Recebi bastantes comentários ao artigo Natal sem Natal. Foi, em mais de três anos de Clara mente, o mais comentado de todos os meus artigos. Na altura respondi por e-mail – em vez de deixar a minha resposta na página dos comentários – a um dos meus melhores amigos de Portugal, autor de vários desses comentários.
Entendo a incredulidade de alguns comentários. Afinal, é normal uma pessoa sentir-se perturbada quando é posta em causa a estabilidade das suas bases. Mas não deixa de ser também estranho, já que, no caso católico, noutras situações, não parece fazer a mínima mossa aos tolerantes crentes quando a própria liderança de Roma declara que só o Catolicismo é a verdadeira fé. E, ainda mais quando reitera que, quem não acredita em Jesus como deus e salvador, não pode aspirar à salvação. Ao contrário dos não-oficiais jogos de xadrez judaicos na noite de Natal, declarações doutrinárias oficiais como estas, na própria voz do Papa, não são vistas como radicalismo. É apenas a verdade aceite e acima de qualquer discussão.
Pastor da IURD pontapeia a Senhora da Aparecida. Talibãs arrasam os Budas de Bamian.
Alguém até insinuou que o não aceitar Jesus como um homem de bem parece equiparar-se a um nível de fanatismo tal que, fosse eu muçulmano em vez de judeu e já andaria por aí, de cinto de explosivos amarrado à cintura, pronto a mandar uns infiéis para o Inferno.
O histórico ódio anti-judaico dentro do Cristianismo, traduzido em incontáveis actos de barbárie ao longo dos séculos, não é algo que deriva de franjas do próprio Cristianismo. É claro que a responsabilidade pelos actos cabe aos seus autores. No entanto, os interessados, busquem nos Evangelhos palavras do próprio Jesus contra os fariseus, os herdeiros do Judaísmo Rabínico. Para não falar de várias epístolas do apóstolo Paulo. Os anátemas anti-judaicos não surgiram apenas da boca de alguns papas, bispos ou padres mais "exaltados". Saíram da boca dos próprios fundadores do Cristianismo.
Para lá de uma figura religiosa, Jesus é o ícone cultural máximo do Ocidente. Pôr em causa o seu valor como homem e deus, atinge um nível de sacrilégio maior que a destruição das estátuas de Buda pelos Talibãs ou o bispo da IURD a chutar a Senhora da Aparecida.
PS – Apesar das críticas recebidas, não me sinto como um pequeno Salman Rushdie pós-Versículos Satânicos. E a excomunhão também está fora do meu alcance.
Envie comentários, sugestões e críticas para:
Correio do Clara Mente
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Blogs
. Contra a Corrente/O MacGuffin
. Poplex
. Das 12 Tribos
. Aish
. Int'l Survey of Jewish Monuments