dos episódios da pouco conhecida relação entre Israel e a Ásia.

Actualmente a maioria dos vietnamitas em Israel são imigrantes económicos, à procura de trabalho. E são uma minoria entre os milhares de tailandeses, chineses e indianos. Trabalham nas obras (hoje, muitas empresas preferem os asiáticos aos árabes), nas plantações de bananas e nos campos agrícolas dos kibbutzim. Das Filipinas e do Sri Lanka chegam sobretudo mulheres para trabalhar como enfermeiras e auxiliares de saúde domiciliárias – conhecidas exactamente como filipinit – ou nos turnos da noite dos hospitais.


Bnei Menashe em Israel | Centro Chabad de Phuket, Tailândia.
Família de ex-refugiados vietnamitas na Galileia | Turistas israelitas numa praia de Goa

Do Nordeste da Índia chegaram alguns milhares de membros do grupo Bnei Menashe, que reclamam ser descendentes dos judeus da antiga tribo de Menashe. Durante séculos, apesar de separados do Judaísmo oficial, mantiveram tradições de forte cariz judaico. De aparência totalmente asiática, prepararam-se durante anos para a sua integração oficial no povo judeu. O Rabinato-Chefe de Jerusalém reconheceu as suas reclamações e muitos foram aprovados para a conversão e a imigração para Israel. São famosos pela sua bravura e muitos integraram as unidades de elite do exército de Israel.

Mas não são apenas os asiáticos que buscam Israel. Os israelitas são apaixonados pelo Oriente. Milhares de jovens israelitas, após terminarem os anos de serviço militar, embarcam em viagens de aventura pelo Mundo. Uns buscam a América Latina, da Costa Rica à Patagónia. A maioria porém, busca a Ásia. As praias de Goa e da Tailândia, os trilhos de montanha no Nepal e Caxemira ou as ruínas do Cambodja, são locais de predilecção para os mochileiros israelitas. São tantos e de tal importância turística, que em muitos locais os menus dos restaurantes são escritos também em hebraico.

Para melhorar a imagem persistente do turista israelita como barulhento e pouco educado, alguns mochileiros dedicam-se também a actividades de natureza humanitária. Por exemplo, jovens israelitas dispensam vários meses da sua viagem numa aldeia do Cambodja ensinando inglês às crianças e participando na construção de poços e de um centro médico.

Na afluência israelita à Ásia, muitos não procuram somente a natureza e os prazeres a baixo custo, mas também as experiências espirituais. O Budismo e o exoterismo oriental encontram grande atracção para muitos jovens. Isto desencadeou um novo fenómeno: o florescimento de iniciativas para atrair de volta aqueles milhares de jovens às suas raízes judaicas. Na vanguarda desse fenómeno, o movimento Chabad abriu dezenas de Centros Chabad pela região: Tailândia, Cambodja, Nepal, Laos, Vietname e Índia (o centro Chabad de Bombaim foi um dos alvos da recente vaga de atentados na cidade). Aí os jovens podem encontrar comida casher, aulas de Torá, acolhimento durante o Shabbat e as festas judaicas, hospitalidade judaica tão longe de Israel.

De regresso a Israel, muitos continuam a sua vida normal. Outros, porém, trazem a influência e os costumes asiáticos na mochila, junto com os postais e os souvenirs. Outros ainda, trazem de volta a espiritualidade judaica que encontraram a milhares de quilómetros de distância, e que em muitos casos não haviam recebido nas suas casas e famílias judaicas.

publicado por Boaz às 21:46
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Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009

Não há fábricas em Gaza

Quando Israel retirou os colonatos judeus da Faixa de Gaza, em Agosto e Setembro de 2005, foram demolidas as residências particulares, mas não os edifícios públicos. As antigas sinagogas e yeshivot, vazias de objectos sagrados, foram vandalizadas pelos moradores de Gaza, assim que o último soldado deixou a região.

