Rav Gabriel Holtzberg e a esposa Rivka, mortos por terroristas islâmicos no Centro Chabad de Bombaim.
"E abençoarei os que te abençoarem, e aqueles que amaldiçoarem, amaldiçoarei..." (Génesis 12:3)
É irónico o nome da cidade. É trágico o que está a acontecer – até ser libertado o último refém. Porém, que ninguém sonhe que algo irá mudar depois deste dia. É só mais um dia de manchetes de jornais, de palavras nervosas nas chancelarias internacionais, de vazios votos de condolências e de inconsequentes declarações de apoio aos atacados... Nada mudará. Como praticamente nada de essencial mudou depois do 11 de Setembro de Nova Iorque, do 11 de Março de Madrid, dos ataques no metro de Londres, de Istambul, de Bali ou das centenas de outros atentados. Afinal, voltámos ao mesmo de antes. Ou pelo menos, habituámo-nos a viver neste "mundo novo", em que o terror é apenas mais uma das normalidades. O mundo não sabe – ou simplesmente não quer – distinguir entre o bem e o mal.
Não são só as centenas de hóspedes dos hotéis, ou o rabino Gavriel Holtzberg e a esposa no Centro Chabad Lubavitch que estão reféns (hoje houve rezas especiais por eles na yeshiva). O Mundo todo está refém do terrorismo. A Europa, os Estados Unidos, a Índia, todas as democracias do planeta têm um medo de morte do terrorismo islâmico. Daí o silêncio e o "voltar ao normal" a que assistiremos já daqui a uns dias. Engolir as bombas e seguir em frente. Nada mais.
A fera, cada vez se fortalece mais, porque ninguém tem coragem de lhe fazer frente. E quem ousar dizer alguma coisa, terá uma fatwa apelando à sua morte e centenas de voluntários candidatos para a fazer cumprir. Se os Estados Unidos lançam uma guerra no Afeganistão ou no Iraque, se bombardeiam lugares suspeitos na Somália, no Sudão ou na Líbia; se Israel dá caça aos terroristas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ou se destrói uma central nuclear em construção na Síria, os europeus (ditos) defensores da liberdade e dos povos oprimidos, arrancam os cabelos e fazem manifestações contra os EUA e Israel. Boicotes e marchas.
As respostas americanas e israelitas foram brutais e injustificadas, ou na melhor das hipóteses "desproporcionais". O terrorismo, essa "arma dos pobres" tornada aos poucos legítima e compreensível, é simplesmente a resposta desses "pobres sem outra alternativa" face ao domínio brutal do capitalismo e outros fantasmagóricos ismos usados pelos defensores dos pobrezinhos...
O Irão continua a desenvolver o seu programa nuclear, o Hezbollah continua a aumentar o seu arsenal militar, o Hamas encheu a fronteira que separa Gaza do Egipto com centenas de túneis por onde passa armamento cada vez mais sofisticado, mísseis caem diariamente no Sul de Israel, junto à Faixa de Gaza. Ninguém faz nada. Ninguém permite que alguma coisa seja feita. A menos do que inapta Agência Internacional de Energia Atómica ignora a ameaça iraniana. A velha e caduca ONU – não sem o apoio de muitas democracias europeias, que se alinham com os exemplares regimes árabes e africanos – aprova resolução atrás de resolução contra Israel. Só esta semana foram 20, para celebrar como deve de ser o "Dia de Solidariedade com a Palestina", exemplarmente celebrado pela ONU. Contra o Líbano, por deixar à solta o Hezbollah; contra o Egipto, por não controlar o tráfico de armas para Gaza; contra a Síria, por manter o apoio ao Hezbollah e desestabilizar o Líbano; contra o Irão, governado por um lunático de tendências genocidas e atómicas; contra a Autoridade Palestiniana, por nunca ter cumprido um único ponto dos acordos de paz assinados com Israel... nada, nem sequer uma palavra contra.
A máxima, normalmente atribuída ao filósofo Edmund Burke: "A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens de bem não façam nada", não poderia ser mais adequada ao tempo em que vivemos.
