Há poucos dias, uma orquestra composta por crianças do campo de refugiados palestinianos de Jenin realizou uma pequena actuação em Israel. A audiência: um grupo de sobreviventes do Holocausto. As crianças eram membros da orquestra palestiniana "Cordas da Liberdade" baseada naquele campo de refugiados. O concerto foi realizado no Centro de Sobreviventes do Holocausto de Holon, uma cidade próxima de Tel Aviv.
A princípio, as crianças não sabiam que iriam tocar para tal plateia. Os espectadores também não sabiam da proveniência das crianças. As crianças pensavam que era apenas um grupo de idosos israelitas. Os sobreviventes pensavam que as crianças provinham de uma aldeia árabe vizinha.
A surpresa mútua despertou curiosidade pela história de ambos os grupos. A vida dos refugiados palestinianos não é assunto de quotidiano em Israel. As crianças nunca tinham ouvido falar do Holocausto - não é assunto ensinado nas escolas palestinianas, e se, por acaso for mencionado, é mostrado apenas como "propaganda sionista".
Hoje, em reacção à participação das crianças no concerto, a orquestra foi desmantelada por autoridades palestinianas. O apartamento onde funciona a escola de música foi confiscado. O caso foi visto como "perigoso, porque foi dirigido contra a identidade cultural e nacional dos Palestinianos".
Mais importante do que cultivar a música ou o entendimento, é manter a luta. Manter as crianças treinadas na propaganda da causa, está acima de tudo.
Imigrantes, migrantes e refugiados. Três termos que fazem parte do quotidiano de Israel. A maioria dos israelitas é imigrante (como eu, por exemplo), aquilo que em hebraico se chama oleh – o que fez aliyá, a imigração para Israel. Ou, se eles próprios não são imigrantes, serão a primeira ou segunda geração de cidadãos de Israel. São poucas as famílias que se estabeleceram em Israel há mais de três gerações.
Além da muito discutida situação dos refugiados palestinianos, a história de Israel é marcada pelas sucessivas ondas de refugiados judeus. Primeiro, os quase um milhão de judeus países árabes. Depois, sucessivamente, os judeus do Irão, da ex-União Soviética. Os judeus argentinos e uruguaios chegaram durante a crise económica na América Latina, enquanto uma nova vaga de anti-semitismo na Europa fez chegar os franceses nos últimos anos.
Na última década, com o desenvolvimento económico – em especial depois do abrandamento da violência da Segunda Intifada, milhares de imigrantes não-judeus chagaram ao país para trabalhar. É um fenómeno corrente em todas as sociedades modernas. Em Portugal, e na generalidade da Europa Ocidental são os africanos, os chineses, os sul-americanos e os europeus do Leste. Nos EUA são os mexicanos ou os cubanos. Em Israel, a imigração económica é quase totalmente asiática: filipinos, tailandeses, chineses, cingaleses (do Sri Lanka). Nos últimos anos, surgiram dois novos fenómenos das migrações para Israel: os sudaneses e os eritreus.
Vestido de menina africana na cerca da fronteira Israel-Egipto, 20-8-07. Foto de Yonathan Weitzman.
Do Sudão chegaram refugiados do Darfur. Fogem de um dos mais trágicos e ignorados conflitos actualmente no Mundo, iniciado em 2003. As milícias árabes Janjaweed que contam com o apoio do governo sudanês lutam contra vários grupos de guerrilha de tribos não-árabes da região. De acordo com organizações não-governamentais, o número de mortos poderá ultrapassar os 500.000. Os refugiados são mais de 2,5 milhões. Numa comunidade internacional vesga e cheia de "outros interesses", a única consequência do conflito foram as recentes acusações de crimes de guerra e genocídio contra o presidente do Sudão Omar al-Bashir. Como retaliação pela afronta da crítica, o governo sudanês expulsou as organizações internacionais de ajuda aos refugiados de Darfur.