Nos últimos anos da existência dos colonatos de Gush Katif, o principal bloco judaico em Gaza, as estufas eram a principal actividade económica. Milhares de toneladas de verduras orgânicas e flores eram exportados anualmente para a Europa. (Ainda hoje, em Israel, "Gush Katif" é sinónimo de legumes orgânicos e livres de bichos.) As estufas, ao contrário das casas dos antigos residentes foram deixadas intactas. O objectivo era transformá-las num pólo de desenvolvimento económico de Gaza. Porém, desde 2005, as estufas que tinham sido umas das mais avançadas do mundo, não produziram nada. Poucos dias após a evacuação, a maioria das estufas tinham sido saqueadas pela própria população.

Nos extensos terrenos vazios da área dos antigos colonatos pretendia-se construir prédios residenciais, para suprir a falta de habitação de qualidade em Gaza, uma das regiões mais densamente povoadas do Planeta. Apesar dos milhões de euros, dólares, e petro-dólares injectados anualmente nas finanças da Autoridade Palestiniana (estatisticamente, os Palestinianos são mesmo o povo que recebeu mais ajuda internacional per capita, de todos os tempos) a situação económica em Gaza não progrediu. Antes pelo contrário.

Nas eleições legislativas de Janeiro de 2006, ganhas pelo Hamas, a situação piorou. A maioria dos financiadores internacionais da Autoridade Palestiniana suspendeu os pagamentos. Quando o Hamas tomou de assalto a Faixa de Gaza em Julho de 2007 e dominou o território após sangrentos confrontos com apoiantes da Fatah, o território perdeu a maior parte das fontes de ajuda internacional, incluindo as fontes árabes.

Os Palestinianos desperdiçaram a oportunidade criada com a retirada de Gaza de 2005. Alguns idealizaram mesmo criar na Faixa de Gaza numa espécie de Hong Kong do Médio Oriente. Passe o delírio romântico de tal empreitada, a verdade é que Gaza perdeu todas as oportunidades que se lhe apresentaram. Por exemplo, as praias da região, em especial a de Dugit, eram famosas por terem "as melhores ondas de surf de Israel". Com esse potencial, poderiam ter construído resorts que estariam cheios de turistas israelitas e internacionais. Nada foi aproveitado. É evidente que Israel não ajudou da melhor forma para a prosperidade de Gaza, mas com a transformação da região num imenso campo de treino terrorista sob as ordens do Hamas, o país não poderia manter nem sequer o mínimo de cooperação com as autoridades locais.

Israel acabou por impor um bloqueio económico parcial. Todavia, mesmo nas alturas mais "apertadas" Israel continuou a fornecer cerca de 70% da energia de Gaza. O Egipto, esse estado amigo de todas as causas do nacionalismo árabe, fornece 20%. O que resta é produzido por uma central de energia na Faixa. Doentes de Gaza continuaram a ser tratados em hospitais israelitas, mesmo quando as bombas caíram a poucos metros do hospital Barzilai de Ashkelon.

Após a tomada do poder pelo Hamas, o Egipto estancou a fronteira internacional de Rafah, que o separa de Gaza. (Aliás, alguém ouviu falar do "bloqueio egípcio"?) Durante os confrontos entre o Hamas e a Fatah, os blocos de cimento de uma secção da barreira fronteiriça foram derrubados. Os canhões de água e os tiros da polícia de choque egípcia não impediram a passagem de mais de 500 mil palestinianos para o Sinai. Em poucos dias, a população de Gaza recheou a dispensa, parca com o bloqueio económico, enquanto o Hamas aproveitou para se abastecer de armas, incluindo os mísseis Grad, de fabrico iraniano, que agora disparam sobre as cidades do sul de Israel.

Depois do encerramento da fronteira, a alternativa para o Hamas para o abastecimento de armamento e para os civis para obterem bens básicos, foi o recurso aos túneis de contrabando. Supõe-se que existam mais de 200 entre os dois lados da fronteira de Rafah, por onde passa de tudo. Comida, medicamentos, combustível, animais e talvez até um soldado sequestrado (existe a hipótese de o soldado israelita raptado Gilad Shalit ter sido retirado de Gaza através de um dos túneis). Tudo é traficado. O Hamas controla todas as mercadorias que são contrabandeadas através dos túneis, cobrando uma taxa "alfandegária" usada para financiar as suas operações.

