align=justify>face=verdana size=2>Logo após a criação de Adão por Deus, este foi ordenado a dar continuidade à sua própria espécie. "Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e conquistai-a". Esta foi a primeira ordem divina ao ser primeiro humano recém-criado. Nenhuma outra criatura: animal, peixe ou planta, foi instruído para se reproduzir. Podemos presumir dessa exclusiva ordem divina aos humanos que "reproduzir-se" é mais do que seguir a lei natural, comum a todas as criaturas vivas.
align=justify>face=verdana size=2>Em todas as culturas – dos "primitivos" caçadores-recoletores da Nova Guiné aos "moderníssimos" japoneses, a formação de uma família é rodeada de uma simbologia especial. A família é a génese de todas as civilizações. Numerosos povos têm na sua mitologia histórias de pais, filhos e irmãos. Desde Zeus/Júpiter e os seus numerosos filhos que constituem o topo do panteão de deuses greco-romanos até às humanas dinastias reais em que o filho sucede – na maioria dos casos – ao pai.
align=justify>face=verdana size=2>Também no Judaísmo, desde os tempos do patriarca Abraham, que a família é a base da transmissão das tradições. Logo ao oitavo dia, os rapazes judeus são circuncidados. Em hebraico
brit milá, o ritual é um dos mais respeitados no Judaísmo. Marca a entrada no pacto entre Deus e Abraham, daí que seja chamado o "pacto do nosso patriarca Abraham".
align=center>
face=verdana size=1>
Cohanim, os membros da casta sacerdotal, abençoam um menino de oito dias,
após a circuncisão, Jerusalém, 2006.
align=justify>face=verdana size=2>Em geral, nas festas judaicas, a família tem um papel ativo nas celebrações. Em Pessach (a Páscoa Judaica), é em volta da mesa familiar que se realiza o
Seder, a refeição acompanhada do relato do Êxodo da escravidão egípcia para a Terra de Canaã. A participação das crianças no desenrolar do
Seder é essencial. Em Succot, a Festa das Cabanas, toda a família come durante sete dias em cabanas construídas na varanda ou no pátio da casa. As crianças contribuem para a decoração da
sucá, a cabana, e dormir aí, em vez da normalidade de dormirem no seu quarto, transforma-se numa experiência inesquecível.
align=justify>face=verdana size=2>Ao longo da longa corrente das gerações do Povo Judeu, o nascimento de uma criança é considerado uma grande bênção. Israel é, entre os países desenvolvidos do Mundo, aquele que apresenta a taxa de natalidade mais elevada, ainda bem acima de dois filhos por mulher. Pelo contrário, na Europa e Japão a natalidade tem caído para níveis muito abaixo daquele que é o valor mínimo necessário para a renovação das gerações.
align=justify>face=verdana size=2>Entre as comunidades ultra-ortodoxas a média é mesmo superior a 8 filhos por mulher, uma das taxas mais altas do Mundo. E a taxa tem crescido, em contraste com a tendência mundial. Ao contrário, entre as mulheres árabes israelitas (e também as palestinianas), a natalidade tem decrescido gradualmente, situando-se por volta dos 4 filhos por mulher. A crescente escolarização das mulheres árabes em Israel – o país conta com a mais alta alfabetização das mulheres árabes no Médio Oriente – e a sua maior participação no mercado de trabalho, tem feito adiar a idade do casamento e decrescer o número de filhos em relação às gerações anteriores. (Estes dados deitam por terra a tão apregoada e quase apocalíptica teoria da bomba demográfica árabe em Israel.)
align=justify>face=verdana size=2>Mesmo entre os judeus seculares, com o seu estilo de vida tipicamente ocidental, a média de filhos por mulher é superior aos seus congéneres europeus ou americanos. É comum encontrar casais não-religiosos passeando com três criancinhas. Enquanto isso, na Europa, é mais comum ver um casal a passear com dois cachorros do que com duas crianças. Em outras sociedades tradicionais, os filhos eram vistos como uma forma de garantir a velhice e o sustento dos pais. No Povo Judeu, perseguido durante séculos, os filhos são vistos como a garantia da sobrevivência, acima de tudo, das tradições.
