Israel não é exceção à regra mundial da recessão económica. Também aqui se fazem sentir os abalos da crise mundial, resultado de uma economia moderna e com fortes ligações ao estrangeiro. Uma das áreas mais afetadas é o negócio dos diamantes, do qual Tel Aviv é um dos principais centros mundiais de lapidação e de comércio.
As principais empresas israelitas têm participação de empresas estrangeiras, em especial americanas. Ao mesmo tempo, boa parte dos negócios das companhias locais é feito em outros países. De acordo com as estatísticas, Israel será, após os EUA e o Canadá, o país com mais empresas cotadas no NASDAQ, o índice das empresas tecnológicas da Bolsa de Nova Iorque. Basta este dado para perceber a exposição do país à influência da situação económica internacional.
O recente escândalo financeiro realizado por Bernard Madoff afectou com especial severidade inúmeras fundações filantrópicas judaicas americanas, as quais por sua vez patrocinavam outras instituições em Israel. Yeshivot, organizações de caridade e de desenvolvimento de projectos no país foram especialmente afectados pela bancarrota de Madoff.
Milhares de famílias em Israel, em especial as famílias numerosas dos judeus ultra-ortodoxos, são mantidas em grande parte com ajudas de organizações de caridade. Muitos dos habituais doadores para causas israelitas, falidos pelo esquema de Madoff ou simplesmente afetados pelo panorama sombrio nas finanças mundiais, reduziram as suas contribuições.
Depois da crise nos têxteis – também por cá a mão-de-obra mais barata do Oriente cortou postos de trabalho –, e nas empresas de produção agrícola, até o outrora robusto sector das novas-tecnologias – principal base da economia de Israel – foi afectado pelo recuo económico internacional. Milhares de trabalhadores dispensados, redução das horas de trabalho e do respetivo salário e congelamento das contratações foram a regra durante os últimos meses.
As universidades e centros de investigação da área tecnológica deixaram de parecer tão atrativos para os jovens que escolhem uma futura carreira profissional. Ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos. Ainda assim, a área das novas tecnologias, como a bioquímica e as novas energias são apostas de muitos jovens. A crise (como a bonança) não é eterna.
Há anos que a moeda israelita, o novo shekel, se tem valorizado progressivamente em relação ao dólar e ao euro. Até ao ano passado, as rendas das casas eram cobradas em dólares, mas face à acentuada desvalorização da moeda dos EUA, passaram a ser cobradas diretamente em shekels. A moeda forte – ainda mais depois de o shekel ter passado a integrar o grupo de divisas que podem ser cambiadas em todo o mundo – é boa para as centenas de milhar de israelitas que passam férias no estrangeiro. Porém, é má para as exportações israelitas.
Morar em Israel esteja cada vez mais caro. Tel Aviv é mesmo a cidade mais cara do Médio Oriente. Mais ainda do que as metrópoles dos petrodólares e da megalómana arquitectura futurista de Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. E a nível mundial é a 17ª cidade mais cara, ao nível de Roma e Nova Iorque.
Em Jerusalém, com crise ou sem ela, a verdade é que os mercados de rua, os supermercados, os cafés e restaurantes e os centros comerciais estão sempre bem apinhados. Os turistas enchem a Cidade Velha. O principal clube de futebol da capital, o Beitar, recebeu uma lufada de ar fresco de um milionário brasileiro. A Macabíada, uma espécie de Jogos Olímpicos Judaicos realizados em Israel a cada 4 anos, realizou-se com pompa e milhares de atletas, apesar dos apertos nas finanças e do receio da gripe A. Ou seja, a crise bate às portas, mas não as deita abaixo. Pelo menos a todas.
O ministério da Educação de Israel, preocupado em incutir uma maior identificação com os símbolos nacionais nos estudantes do país, renovou o currículo sobre a história e o significado do Hatikvá, o hino nacional de Israel.