Desde 2005 a única indústria que floresceu em Gaza foi o fabrico de mísseis Qassam, para serem disparados sobre Israel. Daí que faltem todos os produtos transformados, mesmo os mais básicos, como o pão e o sabão.

É óbvio que Israel não tem favorecido a prosperidade em Gaza. A opção dos habitantes de Gaza em apoiarem o Hamas também não. Que país não bloquearia o seu inimigo declarado, impedindo-o de receber ajuda do exterior? O desenvolvimento visível na cidade árabe de Belém, nos arredores de Jerusalém, é um sinal claro de que a calma com Israel é da maior conveniência para os Palestinianos.

Não haverá desenvolvimento nem paz quando todos os recursos dos palestinianos forem dirigidos para o conflito com Israel. Tal como um dia declarou a Primeira-Ministra Golda Meir: "Haverá paz quando os Árabes começarem a amar os seus filhos mais do que eles nos odeiam".

publicado por Boaz às 22:36
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Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2009

Quando o jornalismo é um bem 'Público'

Durante o meu curso de jornalismo na faculdade, uma das coisas que estudei foi a importância das fontes das notícias e de como elas afectam a visão que temos do mundo. Acabei por fazer o meu trabalho final de curso (chamado pomposamente "tese de licenciatura") sobre esse assunto, intitulado "Da selecção das notícias ao aparecimento do Síndroma do Mundo Negativo". (Quem tiver curiosidade de ler a obra de quase 200 páginas, que vá à biblioteca do ISCSP, no Alto da Ajuda, em Lisboa. Deixei lá uma cópia.)

Mais tarde, acabei por me desapontar da profissão e desistir do sonho de uma carreira nessa área. A forma como muitos jornalistas aceitam a manipulação em nome de livros de estilo e de tendências políticas da classe jornalística, fez-me perceber que existe uma perversidade que mina a cadeia de transmissão da verdade. Esta minha apreensão é maior quando vejo as notícias sobre o Médio Oriente.

O artigo de opinião que se segue, da autoria da jornalista Helena Matos, do diário português Público, é um corajoso e honesto testemunho da verdade podre de algumas regras do jornalismo ocidental. Faz-me ter esperança que alguém, que não se informa para além dos media comuns, ainda consiga perceber com verdade o que se passa no Mundo. Em especial, no Médio Oriente.


Livro de estilo para referir Israel, por Helena Matos

Jornal Público
08.01.2009

No dia em que escrevo, quarta-feira, confirma-se que mais uma vez uma cadeia de televisão europeia, a France 2, transmitiu imagens falsas numa reportagem que dedicou ao ataque israelita a Gaza. Crianças mortas e uma casa destruída ilustravam os efeitos dramáticos entre os civis palestinianos dos bombardeamentos efectuados pelo exército de Israel.

Poucas horas após a emissão da reportagem concluía-se que destas imagens apenas os cadáveres e o prédio destruído não foram ficcionados. Aquelas pessoas morreram, mas não morreram a 5 de Janeiro de 2009, como afirma o jornalista da France 2, mas sim a 23 de Setembro de 2005. Também não morreram na sequência de um ataque israelita mas sim no resultado da explosão acidental de um camião que transportava rockets do Hamas dentro do campo de refugiados de Jabalya.