...Que se entendam. É, numa perspectiva cínica, o que se pode dizer da situação em Gaza. Desde que o Hamas, vencedor destacado das últimas eleições legislativas palestinianas, tomou de assalto a Faixa de Gaza, tem imposto a lei do terror. Não só para Israel - qual é a novidade, aí? -, mas acima de tudo, para os próprios palestinianos.
Largas dezenas de apoiantes da Fatah – os principais rivais do Hamas – foram mortos em combates na semana que sucedeu à entrada em força da direcção do Hamas na Faixa. Violência de rua, explosões, tiroteios, torturas. Mas isso passou-se já há mais de um ano.
Agora, os confortos regressam. Para lá dos mísseis Qassam, disparados diariamente sobre as cidades israelitas próximas de Gaza, é na própria Faixa que o Hamas mais faz vítimas.
Apoiantes da Fatah, eles próprios longe de serem meninos de coro, procuraram refúgio em Israel - onde mais poderia ser? - fugindo da vingança do todo poderoso Hamas. Os feridos nos confrontos inter-palestinianos foram tratados num hospital de Ashkelon. Ironicamente, esse hospital foi quase atingido por um míssil Qassam disparado de Gaza, há alguns meses.
Israel devolveu-os à procedência porque afinal, o próprio presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, recusou-se a garantir asilo na Cisjordânia a dezenas de apoiantes do seu próprio partido – ele é um dos líderes da Fatah! - que haviam fugido da Faixa.
O resultado foi a prisão imediata dos "devolvidos", às mãos do Hamas, assim que pisaram de novo o território de Gaza. Espera-se um festim bárbaro na Faixa para os próximos dias.
Três semanas depois do inédito ataque terrorista com uma retro-escavadora em Jerusalém, o episódio repetiu-se. Um árabe conduziu uma máquina do mesmo género contra automóveis e autocarros. Houve pelo menos quinze feridos, um deles em estado grave. Tal como há três semanas, o autor do ataque era operário numa obra de construção e residente em Jerusalém Oriental. Ambos os terroristas foram mortos por polícias ou soldados armados, no local dos ataques.
Desde o primeiro ataque, foram aumentadas as medidas de segurança nas numerosas obras públicas em curso na Cidade Santa, em especial nos vários pontos da construção das linhas do metro de superfície, que se estendem por toda a cidade. Os bulldozers são agora chamados na gíria “killdozers” ou “escavadoras assassinas”. Por isso, em Jerusalém, em várias obras, as máquinas pesadas deixaram de ser conduzidas por árabes – como era normal até agora – e passaram a ser operadas por trabalhadores judeus.
A maioria dos operários da construção civil em Israel – desde as obras públicas à construção particular, incluindo nos colonatos –, são árabes. Será, muito possivelmente, o principal sector de emprego da população árabe e palestiniana, além da restauração e da hotelaria. Não haverá hotel ou restaurante em Jerusalém sem trabalhadores árabes. No Shabbat, serão mesmo a totalidade dos empregados, desde o recepcionista até ao camareiro. Além disso, a maioria dos árabes de Jerusalém Oriental trabalha na parte ocidental da cidade, onde se situam a maioria dos negócios, restaurantes e hotéis.
Após o ataque de há três semanas, a polícia começou a investigar os registos criminais dos árabes empregados nas obras de construção. Ambos os operários-terroristas tinham registo criminal: um de violação e o outro de consumo de drogas e roubo. Porém, em ambos os casos, esses registos não impediriam, hoje mesmo, que eles fossem aceites para trabalhar numa obra.
Seguramente, muitos trabalhadores árabes da construção civil temem perder os seus empregos. A desconfiança não joga a seu favor. A cada ataque, sobe a suspeita em relação aos árabes em geral. Será injusto generalizar, mas muitos empregadores podem não querer atrever-se a não generalizar. E quem fica a perder, antes de mais, é a população árabe, que depende, na sua imensa maioria, de empregadores judeus para ter o seu ganha-pão.
