Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011

De bolha em bolha (de Copacabana aos Campos Elísios)

align=justify>face=verdana size=2>Há uns tempos, em conversa com um amigo americano sobre o lugar onde moramos, ele comentou que, por eu residir no colonato religioso de Alon Shevut, vivia numa espécie de "bolha". Em jeito de piada eu comentei-lhe que na verdade eu vivia dentro da "bolha brasileira" dentro da "bolha de Alon Shevut". Ele mora no vizinho colonato de Efrat, o melhor exemplo de uma "bolha americana" em Israel. align=center>face=verdana size=2>align=justify>face=verdana size=2>Desde que cheguei a Israel, há quase 7 anos, que o meu contacto com a sociedade israelita tem sido quase marginal. Eu explico. Vim para estudar num curso de conversão para sul-americanos, em que as únicas línguas usadas eram o português e o espanhol. Daí passei para uma yeshivá, o Machon Meir, estando integrado no grupo de estudos sul-americano. No meu quarto, falava português com os companheiros brasileiros e, pela falta do hebraico, usava o inglês com os dois companheiros israelitas. Apenas com um deles, de origem russa e com um inglês escasso, tentava falar um pouco em hebraico, à medida que ia aprendendo nas aulas do ulpan ivrit (curso oficial de hebraico). align=justify>face=verdana size=2>Ao passar para a Yeshivat Hakotel, de novo para um programa de sul-americanos, o hebraico era apenas a quarta língua usada no meu dia-a-dia. Antes da língua sagrada, estavam o português, o espanhol e o inglês, usado com os muitos colegas americanos da yeshivá. O hebraico limitava-se às orações e os livros de estudo, mas não às discussões talmúdicas com os meus companheiros de estudo, que eram sempre brasileiros. align=justify>face=verdana size=2>O mesmo aconteceu depois de entrar no grupo de alunos do kollel, a classe dos alunos casados, que estudam Torá num nível avançado. Na altura, tinha aberto um kollel para sul-americanos na yeshivá e eu integrei o grupo estreante. Apesar de estudarmos as fontes da Halachá (a Lei Judaica) na sua forma original em hebraico e aramaico, as duplas de estudo e discussão e as classes de semanais de revisão e desenvolvimento da matéria eram feitas exclusivamente em português. align=justify>face=verdana size=2>Depois de casar, com uma brasileira, fomos viver para Alon Shevut, um pequeno colonato religioso 20 quilómetros a sul de Jerusalém, na região de Gush Etzion. A razão para a escolha da morada foi simples: a referida "bolha brasileira". Estar com pessoas que falam a mesma língua, e as quais já conhecíamos antes de casar, seria uma boa forma de nos integrarmos na vida local. align=justify>face=verdana size=2>Conhecemos e somos próximos de quase todas as famílias brasileiras do povoado. É comum partilharmos a mesa de Shabbat, quer recebendo visitas ou sendo visitantes em suas casas. As crianças das famílias brasileiras são também bastantes próximas, se bem que muitas vezes brinquem em hebraico – a língua do infantário e da escola – e não tanto em português. align=justify>face=verdana size=2>A língua sagrada, ainda que se fosse desenvolvendo naturalmente, era relegada para as ocasionais conversas de rua, no supermercado e no autocarro ou com os vizinhos israelitas. Mas sempre com a sensação de ser ainda uma língua estrangeira. Consigo pensar em português e mesmo em inglês ou espanhol, mas ainda não em hebraico. align=justify>face=verdana size=2>Ao entrar no curso de preparação para shelichut, o meu nível de hebraico foi forçado a aumentar. Todas as classes, e praticamente todas as conversas com os companheiros de curso, eram exclusivamente em hebraico. Ainda que, no início, tenha perdido um pouco do conteúdo das aulas pelas dificuldades do idioma, o meu nível de hebraico melhorou consideravelmente com o tempo. align=justify>face=verdana size=2>Há uns meses, chegou a hora de deixar a yeshivá e procurar trabalho "lá fora". Depois de algumas semanas de procura, encontrei um emprego numa empresa de call-center. A empresa é israelita, mas trabalha exclusivamente para o mercado internacional, em especial a França. No meu caso, sou o encarregado do serviço de atendimento aos clientes de uma empresa de material informático francesa que tem negócios em Portugal e Espanha. Mesmo a calhar. Por e-mail ou pelo telefone, trabalho exclusivamente nos idiomas ibéricos. Com os colegas de trabalho, todos franceses, falo em hebraico e começo a recuperar o idioma de Voltaire, abandonado desde que deixei de o estudar, no 9º ano da escola. align=justify>face=verdana size=2>Apesar de ter encontrado trabalho, e de não me queixar das condições, continuo à procura de outro lugar. Ainda penso ser possível encontrar algum lugar onde possa por em prática aquilo que aprendi na faculdade. Se não for ao serviço do negócio da comunicação, que fosse ao serviço do Estado de Israel. Possivelmente, ainda demorará algum tempo até conseguir sair da bolha brasileira (e agora francesa) e finalmente integrar plenamente a sociedade israelita. Porém, como alguém me disse uma vez: "apesar de viver há mais de 30 anos em Israel, a dupla identidade – israelita e estrangeira – é algo que nunca nos larga".
publicado por Boaz às 22:03
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Galeria de imagens da experiência como voluntário num kibbutz em Israel.


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