Domingo, 30 de Dezembro de 2007

Ícone rachado

Recebi bastantes comentários ao artigo Natal sem Natal. Foi, em mais de três anos de Clara mente, o mais comentado de todos os meus artigos. Na altura respondi por e-mail – em vez de deixar a minha resposta na página dos comentários – a um dos meus melhores amigos de Portugal, autor de vários desses comentários.

Entendo a incredulidade de alguns comentários. Afinal, é normal uma pessoa sentir-se perturbada quando é posta em causa a estabilidade das suas bases. Mas não deixa de ser também estranho, já que, no caso católico, noutras situações, não parece fazer a mínima mossa aos tolerantes crentes quando a própria liderança de Roma declara que só o Catolicismo é a verdadeira fé. E, ainda mais quando reitera que, quem não acredita em Jesus como deus e salvador, não pode aspirar à salvação. Ao contrário dos não-oficiais jogos de xadrez judaicos na noite de Natal, declarações doutrinárias oficiais como estas, na própria voz do Papa, não são vistas como radicalismo. É apenas a verdade aceite e acima de qualquer discussão.


Pastor da IURD pontapeia a Senhora da Aparecida. Talibãs arrasam os Budas de Bamian.

Alguém até insinuou que o não aceitar Jesus como um homem de bem parece equiparar-se a um nível de fanatismo tal que, fosse eu muçulmano em vez de judeu e já andaria por aí, de cinto de explosivos amarrado à cintura, pronto a mandar uns infiéis para o Inferno.

O histórico ódio anti-judaico dentro do Cristianismo, traduzido em incontáveis actos de barbárie ao longo dos séculos, não é algo que deriva de franjas do próprio Cristianismo. É claro que a responsabilidade pelos actos cabe aos seus autores. No entanto, os interessados, busquem nos Evangelhos palavras do próprio Jesus contra os fariseus, os herdeiros do Judaísmo Rabínico. Para não falar de várias epístolas do apóstolo Paulo. Os anátemas anti-judaicos não surgiram apenas da boca de alguns papas, bispos ou padres mais "exaltados". Saíram da boca dos próprios fundadores do Cristianismo.

Para lá de uma figura religiosa, Jesus é o ícone cultural máximo do Ocidente. Pôr em causa o seu valor como homem e deus, atinge um nível de sacrilégio maior que a destruição das estátuas de Buda pelos Talibãs ou o bispo da IURD a chutar a Senhora da Aparecida.

PS – Apesar das críticas recebidas, não me sinto como um pequeno Salman Rushdie pós-Versículos Satânicos. E a excomunhão também está fora do meu alcance.

publicado por Boaz às 21:15
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5 comentários:
De MCA a 2 de Janeiro de 2008
Mark, acho que a maior parte das pessoas que visita este blogue tem cultura suficiente para saber que Jesus (só os cristãos lhe chamam Cristo...) não é referência para o Judaísmo. Para o Judaísmo, Jesus é um dissidente ou um "falso profeta" como houve tantos ao longo da história do Judaísmo.
Pelo contrário, para o Cristianismo todos os profetas e figuras santas do judaísmo são referências muito respeitadas. Os Cristãos veneram Abraão, Moisés e os Profetas e as suas imagens são expostas nos altares católicos. Na Missa, os textos do "Antigo Testamento" que, se não estou em erro, correspondem basicamente à Torah (corrija-me se estou errada) são lidos todos os dias e são proclamados como «Palavra de Deus».
Quanto a o Cristianismo não ser uma religião do Livro, é discutível mas aqui não é lugar para discutir teologia cristã. Em todo o caso, só para concluir, o facto de o Judaísmo não reconhecer qualquer valor teológico ou religioso em Jesus, isso não é impeditivo de pessoas inteligentes e bem formadas olharem para o homem e para a sua doutrina de forma distanciada e reconhecerem as suas qualidades. Qualidades humanas e filosóficas, quero eu dizer. Quem diz isso em relação a Jesus pode dizê-lo em relação a Buda, a Maomé ou a qualquer outro.
De MARK a 10 de Janeiro de 2008
Clara disse "(...) para o Cristianismo todos os profetas e figuras santas do judaísmo são referências muito respeitadas." Não é bem assim, é uma veneração condicionada por uma hermenêutica em que J é o princípio e fim. Os judeus não veneram Moisés e os outros profetas, estudam os. Do ponto de vista judeu a veneração cristã tem o cheiro da idolatria. Mais, só veneram os que antecederam J . A idade de ouro do Judaísmo rabínico é posterior ao surgimento do cristianismo. Torah não é só os 5 livros de Moisés, também é a Torah Oral, principalmente os Talmudes.
Quando digo que o Cristianismo não é uma religião do Livro, digo que para os cristãos o princípio orientador perante os textos sagrados é o JC . Para o cristão Deus encarna na pessoa de JC . No judaísmo o ponto mais próximo da ideia de "incarnação" é a relação entre D_us e a sua Torah .
De indeterminista a 9 de Maio de 2008
Alô Mark. Faço uma pergunta. Voce conhece os textos do novo testamento em grego? Se voce fizer exegese no texto grego, voce vai perseber que a obra tem uma unica motivação: difamar os judeus e o judaismo. A proposta é somente esta.

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