Nada poderá resultar de positivo – nem para os próprios árabes – após cada um dos ataques, sejam suicidas que se fazem explodir em autocarros ou supermercados, sejam condutores de retro-escavadoras tresloucados. Várias empresas de transporte, hoje empregam exclusivamente judeus. Com empresas da construção civil passa-se o mesmo. Nos jornais, anúncios de venda de casas começam a apregoar que a obra é “mão-de-obra judia”. Apesar de ser mais barato comprar uma casa construída com mão-de-obra árabe, muitas pessoas estão hoje dispostas a pagar mais. Mais do que desejarem que a sua casa seja construída por judeus, desejam que ela não seja construída por árabes.
Também a maioria dos taxistas em Jerusalém são árabes, mas muita gente começa a recusar viajar num táxi conduzido por um motorista árabe. É triste, mas as demonstrações de ódio que provêm do lado árabe são tais, que muita gente simplesmente se recusa, mesmo a um nível mais básico ao nível profissional ou quotidiano, a cooperar com esse outro lado. Não há boas-maneiras que valham quando se tem medo.
Os árabes são a mão-de-obra barata em Israel – como os cabo-verdianos ou os brasileiros em Portugal. No entanto, Israel tem já mais de 200 mil trabalhadores imigrantes não-judeus, metade deste número supõe-se serem imigrantes ilegais. Chineses, tailandeses, filipinos, indianos, cingaleses (do Sri Lanka) ou nepaleses já começam a substituir os árabes nos trabalhos mais pesados.
Se os trabalhadores árabes perderem os seus empregos por desconfiança generalizada dos patrões, o destino de muitas famílias árabes será sujeitarem-se à fome. Ou ao crime. Ou à emigração.
Ontem, Israel e o Hezbollah trocaram prisioneiros. Cinco terroristas que cumpriam pena nas prisões de Israel, assim como os cadáveres de cerca de 200 libaneses e palestinianos que estavam na posse de Israel, foram entregues. Em troca recebeu dois cadáveres. Os soldados Eldad Regev e Ehud Goldwasser haviam sido capturados em Julho de 2006. O seu sequestro às mãos do Hezbollah, enquanto patrulhavam uma área junto à fronteira israelo-libanesa, despoletou a Segunda Guerra do Líbano.
A discrição israelita vs. a pompa do Hezbollah.
Em Beirute, os prisioneiros, os vivos, são mostrados como heróis. O país decretou um dia de feriado nacional. Os caixões dos 200 cadáveres, foram passeados em enormes camiões engalanados. Vivos e mortos mostrados em paradas, sob a bandeira do Hezbollah. Os terroristas xiitas declaram vitória e dominam a vida política do Líbano, sem rival. O governo em peso, assim como dignitários muçulmanos e cristãos, saudaram os ex-prisioneiros, à chegada ao aeroporto de Beirute.
Em Israel, choram-se e enterram-se os mortos. Não há desfiles com os caixões dos soldados. O luto é uma dor privada, reservada às famílias que, até há poucas semanas, ainda tinham esperanças de conseguir reencontrar os seus familiares com vida. Durante dois anos, o Hezbollah manipulou como quis a dor das famílias Regev e Goldwasser, sem saberem nada em concreto do destino dos seus desaparecidos. Eram desaparecidos, até que o próprio governo de Israel os declarou "mortos em combate". As autópsias revelaram que morreram ambos no ataque inicial, na altura do sequestro.
Com esta operação, mediada pelo governo alemão, Israel destruiu três princípios que regiam a sua diplomacia e postura regional: não dialogar com terroristas, não trocar vivos por mortos, não libertar condenados por crimes de sangue. Um dos criminosos libertados, Samir Kuntar, estava preso desde 1979, condenado pela morte de três pessoas, incluindo uma menina de 4 anos. Quase 30 anos passados, nunca mostrou qualquer arrependimento. Agora é um herói em Beirute, junto com Hassan Nazrallah, o líder do Hezbollah.