Para ser distribuído nas escolas seculares e religiosas do estado - mas não nas escolas ultra-ortodoxas e árabes, pouco recetivas àquilo que consideram "propaganda sionista" - a nova informação sobre o hino israelita deverá ser incorporada nas matérias das diferentes disciplinas. Novas pesquisas foram feitas sobre a origem da letra e da melodia do hino nacional israelita.
Até agora, era aceite que a melodia teria origem numa balada do folclore da Roménia. No entanto, foi descoberta uma fonte mais antiga, num texto de 1330 escrito com as anotações musicais da época, numa antiga sinagoga portuguesa.
Da próxima vez que cantar o hino de Israel vou tomar mais atenção à melodia. Talvez até consiga detectar nele algum tom de fado.
Os colonatos judaicos ainda são uma opção mais económica em relação ao crescente preço das casas nas principais cidades de Israel. Na região de Jerusalém, as opções são Gush Etzion, Maale Adumim ou Beitar e outras dezenas de colonatos mais pequenos. Porém, até aí os preços das casas têm aumentado. Por exemplo Beitar Illit, um gigantesco colonato de população ultra-ortodoxa, tradicionalmente bem mais barato que Jerusalém, já começa a ser demasiado caro para as novas famílias. Muitos casais jovens apenas conseguem arrendar uma cave apertada, com a perspetiva de terem de viver aí com as suas famílias que crescem rapidamente.
Nuvens ao pôr-do-sol sobre o colonato de Efrat, 2006.
Numa época de recessão generalizada nos preços imobiliários, o aumento dos valores das casas nos arredores de Jerusalém deve-se em grande parte às crescentes pressões americanas de congelamento da construção nos colonatos. Os colonatos dos arredores, assim como o recente bairro de Har Homa no sudeste de Jerusalém, eram as opções ideais para quem procurava casas espaçosas e baratas.
Todavia, a gravidade da crise nos EUA que fez aumentar em 15% a imigração de judeus americanos para Israel e a chegada em massa de imigrantes franceses – por via da vaga de anti-semitismo que tem assolado a França na última década –, ambos com maior poder de compra que o israelita médio, fizeram agravar os preços. As leis de mercado são claras: com pouca oferta e muita procura, o resultado foi o disparo do preço das casas em toda a região de Jerusalém.
O ritmo da construção nos colonatos abrandou após a eleição de Obama para a presidência americana, o qual não tem parado de pressionar Israel para congelar toda e qualquer colonização dos territórios disputados com os Palestinianos, incluindo o "crescimento natural da população". Ou seja, os filhos de colonos que se casem, não poderão viver junto aos pais, porque qualquer nova construção – na mente de Obama e da nova administração americana – é ilegal. No fundo, o que se pretende é abolir o mandamento "crescei e multiplicai-vos".
Ainda assim, desafiando as pressões, algumas ordens de novas construções foram emitidas pelo governo para os colonatos de Maale Adumim, Adam e Modi'in. A população local exige do governo que se preocupe mais com os seus cidadãos do que com as pressões oportunistas do "amigo americano".
Na tradição judaica, a Torá é dividida em porções semanais, as parashiot, lidas publicamente na sinagoga na manhã de Shabbat. Uma parte mais reduzida da mesma porção semanal é lida também no serviço religioso matinal às segundas e quintas-feiras.
Estes três dias da semana, em que é lida a Torá, são também ocasiões para o Bar Mitzvá – a cerimónia de passagem dos rapazes judeus de 13 anos à idade adulta. É evidente que em muitos aspetos, um rapaz de 13 anos é ainda um adolescente, mas a lei judaica determina que a partir dessa idade – exatamente 13 anos e um dia – ele passa a ser responsável por si mesmo no cumprimento dos preceitos religiosos.