align=justify>face=verdana size=2>Em Alon Shevut, o colonato judeu religioso onde eu moro, os habitantes têm o costume de ajudar a família onde nasceu uma nova criança. Durante uma semana, assim que a mãe regressa da maternidade, a família recebe comida pronta dos vizinhos que se juntam para colaborar. A cargo com um novo bebé, a mãe não precisa, pelo menos durante uma semana, de cozinhar.
align=justify>face=verdana size=2>Não é por acaso que os Judeus são conhecidos como Filhos de Abraham, ou Filhos de Israel. A vivência judaica assenta antes de mais na transmissão das tradições dentro da família, para a próxima geração. Com a chegada de uma nova criança à família, também nós somos agraciados com a bênção de adicionar mais um anel na longa e milenar corrente do Povo de Israel. É sem dúvida, o melhor "Mazal tov!" que se pode receber.
align=justify>face=verdana size=2>De repente, alguém desconfia de algo anormal. Dá o alarme. A zona é evacuada. Carros da polícia chegam para bloquear as ruas nas imediações. Os pedestres são impedidos de passar. É assim, cada vez que se descobre algum
hafetz hashud, um objeto suspeito. Não são assim tão comuns no dia-a-dia israelita, mas não há quem não tenha passado por pelo menos um episódio destes. Quase se podia considerar uma experiência tipicamente israelita.
Soldado com um fato anti-explosivos. No filme "The Hurt Locker".align=justify>face=verdana size=2>Encontrado num lugar público, seja no meio da rua, num centro comercial ou numa estação de transportes, a resposta a uma situação de "objeto suspeito" é sempre a evacuação dos civis. Em breves minutos, um esquadrão anti-bomba da polícia chega ao local para analisar o problema. Nos casos mais complicados aparece um veículo-estilo-robô que recolhe o objeto e o faz explodir de forma controlada. Noutros, um elemento da brigada anti-explosivos envolto num fato à prova de explosões (não todas, obviamente) aproxima-se para verificar o incómodo com olhos humanos.
align=justify>face=verdana size=2>Em cinco anos de residência em Israel, já assisti a estes espetáculos por vezes hollywoodescos. Felizmente, em nenhuma deles o perigo era real. Na última das situações, ontem mesmo durante o regresso a casa, observei as pessoas que tal como eu esperavam que o episódio se resolvesse. Habituadas a incontáveis incidentes do género, em especial durante os anos da Segunda Intifada, respondiam com uma expressão de tédio à informação de que se tratava de mais um
hafetz hashud. Fazer o quê? Resta esperar. A polícia não deixa passar ninguém.
align=justify>face=verdana size=2>Em alguns minutos apenas, a situação resolve-se. O trânsito volta a circular. Em todas as paragens de autocarros acumulam-se passageiros impacientes, desconhecedores do que se passou no outro lado da cidade. Ao terminar a situação de alerta chegam filas de autocarros que haviam ficado retidos no bloqueio da rua.
align=justify>face=verdana size=2>A desconfiança securitária em Israel é por vezes stressante e exagerada. Na vida quotidiana, a qualquer momento, a normalidade pode ser interrompida por um objecto deixado no sítio errado. Talvez seja inocente – a maioria das vezes é mesmo –, mas não há lugar para indulgências quando está em causa a segurança pública. As ameaças por estes lados são um pouco mais sérias do que as que existem em quase todo o resto do Mundo.
align=justify>face=verdana size=2>Os Judeus, apesar do seu pequeno número em relação à população mundial – algo como 0,2% da humanidade –, são bastante variados em termos de costumes. Aquilo que em hebraico se chama min’hag. Tradicionalmente dividem-se em sefarditas e askenazitas. Os primeiros são provenientes da Península Ibérica (Sefarad em hebraico, que ainda hoje é também o nome para Espanha) e dos países árabes. Os segundos são descendentes das comunidades do Vale do Reno, na Alemanha (Ashkenaz em hebraico, ainda que hoje se lhe chame
Guermânia) e da Europa Oriental. Além destes, ainda há alguns pequenos grupos como os judeus Italianos e os Iemenitas, que têm costumes muito próprios.