Ao realizar esta troca, Israel abriu uma série de precedentes perigosos, que motivam os terroristas a continuar as suas acções. Gilad Schalit, o soldado israelita de 21 anos, sequestrado em Gaza em 25 de Junho de 2006, continua em mãos do Hamas. Inspirando-se na troca de hoje, o Hamas pode exigir muito de Israel.
Isto porque, a troca de prisioneiros comprova uma máxima que tem sido uma das regras de ouro da defesa de Israel: nunca abandonamos um soldado. Vivo ou morto, ele deve voltar para casa. Israel mostra uma evidente superioridade moral e humana. A qual, nesta como noutras ocasiões, de um ponto de vista político e militar, pode ser vista como uma fraqueza. Os seus inimigos não terão qualquer pudor em explorá-la. Aí reside o segredo entre o contraste do luto sereno israelita, frente ao alarde dos que celebram um assassino como herói e consciência da nação.
Hoje houve um ataque terrorista bizarro em Jerusalém. Um homem árabe roubou uma enorme retro-escavadora e decidiu atropelar vários automóveis e autocarros na principal avenida da capital. Morreram quatro pessoas e mais de 30 ficaram feridas, até o terrorista ter sido abatido após alguns minutos, por um soldado. Suspeita-se que o terrorista tivesse a intenção de prosseguir até ao principal mercado de rua de Jerusalém, situado a poucas centenas de metros.
Roubar uma retro-escavadora, de uma obra que estava a decorrer no meio da cidade, e sair desvairado esmagando os carros que passam, abalroando dois autocarros cheios de passageiros, é uma cena digna do Exterminador. Este ataque ultrapassará, não pelo número de mortos, mas pelo modo como foi feito, os limites da demência e do bizarro.
Após cada atentado escutam-se as vozes (poderíamos dizer) mais radicais. Questionam-se o que se deve fazer com os terroristas, as suas famílias, os Palestinianos, e os Árabes de Israel em especial. Os críticos de Israel atacam a construção do muro na Cisjordânia. Chama-lhe muro da vergonha. A verdade é que tão "vergonhosa e monstruosa obra" tem impedido a passagem de centenas de potenciais terroristas.
Actualmente, a questão e a principal fonte de suspeita e medo, não é como evitar que os terroristas árabes da Cisjordânia entrem em Israel. O muro resolve quase totalmente este problema. Agora a questão é: como evitar que os terroristas árabes israelitas, detentores de cidadania, cometam atentados nas nossas cidades?
De fora, os analistas falam de descriminação, estatuto de segunda classe, apartheid em relação aos Árabes, fazendo a comparação com o funesto regime racista que existia na África do Sul. As diferenças, se mais não bastassem, é que os Negros eram excluídos pelos Brancos e o que pretendiam era apenas instaurar um Estado igualitário. No caso dos Árabes em Israel, a maioria auto-exclui-se, sistematicamente boicotando as eleições (sim, os Árabes têm direito de voto, ao contrário dos Negros durante o apartheid da África do Sul) e muitos pretendem mesmo destruir o Estado.
Há 4 meses, após o ataque à yeshiva Mercaz Harav, no qual foram assassinados oito estudantes, surgiram vozes a defender a demolição da casa do terrorista e a retirada da cidadania israelita à sua família. Pais dos alunos assassinados foram até à Knesset, o Parlamento Israelita, defendendo esta medida punitiva. A família, enlutada mas cheia de orgulho, montou uma provocadora tenda de condolências, em memória do seu filho, o terrorista. Penduraram cartazes com o seu retrato sobreposto à imagem da Cúpula do Rochedo. Mais um ícone para a causa. Residentes em bairros de população árabe de Jerusalém Oriental, ambos os terroristas tinham acesso, como qualquer cidadão, a qualquer ponto da capital e do país.
A liderança política dos árabes em Israel segue uma retórica contra o próprio Estado onde vivem. É tal o atrevimento dos políticos árabes locais na sua oposição a Israel que, Azmi Bishara, um dos principais deputados árabes da Knesset, viajou até Beirute durante a Segunda Guerra do Líbano (2006) para se encontrar com Nazrallah, o líder do Hezbollah. Enquanto isso, o Norte de Israel era bombardeado pelos mísseis do Hezbollah. Ironia: a maioria das baixas civis israelitas foram habitantes árabes da Galileia, a população que elegeu Bishara.