O Bar Mitzvá – literalmente "filho do mandamento" – é o momento para uma festa pública em honra do rapaz. O acontecimento central da celebração é a leitura pública do rolo da Torá, pela voz do próprio "bar mitzvado". Após alguns meses de treino intensivo, aprendendo o texto e a melodia especial da leitura da Torá, o jovem mostra os seus dotes de baal korê, o leitor da Torá.
A família que decide fazer o Bar Mitzvá no Shabbat organiza depois um banquete público – ou no mínimo um pequeno lanche matinal – após o final do serviço religioso. Muitas famílias, em especial as não-tanto-religosas, decidem fazer a festa no Kotel, o Muro Ocidental, em Jerusalém, às segundas e quintas-feiras. São esses os dias mais movimentados no lugar mais santo do Judaísmo. Dezenas de rapazes, acompanhados pelas suas famílias rumam ao Kotel para a sua festa de Bar Mitzvá. Com eles, chegam fotógrafos e operadores de câmara com a missão de perpetuar o momento para a posteridade.
Para os menos preparados na arte de ler a Torá, alguém mais experiente é convidado para fazer a leitura em seu lugar. Nesses casos, a participação do rapaz no ritual limita-se então a "subir à Torá": aproxima-se do rolo da Torá, faz uma bênção e escuta a leitura. Por várias vezes, presenciei cerimónias de Bar Mitzvá de rapazes de famílias não-religiosas. A estranheza do rapaz perante tal momento inédito na sua vida é comovente. Ele é um alienígena num planeta desconhecido, um planeta que os pais nunca lhe mostraram.
Ele é o ator principal daquela peça, mas está totalmente baralhado pelo seu papel, imerso na estranheza – para ele – dos rituais. Para muitos destes filhos de famílias "afastadas", esta será a primeira vez que participam num serviço religioso. Ainda assim, a família pouco cumpridora dos mandamentos diários, teima em manter a tradição e realiza a festa do rito de passagem do seu filho com grande orgulho e empenho.
Judeus estrangeiros abastados, em especial americanos, têm o costume de vir a Jerusalém por ocasião do Bar Mitzvá dos seus filhos. À porta do hotel onde a família fica hospedada, são afixadas faixas de felicitação ao "novo adulto" e em alguns pontos estratégicos do trajeto até ao Muro cartazes indicam o local da festa aos outros convidados.
Nas décadas mais recentes, introduziu-se este costume também para as meninas. Ao atingir a maturidade religiosa aos 12 anos, as meninas judias também têm uma celebração especial. Não lêem da Torá, nem ninguém lê a Torá para elas publicamente. A versão feminina deste rito de passagem não é mais do que um banquete com as amigas. Por vezes, o banquete é partilhado por várias meninas de 12 anos que celebram juntas o seu Bat Mitzvá, "a filha do mandamento". Inventado pelas correntes reformistas do Judaísmo, desejosas da "integração" e "igualdade" da mulher na vida religiosa judaica, aos poucos o ritual foi penetrando no mundo ortodoxo judaico. Com algumas reticências, como é óbvio.
No Brasil, por exemplo, é costume a festa de Bar mitzvá ser uma oportunidade para a ostentação do status familiar. Os banquetes contam com a atuação de estrelas da música local – conheço gente que teve a Elba Ramalho ou um desfile de escola de samba na sua "pouco ortodoxa" festa.
Em todos os casos, o Bar Mitzvá e o Bat Mitzvá – ortodoxo, reformista, ou meio-termo, é um momento de festa que é recordado para toda a vida. Para os afastados, será das raras vezes que tiveram e terão contato com a tradição judaica – talvez por muitos anos. Para outros, é exatamente aquilo que a festa pretende ser: a porta de entrada na vida judaica ativa. O momento em que eles passam da inconsequente menoridade, à consciente adoção da rica e extraordinária tradição judaica.
Celebração de Bar Mitzvá no Kotel, Jerusalém, 8 de Adar de 5767 (26.2.2007)
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