Defende-se a France 2 dizendo que foi enganada pela propaganda palestiniana. Nestas coisas da comunicação, os palestinianos têm de facto as costas demasiado largas, pois aquilo a que temos assistido nos últimos anos é à participação voluntária e entusiástica de vários órgãos de comunicação ocidental na diabolização de Israel, através da divulgação de imagens e notícias sem qualquer tipo de confirmação das fontes ou até mesmo com a promoção de imagens e notícias falsas. Foi assim com o relato da morte de Muhammad al-Durrah, o menino que, em Setembro de 2000, segundo uma reportagem da mesma France 2, teria sido baleado por soldados israelitas junto ao seu pai, acabando os dois assassinados. A imagem da criança tentando proteger-se sob o cadáver do pai emocionou o mundo e legitimou a segunda Intifada. Infelizmente, os mesmos jornalistas que tão rapidamente espalharam esta imagem não se deram ao trabalho de divulgar as investigações que provavam a sua manipulação. Maior silêncio ainda caiu sobre os responsáveis pela morte da família de Huda Ghaliya, a menina que o mundo inteiro viu chorando sobre os cadáveres de toda a sua família, numa praia de Gaza, em 2006. Os jornais ocidentais, com a mesma diligência com que a promoveram o novo ícone palestiniano, também o esqueceram quando se soube que a sua família não morrera vítima de um ataque israelita mas sim de armas palestinianas.

Os exemplos desta fábrica mediática de mártires para ocidente consumir levam-nos invariavelmente à constatação de que existe no ocidente uma espécie de "insurgentes de sofá". Tal como os treinadores de bancada raramente praticam qualquer desporto, também estes "insurgentes de sofá" jamais pegariam numa arma ou fariam um atentado. E não o fariam porque moralmente não seriam capazes e também porque este mundo ocidental do qual dizem tanto mal lhes tem proporcionado invejáveis padrões de vida. Israel torna-se assim no "lugar ideológico" que lhes permite acharem-se ideologicamente coerentes enquanto usufruem o que de melhor a democracia a que dantes chamavam burguesa tem para oferecer.

Claro que há algumas décadas outros povos acompanhavam os palestinianos como objecto da sua solidariedade. Eram então os vietnamitas, os cambodjanos, o então designado "povo mártir da Coreia do Sul", os angolanos, os moçambicanos, os rodesianos... enfim todos aqueles povos cujos problemas pudessem ser de alguma forma imputáveis a países que alinhassem no chamado bloco ocidental. No preciso dia em que a culpa deixou de poder ser assacada a portugueses, norte-americanos, ingleses... esses povos deixaram de gerar piedade e desapareceram os activistas. Os massacres no Ruanda, a fome no Zimbabwe, as epidemias no Congo e a corrupção em Angola não só deixaram o paradigma das notícias que causam indignação como passaram a ser apresentados sob as vestes da fatalidade histórica.

De igual modo, quando os palestinianos se matam entre si, por exemplo quando o Hamas chacinou os membros da Fatah, o facto é ignorado. Se Israel - ou seja, o país do nosso mundo - não é passível de ser responsabilizado então mal existem notícias e muito menos indignação. Donde também nunca ouvirmos falar da situação dos palestinianos no Líbano e no Egipto ou das medidas tomadas pela Jordânia para controlar os movimentos que os representam.

Estaria contudo a faltar à verdade caso se não reconhecesse que tem existido alguma evolução sobre Israel nos chamados defensores da causa palestiniana. Já admitem que o Estado de Israel vai continuar a existir mas não prescindem de uma espécie de livro de estilo para se lhe referir. Desse livro fazem parte alguns dogmas. A saber:

a) Entre os palestinianos só existem civis
Israel tem um exército e serviços secretos. Os palestinianos têm líderes espirituais ou de facção, activistas, militantes e figuras religiosas. O que de mais belicoso se concede ao seu estatuto é designá-los como combatentes. Mas nunca como militares. Não são apenas os membros do Hamas que cobardemente se misturam com a população, que usam as escolas, os hospitais, as mesquitas e as ambulâncias para fins militares. A linguagem usada por boa parte da imprensa ocidental transforma-os também em civis. Ou civis inocentes como é hábito dizer. Inversamente Israel tem militares. Ou seja, culpados, logo à partida.