Muito poucos dos Árabes de Israel e dos Árabes de Jerusalém Oriental desejam realmente ser cidadãos de um eventual estado palestiniano. Porém, nenhum deles declara os seus desejos publicamente. Nenhum deles quererá perder os privilégios de ser cidadão israelita, ou deixar de usufruir da muito superior qualidade de vida em Israel em relação à Autoridade Palestiniana.
A delicada situação actual de fidelidade ao inimigo e confrontação com o Estado, acompanhada do usufruto do próprio Estado tem de ser definida e resolvida. Os Árabes residentes em Israel terão de decidir em que lado estão. Nenhum país pode aceitar dentro das suas fronteiras, oculto entre os seus cidadãos, um Estado dentro de um Estado. Ainda menos um Estado inimigo que o corrói por dentro. Os israelitas exigem respostas, soluções. Nenhuma delas se afigura branda.
Na noite de ontem, quinta-feira, houve um ataque terrorista numa yeshiva de Jerusalém. Há quase dois anos que o terror não chegava à capital. Dois homens armados de metralhadoras AK-47 entraram no recinto de Mercaz Harav, uma das maiores yeshivot de Israel. Na biblioteca, dispararam durante vários minutos sobre os alunos que estudavam. Segundo a polícia, terão sido disparados entre 500 e 600 tiros. Até serem abatidos por um soldado que, da rua, ouvira as rajadas de tiros.
No chão ficaram mortos oito alunos da yeshiva. Morreram enquanto estudavam Torá. Testemunhas descreveram o cenário como "um matadouro", com os livros sagrados jazendo no chão, junto dos alunos assassinados.
Depois da operação militar em Gaza, destinada a destruir a infra-estrutura terrorista do Hamas, os terroristas palestinianos prometeram vingança. A escolha de Mercaz Harav com alvo, é perfeitamente calculada. Tal como o World Trade Center representava a essência da sociedade americana, a yeshiva Mercaz Harav é um dos baluartes espirituais da sociedade israelita. É o principal centro de estudos judaicos da linha do Sionismo Religioso. Fundada pelo grande Rabino Avraham Hacohen Kook ainda antes da Independência de Israel, estabeleceu-se como uma das mais exigentes yeshivot do Mundo. Dos seus bancos saíram muitos dos maiores sábios do Judaísmo do século XX.
Na Yeshivat HaKotel, onde estudo, do outro lado da cidade, o ambiente era naturalmente muito carregado. Ainda mais, porque um dos alunos mortos, Yohai Livshitz, de 18 anos, era filho de um dos directores da Yeshivat Hakotel.
Nas noites de quinta para sexta-feira é costume fazer mishmar, ou seja, um grupo de alunos fica acordado toda a noite, a estudar no Beit Midrash, a sala de estudos principal. Na noite do ataque, o mishmar não se realizou. O grande tacho de chulent, um cozido de batatas e grão, também costumeiro da quinta-feira à noite, não foi preparado. Habitualmente ruidosa nas noites de quinta, imperava desta vez um silêncio pesado. No dia seguinte, a reza matinal foi um momento difícil. Coincidindo com o primeiro dia do mês judaico de Adar, por excelência o mês da alegria, foi impossível conter as lágrimas, mesmo durante a reza especial de Halel, entoada só nos dias mais alegres.
Uma yeshiva é, por excelência, o local mais respeitado no Judaísmo. A estima dada ao estudo da Torá, centrado exactamente na instituição da yeshiva, torna-a lugar de referência na sociedade judaica. Aí, os jovens aprendem desde cedo os princípios judaicos. Daí emanam os conhecimentos dos grandes Sábios. Em cada yeshiva se perpetua a milenar cadeia tradição judaica.
