O turismo cristão é uma das maiores fontes de receitas para a Autoridade Palestiniana. As quadras do Natal e Páscoa, as maiores festividades do Cristianismo, trazem à Terra Santa dezenas de milhares de turistas de quase todo o Mundo. (Digo "quase", porque os nacionais de países sem relações diplomáticas com Israel, dificilmente passarão a fronteira).
Belém é o ponto principal da romagem cristã. A “Missa do Galo” à meia-noite de 25 de Dezembro, na mais que milenar Igreja da Natividade, é concorrida pelos turistas e pelos Cristãos locais. Numa manifestação de ecumenismo, os líderes da Autoridade Palestiniana assistem também à missa, mesmo sendo muçulmanos. Porém, este é um ecumenismo-para-consumo-estrangeiro. Ainda que em teoria a Autoridade Palestiniana se comprometa a garantir a igualdade dos Cristãos, na prática, atos de violência são cometidos pelas facções radicais palestinianas e as próprias forças de segurança palestinianas. Em Gaza, a única livraria cristã da Faixa foi destruída à bomba, pouco depois da chegada ao poder do Hamas. Pelo menos um dos líderes da pequena comunidade cristã de Gaza foi assassinado por terroristas.
Igreja russa de Maria Madalena, no Jardim de Getsemani,
Monte das Oliveiras, Jerusalém.
Os Cristãos de Belém são uma minoria em rápido declínio. Em 1948, ano da Independência de Israel, compunham 85% da população da cidade. Em 1998, eram 40%. Desde então, pelo menos 10% dos Cristãos abandonaram a cidade. A diminuição do turismo cristão durante a Segunda Intifada levou muitas famílias cristãs à ruína económica. Eles são os principais proprietários das lojas e hotéis que servem os turistas. O panorama de diminuição demográfica cristã é geral em todos os Territórios Palestinianos, não apenas em Belém. Dos 173.000 Cristãos que viviam na Cisjordânia e Gaza nos anos de 1990, hoje restarão entre 40 mil a 50 mil. As baixas taxas de natalidade, comparadas com os seus vizinhos muçulmanos, as dificuldades da insegurança militar durante a Segunda Intifada, e o maior nível educacional da comunidade levaram muitos à imigração.
Ironicamente, nos últimos 60 anos, o único país do Médio Oriente e Norte de África onde a população cristã tem aumentado é Israel. Para lá dos Cristãos Árabes israelitas, aparentados com os seus correligionários da Cisjordânia e Gaza, a população cristã aumentou com o fluxo de Cristãos russos, ucranianos ou romenos, chegados a Israel com os seus parentes judeus após o colapso da União Soviética. E mais recentemente, milhares de imigrantes das Filipinas, Gana e Eritreia em busca de trabalho. Pelo contrário, no resto do Médio Oriente, o panorama das comunidades cristãs tem piorado nas últimas décadas.
Na Síria, a braços com uma revolução sangrenta que dura quase há quase um ano, os Cristãos são uma minoria importante. Membros da Igreja Ortodoxa Síria e Grega e do ramo maronita do Catolicismo oriental, na altura do census do 1960, os Cristãos eram pouco menos de 15% da população do país, com 1.2 milhões de pessoas. Hoje, sem um census mais recente que confirme os dados, apesar de o seu número ter crescido para perto de 2 milhões, a percentagem terá descido para cerca de 10% da população da Síria. O decréscimo nas estatísticas é explicado pelas menores taxas de natalidade (associadas a um mais elevado nível económico), e também pela maior taxa de emigração dos Cristãos, em relação à maioria muçulmana.
Entre os países Árabes, o Líbano é o que detém a maior proporção de Cristãos. Porém, tal como na generalidade dos estados da região, esttes têm escapado em grande número à instabilidade política, a falta de liberdade política e em alguns casos a perseguição religiosa. Até à longa Guerra Civil Libanesa (1975-1990) os Cristãos compunham mais de 2/3 da população. Travada entre a Falange cristã e a OLP apoiada pela Síria, os 15 anos de guerra destruíram um país promissor e moderno – conhecido até então por "Suíça do Médio Oriente" – e deixou feridas praticamente impossíveis de sarar na população da nação. No pós-guerra, grande parte da liderança política cristã foi forçada ao exílio, presa ou assassinada pela nova ordem instaurada no Líbano.
Hoje porém, de acordo com alguns cálculos, os Cristãos serão cerca de metade da população do País dos Cedros. E isto, apenas excluindo os refugiados palestinianos (que serão mais de meio milhão no país) e os imigrantes muçulmanos. Nenhum censo da população é realizado no Líbano desde os anos de 1930. A fragilidade do status quo do sistema político libanês, com os Cristãos a obterem por determinação constitucional o cargo de presidente da República e metade dos ministérios (com a outra metade dividida pelos Muçulmanos Xiitas e Sunitas) preferirá ignorar a crescente diminuição da população cristã no país. Hoje, existirão mais Cristãos libaneses na Diáspora do no próprio Líbano, espalhados em países como Brasil, França, Austrália, Canadá ou Reino Unido.