b) Entre palestinianos, o estatuto de refugiado é eterno e transmissível
O que quer dizer exactamente a expressão "campo de refugiados palestinianos em Gaza"? Quer dizer que em território palestiniano, Gaza, existem palestinianos que saíram, há décadas, de localidades que fazem hoje parte de Israel (e também da Jordânia e do Egipto pois parte do território do Estado Palestiniano criado em 1948, ao mesmo tempo que o Estado de Israel, e recusado pelos países árabes, acabou por ser integrado naqueles dois países). Estes palestinianos mantêm-se com o estatuto de refugiados nos territórios palestianianos que eles mesmos administram. O que de mais equivalente com esta situação se pode conceber seria os retornados portugueses terem sido mantidos em campos, em alguns casos com direitos diferentes dos outros cidadãos da então metrópole, e ainda hoje eles, os seus filhos, netos, bisnetos e demais descendência serem todos considerados refugiados e Portugal continuar a exigir o direito do seu regresso às localidades donde fugiram nos anos 70. Esta condição de refugiado crónico condenou os palestinianos à exclusão que nenhum país democrático aceita para os seus cidadãos. Por isso os retornados são hoje simplesmente portugueses tal como milhares de judeus que após a criação do Estado de Israel tiveram de fugir dos países árabes como Marrocos, Egipto, Iraque, Líbia, Síria, Argélia, Tunísia e Iemen são simplesmente israelitas.

c) Toda e qualquer iniciativa de defesa levada a cabo por Israel está condenada ao fracasso. Se triunfa é porque é desproporcionada
Se de todo em todo se admite que Israel poderá reagir, logo se avisa que a estratégia escolhida está errada. (A propósito, qual é o balanço do tão vilipendiado muro?) Como, apesar de tanta opinião em contrário, Israel sobreviveu e mantém uma vitalidade política invejável, então temos o problema da desproporção da resposta. A não ser para aqueles que desejam o desaparecimento de Israel, dificilmente se entrevê um cenário mais terrível do que aquele que resultaria caso a situação fosse inversa - o Hamas ou a Fatah terem mais capacidade militar do que o exército israelita - ou terem forças equivalentes. A óbvia superioridade militar de Israel impede uma escalada da violência para níveis certamente inimagináveis.

d) As informações do médico norueguês, do padre católico e da activista da ONG são absolutamente verdadeiras
Estas fontes emudecem quando os ataques ocorrem entre os palestinianos e são possuídas por uma apreciável verborreia quando Israel intervém. Mas o seu papel mais grave nem é tanto o que de falso por vezes dizem mas sobretudo o facto de pouparem os líderes palestinianos a prestarem declarações. O discurso destes últimos, sobretudo se forem os integristas do Hamas com as suas promessas de extermínio de Israel e muita retórica do martírio religioso, gera anticorpos nas sociedades ocidentais. O médico norueguês, o padre católico e a activista da ONG não só são ocidentais como falam como ocidentais para ocidentais. De cada vez que eles falam, Israel torna-se no responsável por tudo o que acontece. Quando fala o Hamas, Israel ganha senão simpatia pelo menos compreensão.

Jornalista

publicado por Boaz às 22:33
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Terça-feira, 6 de Janeiro de 2009

O anti-sumita


Numa recente manifestação anti-Israel em Nova Iorque.

O cartaz diz: "Morte a todos os Sumos". Pelo cartaz, o barbudo de turbante, é a favor de se acabar de vez e da forma mais peremptória, com todos os sumos (juice, em inglês). Por mim acabava-se só com o sumo de tomate e o de goiaba.

publicado por Boaz às 23:32
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Quando é que o "aba" regressa?

Numa altura em que o país está em guerra, milhares de famílias em Israel estão suspensas pelas notícias. Não apenas por uma razão de solidariedade e preocupação nacional – somente nestas situações extremas o país consegue unir-se, ultrapassando as profundas marcas da crónica desunião da sociedade israelita. O foco das atenções é dirigido aos soldados que estão destacados em Gaza.

A calma nota-se, mas não deixa de ser aparente. Tudo funciona como numa época normal. E a maioria das notícias é positiva para o lado de Israel. Até ver... Porém, pais, esposas e filhos esperam ansiosos por notícias dos milhares de destacados para a frente de combate em Gaza, ou chamados para o serviço militar especial na fronteira com o Líbano e a Síria. Toda a gente conhece alguém que esteja neste momento em Gaza ou numa das fronteiras que, a qualquer momento, poderá tornar-se uma nova frente de batalha. (O Hezbollah deve estar neste momento a fazer as contas do que estará disposto a perder e a ganhar se entrar em guerra com Israel.)