Qual é o limite do campo de batalha? Ao longo das décadas de terrorismo palestiniano, ao contrário de uma guerra tradicional, os alvos civis têm sido a preferência do terror. Autocarros, estações de transportes, hotéis, cafés, restaurantes, centros comerciais. Em poucas ocasiões foram escolhidos alvos militares para os ataques.
Como reconhecer legitimidade numa causa onde não há limites para os seus alvos? Como se pode ser brando, querer manter o diálogo? Em Gaza saíram à rua para festejar o massacre. Em Nova Iorque, a Líbia impediu uma nota de condenação do atentado pelo Conselho de Segurança da ONU.
Há menos de duas semanas, o Jerusalem Post publicou no seu sítio na Internet, o vídeo do assassínio de uma jovem de 16 anos, que teve lugar em Julho, em Gaza. Mais um caso de “crime de honra”. A notícia foi apresentada como um exclusivo do jornal. O vídeo tinha sido obtido pelo jornalista Khaled Abu Toameh, o correspondente do jornal para os assuntos palestinianos.
Porém, em poucas horas, o “furo jornalístico” revelou-se uma mentira. O vídeo era real, mas não havia sido gravado em Gaza, antes no Iraque, em Abril. Uma cilada na qual se via envolvido o mais prestigiado dos jornais israelitas.
Quem entregou o vídeo ao jornalista? A Fatah, o movimento do presidente palestiniano, que controla a Cisjordânia. O jornalista havia sido chamado ao Quartel-general de Informações da Fatah em Ramallah, onde um oficial da Fatah lhe entregou o vídeo e os telefones de duas alegadas testemunhas do assassinato, que iriam corroborar a história.
Descobriu-se depois que as “testemunhas” eram na verdade milicianos da Fatah em Gaza. A história era uma total fabricação. Com que objectivo? Mostrar a Fatah e o governo de Mahmud Abbas como credíveis, parceiros para a paz e lutadores contra as forças do mal representadas pelo Hamas, que há meses controla a Faixa de Gaza, instituindo um estado de terror e não de ordem. A história do assassinato da jovem acabou por ser retirada do site do Jerusalem Post e não foi publicada no jornal no dia seguinte. O ardil montado pela propaganda da Fatah, esse sim, foi revelado.
Na semana passada, o governo de Israel libertou da prisão 87 palestinianos condenados por participação em actos terroristas. Um pormenor que não é circunstancial: todos eram afiliados da Fatah. A acção destinou-se a fortalecer a Fatah e o governo de Abbas na Cisjordãnia, contra o governo do Hamas que controla Gaza.
Esta acção de libertação dos prisioneiros vem sem contrapartidas. A Fatah não tem de dar nada em troca da liberdade dos 87 terroristas. Afinal, nem sequer a televisão palestiniana deixa de passar programas “educativos” anti-Israel. As escolas continuam a ensinar o ódio. Os políticos da Fatah continuam a insistir no retorno dos 4 milhões de refugiados palestinianos, uma ideia que evidentemente resultaria na destruição de Israel.
O governo de Israel sabe de isto tudo. E mesmo assim libertou os 87 terroristas. Apenas para fortalecer a Fatah contra o Hamas. No passado, várias acções de libertação de prisioneiros, por vários governos de Israel tiveram o efeito contrário ao pretendido.
Descobriu-se que mais de 100 israelitas morreram em ataques realizados ou planeados por terroristas que tinham sido libertados da prisão por ordem do governo. O caso mais conhecido foi a libertação do xeque Ahmed Yassin, o paralítico líder espiritual do Hamas. Na altura, a libertação de Yassin destinava-se a enfraquecer e desacreditar Yasser Arafat. Mesmo limitado a uma cadeira de rodas, o diabólico Yassin continuou a instruir milhares de terroristas do Hamas que mataram centenas de israelitas.