A guerra, a pobreza e a ditadura na Eritreia levaram a uma pequena vaga de refugiados para Israel. A Eritreia, um país do Leste de África pouco maior do que Portugal, foi parte da Etiópia até à independência, em 1993. É por várias organizações considerada um dos países com pior registo de direitos humanos no Mundo. (Aliás, quem ouviu falar da situação na Eritreia?) O presidente eritreu, Isaias Afewerki, foi incluído na lista dos piores ditadores pela revista Parade Magazine. Toda a imprensa é controlada e as eleições são proibidas por "polarizarem a sociedade".
Em Israel, algumas centenas de refugiados sudaneses receberam asilo político, algo extraordinário, já que provêm de um país que, além de não ter relações diplomáticas com Israel, é visto como um país hostil. Ainda assim, os sudaneses de Darfur receberam ajuda do Estado. As crianças ingressaram nas escolas. Os eritreus começam a substituir os árabes nos trabalhos de limpeza de ruas e edifícios públicos. Em Alon Shevut, dois homens da Eritreia são uma visão comum a cuidar da limpeza pública. Na Yeshivat HaKotel, um jovem eritreu foi a última adição à equipa de funcionários.
O que espanta mais nesta história é que os sudaneses e a maioria dos eritreus são muçulmanos. Arriscaram-se a atravessar mais de 1500 quilómetros de deserto, onde ficaram sujeitos à violência de bandidos, em terras sem lei nem ordem. Na passagem pelo Egipto, sofreram a brutalidade da polícia. Algumas mulheres relataram terem sido violadas. Querem chegar a Israel, o único país judeu do Mundo. O "pequeno Satã" e "inimigo dos Árabes e do Islão". Ainda assim, com todos os seus defeitos, é o porto de abrigo sonhado por muitos.
Era para ser apenas mais um jogo de ténis. Israel defrontava a poderosa Suécia no escalão principal da Taça Davis, a mais importante competição internacional de ténis masculino por equipas. A realizar em Malmö (lê-se "Malmou"), a terceira cidade da Suécia, com várias semanas de antecedência percebeu-se que aquele não iria ser apenas uma partida de ténis. A organização do torneio recebeu ameaças contra a presença dos atletas israelitas. Pouco mais de um mês após a operação "Chumbo Fundido" em Gaza, houve apelos ao boicote ao jogo com a equipa de Israel.
O boicote desportivo de Israel foi demonstrado recentemente pelo Dubai, quando recusou conceder um visto à tenista israelita Shahar Peer para participar no Torneio de ténis da cidade, um dos mais importantes do calendário da modalidade. A organização alegou que a recente operação militar em Gaza iria suscitar sentimentos negativos por parte dos fãs do ténis, contra a presença de atletas israelitas. Contudo, face à enorme controvérsia levantada e sob ameaça da suspensão do Torneio do Dubai do próximo ano, foi concedido um visto ao tenista israelita Andy Ram.
No caso sueco, o facto de a população de Malmö ser composta em quase 40% de imigrantes, a maioria muçulmanos, não foi alheio à massiva campanha anti-israelita intitulada "Parem o Jogo". Houve propostas para mudar o local da partida para outra cidade sueca. Porém, a organização recusou. Ao mesmo tempo, a polícia local declarou-se incapaz de garantir a segurança dos fãs israelitas. Daí que a "solução" foi a realização dos jogos à porta fechada. Para lá do IKEA, fica provada mais uma vez a eficiência sueca.
Malmö: Manifestações nas ruas e o estádio vazio.
No dia anterior aos jogos, houve violentas manifestações anti-Israel na cidade, com cerca de 7.000 participantes. O ambiente era tenso. Apenas um grupo restrito de 300 espectadores foi permitido de presenciar as partidas. Para a história, além da vergonhosa ingerência da política no torneio – política e desporto, digam o que disserem, andam sempre de mãos dadas – ficou a vitória de Israel. Os atletas israelitas foram recebidos como heróis em casa. Já a Suécia e a sua arrogância ficaram a cuspir pó após a derrota face a uma equipa israelita tecnicamente muito inferior.