No início do século XX, os Cristãos compunham 20% da população da Jordânia. O afluxo de Muçulmanos de origem saudita após a Primeira Guerra Mundial, a onda de refugiados palestinianos (quase 90% muçulmanos) depois da Independência de Israel em 1948 e a Guerra dos Seis Dias (1967) fizeram reduzir a sua população para apenas 7% dos habitantes do Reino Hachemita. Porém, os Cristãos jordanos, que integram os níveis mais altos da sociedade, detêm absoluta liberdade de culto, estão representados (inclusive acima da sua quota demográfica) no parlamento e nas forças armadas.
A Arábia Saudita é, oficialmente, 100% muçulmana. Porém, a visão oficial do regime de Riade não deixa esconder a realidade: existem vários milhões de cristãos no país. Em princípio, todos estrangeiros. Além dos diplomatas, existe uma grande população de trabalhadores domésticos das Filipinas, Índia e outros países asiáticos. Sem igrejas onde praticar a sua religião, os cristãos reúnem-se clandestinamente em casas particulares. A prática religiosa não-muçulmana é severamente punida. Mesmo a prática muçulmana é estritamente controlada pelo regime, que apenas permite o Wahabbismo, a fanática corrente islâmica praticada pelos Saud, a tribo da família real saudita. Nos últimos anos, vários cristãos foram condenados à morte e decapitados em execuções públicas, por se atreverem a praticar a sua religião, mesmo clandestinamente, na Terra Santa do Islão.
O Iraque contava mais de um milhão de cristãos em 1980. A antiga comunidade cristã esteve bem integrada nos negócios, na cultura e na política nacional. O cristão assírio Tarik Aziz foi ministro dos Negócios Estrangeiros durante o regime de Saddam Hussein. Nas últimas décadas, quase metade dos cristãos abandonaram o Iraque, em especial após a invasão americana, em 2003. As numerosas comunidades cristãs de Bagdad e Mossul têm buscado refúgio no norte do país, onde alguns distritos do Curdistão Iraquiano são povoados por uma maioria de Cristãos Assírios. O fanatismo religioso xiita e as ações terroristas da Al-Qaeda que têm agitado o país desde 2003, têm atingido fortemente os cristãos. Vários atentados contra igrejas, em datas significativas do calendário cristão, têm assolado as principais cidades do centro e sul do país causando dezenas de mortos. Tal como noutros países da região, o futuro dos cristãos iraquiano passa pela imigração.
Tal como no Iraque, também no Egipto os cristãos (conhecidos como Coptas) estiveram bem integrados na sociedade local durante séculos. De acordo com fontes cristãs, a comunidade copta conta com 12 a 16 milhões de membros, a maior comunidade cristã do Mundo Árabe. Porém, uma vez que não existem estatísticas oficiais da população do Egito, o seu número é apenas especulativo. O governo egípcio reclama que a população cristã é bastante inferior aos números apresentados pela própria comunidade, entre os 6 e os 11 milhões.
A Primavera Árabe e as suas consequências na população cristã do Egito, bem podem dar razão às reclamações das autoridades: os cristãos são muito menos do que os números normalmente apresentados. E atualmente, eles abandonam o país a um ritmo cada vez mais acelerado. O caos instaurado com a queda do regime secular de Mubarak – onde os cristãos gozavam de uma certa proteção –, ataques a igrejas em várias regiões do Egito e a inoperância da polícia perante tais crimes, aliados à perspetiva da ascensão dos islamitas ao poder, assustam os cristãos egípcios. A vitória da Irmandade Muçulmana e dos Salafistas – os dois maiores componentes no novo parlamento egípcio saído das recentes eleições legislativas –, antevêem tempos sombrios para as minorias religiosas e os seculares do país das pirâmides.
O jornalista italiano Guilio Meotti, autor de várias obras os Cristãos no Mundo Árabe, recentemente declarou: “Depois da limpeza étnica dos Judeus dos países árabes em 1948, o fundamentalismo islâmico tenta agora empurrar os Cristãos para fora da região. Eles querem estabelecer um espaço islâmico puro e o êxodo em massa já começou debaixo dos nossos narizes. Na Síria, os Cristãos serão perseguidos depois da eventual queda de Assad, uma vez que eles foram os mais leais aliados do regime. Os Cristãos serão massacrados ou empurrados. Do Cairo a Damasco, a era do Cristianismo Árabe está próxima do seu fim.”
Com este cenário, hoje, provavelmente, o Menino não nasceria em Belém.
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