Na mesma semana da mentira do vídeo, a Fatah realizou outra acção de propaganda: entregou às tropas de Israel uma série de tubos de metal descobertos próximos de Belém e que, alegadamente seriam usados na construção de mísseis. O caso parece ter causado algum sobressalto em Jerusalém, perante a perspectiva de ataques diários de mísseis à cidade, a partir de Belém, como os que acontecem em Sderot e outras localidades, vítimas dos ataques diários a partir de Gaza. A entrega dos tubos pretendia mostrar o governo de Abbas como um lutador contra o terrorismo. Soube-se depois que afinal os tubos de metal eram exactamente isso: tubos de metal. E que eram usados como brinquedo por algumas crianças.
Se é importante destruir o terrorismo do Hamas, não é menos importante deixar de fortalecer o terrorismo da Fatah. Uns, aberta, os outros, disfarçadamente, desejam o mesmo: apagar Israel do mapa.
Ps – O Hamas e a Fatah têm-se envolvido numa guerra de propaganda que atingiu níveis sórdidos. Ambos reclamam ter vídeos dos outros envolvendo escândalos sexuais. Desde relações homossexuais envolvendo altas figuras do regime, abusos pedófilos numa mesquita do Hamas em Gaza, adultério de líderes da Fatah. Tudo vale para ganhar a confiança da plebe e mostrar que o outro lado é o mau da fita.
Ontem, num ataque suicida na estação de autocarros de Beersheva, sul de Israel, dez pessoas ficaram feriadas, duas das quais com gravidade. Foi o primeiro ataque terrorista desde a retirada israelita de Gaza, ocorrida na semana passada. A acção foi reivindicada conjuntamente pelos braços armados da Fatah e da Jihad Islâmica. Poucos dias antes, num vídeo divulgado pelo Hamas, o novo líder do movimento prometeu continuar com os atentados terroristas contra Israel.
Interpretando a retirada israelita de Gaza como uma capitulação israelita face à estratégia do terror, os movimentos terroristas palestinianos prometeram continuar com acções suicidas para conseguirem o seu objectivo de apagar Israel do mapa. "Primeiro Gaza, no futuro Jerusalém e toda a terra do Jordão ao Mediterrêneo."
A mesma perspectiva teve o Hezbollah em 2000, quando o exército de Israel retirou do sul do Líbano. Que a retirada não era só uma mudança de estratégia de segurança (nunca é), mas uma fuga face à ameaça constante das emboscadas, dos mísseis e dos ataques suicidas. Desde então verificam-se confrontos esporádicos, com lançamento de rockets sobre Kiryat Shmona e outras cidades junto à fronteira libanesa.
Não deixa de ser irónico que, para lá da "cedência de terras bíblicas", seja exactamente a mesma "capitulação ao terror" o argumento dos israelitas que se opõem ao plano de retirada.
Sucessivamente, a cada ataque terrorista, aparecem algumas vozes a condenar o acto, para logo a seguir, acrescentarem um "mas". Em jeito de desculpa? Ou no mínimo, justificação? Encontrar algo de racional na acção terrorista?
Invariavelmente, em relação aos que fazem o terror em nome da causa palestiniana, a justificação é o desespero. Entre os nossos intelectuais, cabeças pensantes e líderes de opinião com mais ou menos seguidores, a certa altura até surgiu a comparação entre a causa palestiniana e a de Timor-Leste, na época da ocupação indonésia.
Haja decência! Nem as condições são idênticas, nem a origem da ocupação israelita dos territórios palestinianos tem qualquer analogia com a da ocupação indonésia de Timor-Leste. A Indonésia invadiu Timor como decisão unilateral, aproveitando-se cobardemente do caos da guerra civil que se seguiu ao abrupto fim do poder colonial português. Uma invasão pura e simples com o objectivo de anexação. Pelo contrário, Israel ocupou Gaza, Jerusalém Oriental e a Margem Ocidental após uma declaração de guerra e tentativa de invasão por parte dos exércitos egípcio e jordano, cujos governos detinham o controlo desses territórios.
Quanto às condições da ocupação, por muito trágica e urgente que seja a situação da maioria da população palestiniana, não creio que se possa comparar ao martírio passado pelos timorenses sob o domínio indonésio. É verdade que os números não dizem tudo, mas mais de 200 mil timorenses mortos pelo exército indonésio deveriam ser suficientes para conseguir travar qualquer tipo de comparação...