Este é apenas um dos episódios da recente vaga anti-israelita na Escandinávia. Já esta semana, uma equipa de 45 lutadores israelitas de taekwondo que deveria participar num torneio também na Suécia, foi avisada para ficar em casa. De novo, as autoridades disseram que "não poderiam garantir a segurança" dos atletas e dos fãs que os acompanhassem.
Na vizinha Noruega, durante as semanas em que durou a operação militar israelita em Gaza, realizaram-se algumas das mais numerosas e virulentas manifestações anti-Israel em toda a Europa. Nos jornais noruegueses são comuns as notícias e os artigos de opinião (muitas vezes é difícil distinguir os dois tipos) declaradamente contra Israel. O mais famoso escritor norueguês da actualidade, Jostein Gaarder (autor do best-seller O Mundo de Sofia) é um dos mais ferozes intelectuais anti-Israel no país.
Esta hostilidade contra Israel traduz-se também em ameaças aos judeus suecos e noruegueses. Os ataques contra sinagogas têm aumentado de frequência. Em várias ocasiões, artistas têm realizado livremente actuações de carácter visivelmente anti-semita. Em 2004, um museu de Estocolmo exibiu a peça Branca de Neve e a Loucura da Verdade, em que glorificava uma terrorista suicida palestiniana que tinha morto 22 pessoas num café de Haifa. A exposição era coordenada por uma conferência pública sobre a prevenção do genocídio. Na Noruega, o comediante Otto Jespersen, numa das suas rotineiras actuações na televisão pública troçou: "Eu gostaria de aproveitar a oportunidade de lembrar todos os biliões de pulgas e piolhos que perderam as suas vidas nas câmaras de gás alemãs, sem terem feito nada de errado a não ser viver em pessoas de origem judaica". Na ocasião, uma queixa foi feita por um cidadão judeu contra o comediante. O artista recebeu o apoio declarado dos colegas e da televisão pública.
Historicamente, a Suécia e a Noruega, tidas como países liberais e defensores de nobres causas, têm um registo secular de anti-semitismo. Em 1685, o Rei Carlos XI da Suécia passou uma lei proibindo os Judeus de viver no país "pelo perigo da eventual influência da religião judaica na pura fé evangélica". Leis especiais anti-judaicas existiram na Suécia até meados do século XIX. No caso da Noruega, os Judeus foram oficialmente proibidos de residir no país durante mais de 800 anos, até ao século XIX.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as autoridades da Noruega forneceram aos Nazis (que ocupavam o país) as listas dos membros da minúscula comunidade judaica. Mais de 700 judeus noruegueses morreram em Auschwitz. A Suécia, neutra durante a Guerra, acolheu a pedido da Dinamarca a quase totalidade dos judeus dinamarqueses, marcados para a morte pelos Nazis. As acções heróicas do diplomata Raoul Wallenberg, que salvou milhares de judeus húngaros da deportação, garantiram um bom-nome à nação.
Preso pelo Exército Vermelho depois da Guerra, Raoul Wallenberg desapareceu na escuridão do Gulag (o sistema soviético de "reeducação", eufemismo para campos de concentração e de trabalhos forçados). Numa desconhecida vala-comum onde jazerá, algures na Sibéria, o cadáver de Raoul Wallenberg deve revolver-se, perante o estado a que chegou a grandiosa democracia escandinava.
História macabra (divulgada a semana passada no Brasil, mas podia ser em qualquer outro lugar): pai viola filha de 9 anos. A menina fica grávida (de gémeos). A mãe da menina decide que a filha deve fazer um aborto. Perante o escândalo, o bispo católico de Recife excomunga a mãe e os médicos por terem autorizado (ela) e realizado (eles) a interrupção da gravidez.
"Não existe pecado sem perdão, mesmo para a pessoa que cometeu aborto. Agora, para receber o perdão é preciso arrepender-se, é preciso uma conversão", disse dom José Cardoso Sobrinho.
O pai exemplar não é mencionado na lista dos excomungados, nem na dos pecadores...
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