As crianças são as que mais sentem a falta dos pais. Nervosas com a anormal ausência do papá, sobressaltam-se de cada vez que ouvem passos nas escadas ou alguém que toca à campainha da porta. "É o aba!" (É o pai!).

O rabino director do programa dos alunos sul-americanos da Yeshivat HaKotel ligou para o aluno encarregado do grupo, pediu-lhe para que todos ajudarmos a sua esposa o mais que pudermos, enquanto ele estiver de serviço no Golan.

Posso dar graças a Deus por saber que os meus filhos e a minha esposa não passarão por este tipo de ansiedade. Por ter feito aliyá (imigração para Israel) já depois da idade de 30 anos, não precisei de fazer o serviço militar. Apenas imagino o temor dos filhos e das esposas dos meus compatriotas soldados.

publicado por Boaz às 21:38
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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

Um dia normal... e a guerra ao longe

A vida segue normal, dentro do possível em Israel. Nas orações da manhã, em todas as sinagogas de Israel, salmos especiais são ditos pelos soldados que combatem no sul. Na viagem à boleia, a caminho da yeshiva, em Jerusalém, escuto com atenção as notícias na rádio. Na volta, ao início da noite, a mesma coisa. Fora do bulício de Jerusalém, de vez em quando, é possível escutar os helicópteros de vigilância. Mais soldados são levados para a região de Gaza.

Em Jerusalém, a guerra é "lá longe". Não que Israel seja um país grande – é menor que o Alentejo. Gaza fica a menos de duas horas da capital, mas é suficientemente longe para a tranquilidade ser aqui, praticamente absoluta.

De manhã, passo por jovens árabes de Jerusalém nas suas aulas de condução, na estrada de Hebron. O comum israelita espera pelo autocarro na paragem, como todos os dias. Os autocarros andam cheios. Notam-se mais polícias e soldados nas ruas. Não é nada que não tenha visto anteriormente. Na yeshiva, um aluno armado guarda a entrada - como vem sendo a norma desde há alguns meses (desde o atentado terrorista na yeshiva de Mercaz Harav).

À chegada, soube que o rabino brasileiro director do programa dos alunos sul-americanos foi chamado esta semana para miluim, o serviço de preparação periódica do Exército ao qual estão obrigados os ex-soldados, até aos 40 e poucos anos. Deixou em casa a mulher e o filho de dois anos. Está no gelado Monte Hermon, nos Golã, junto à fronteira síria. Esperemos que a Síria e o Hezbollah no Líbano, ali ao lado, não reservem surpresas nesta altura.

A meio da manhã, uma aula especial do Rosh Yeshivá, o director da yeshivá. Falou da importância do estudo de Torá nesta altura difícil para Israel. Os ânimos são altos. Milhares de famílias têm os filhos em Gaza. No entanto, há confiança entre os israelitas, apesar da situação difícil em Sderot, Beersheva, Ashdod e Ashkelon. E há união, num país normalmente tão dividido. Os jornais, tanto da esquerda como da direita, mostram-se ao lado da operação do Exército e da decisão do governo.

Permitam-me não pensar em Gaza, excepto nos soldados israelitas que lá estão a lutar contra o terror do Hamas. Há várias centenas de milhões de árabes e milhares de europeus eriçados a preocupar-se e a manifestarem-se pelos habitantes de Gaza. Deixem-me pensar nos israelitas que vivem nas cidades próximas da Faixa.

PS – A vida segue normal, dentro da anormalidade das notícias. A aproximação da chegada do bebé é a única coisa extraordinária no nosso quotidiano familiar. Hoje comprámos os lençóis do berço, as primeiras fraldas e o champô com que tomará os primeiros banhos.

publicado por Boaz às 00:30
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Galeria de imagens da experiência como voluntário num kibbutz em Israel.


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