Ainda há a questão do desespero. É desesperante a situação de vida de grande parte dos palestinianos, sem dúvida. Mas isso justifica o terror? Torna-o válido? Os que compararam a Palestina com Timor-Leste nunca pararam para pensar porque razão os timorenses nunca tomaram como "forma de luta" os ataques terroristas suicidas contra autocarros, hotéis, discotecas, restaurantes e fiéis à saída de mesquitas em Jacarta, como os suicidas palestinianos fizeram dezenas de vezes contra autocarros, hotéis, discotecas, restaurantes e fiéis à saída de sinagogas em Tel Aviv e Jerusalém? Estariam os timorenses por acaso numa situação menos desesperante que os palestinianos?
E, já agora, que desespero levou 19 indivíduos a lançarem aviões contra o World Trade Center e o Pentágono? Eram todos estudantes universitários, filhos de famílias de classe média-alta da Arábia Saudita e do Líbano, viviam bem mais desafogadamente que o comum dos seus concidadãos...
E sexta-feira à noite, que desespero motivou as bombas em Sharm el-Sheikh?
Após o 11 de Março, justificou-se o terror com o apoio do governo espanhol à invasão americana do Iraque. Nos ataques a Londres, a razão foi também o apoio do governo britânico à guerra no Iraque. Com essa ideia em mente, várias dezenas de dignitários muçulmanos britânicos alertaram Tony Blair para reflectir (e consequentemente mudar) a sua estratégia em relação ao Médio Oriente. Será só Blair que tem de repensar e mudar? E será isso suficiente para parar as ameaças e os ataques?
Sinceramente, creio que não. Basta pensar no caso da França, que foi, desde o início contra qualquer intervenção no Iraque. No entanto, isso não bastou para ser poupada às ameaças terroristas da Al-Qaeda. Vários franceses foram raptados no Iraque e o país recebeu ameaças directas de atentados. A razão: a aprovação da lei que proíbe o uso de símbolos religiosos nos lugares públicos, conhecida por "lei do véu islâmico".
Alguém ainda acha que os terroristas precisam de desculpas? Ou afinal, tudo serve de desculpa aos terroristas?
Um ataque terrorista suicida matou ontem, 12 de Julho de 2005, 4 pessoas e feriu várias dezenas em frente a um centro comercial de Netanya, uma cidade israelita a norte de Tel Aviv.
Desde 5ª feira, os políticos e os cidadãos europeus e do resto do mundo ficaram chocados e mostraram o seu apoio ao povo britânico, vítimas colectivas do terrorismo. Quem é que entretanto mostrou algum apoio aos israelitas?
É melhor ficar por aqui...
Ontem à noite, a 2: transmitiu mais um programa "Parlamento". Eu não costumo ver esse tipo de programas, por achar insuportáveis a maioria dos nossos deputados, mais a sua retórica. Ontem, talvez por masoquismo, assisti ao programa, com a curiosidade de saber as opiniões de deputados das diversas bancadas da Assembleia da República sobre o fenómeno do terrorismo e os modos de o combater.
Os deputados do PS, PSD e CDS foram regulares, com o habitualmente maior "sentido de Estado" que os caracteriza. (Isto não se aplicaria se o PSDista fosse o Alberto João Jardim.) Anormalmente equilibrada achei a opinião do camarada "norte-coreano" Bernardino Soares. Como já se esperava, Ana Drago, a voz do Bloco de Esquerda no programa, insistiu na culpa do capitalismo em todos os males do Mundo. Até no terrorismo: a culpa é das operações offshore e da lavagem de dinheiro que aí se faz, que possibilitam o financiamento do crime organizado e do terrorismo. Pois muito bem...
Só que todos se esqueceram de um pormenor: o fanatismo que é a base do terrorismo da Al-Qaeda. É que, ao contrário do 11 de Setembro - que foi uma operação de grande envergadura -, o 11 de Março e o 7 de Julho foram esquemas relativamente simples, que não precisaram de muito dinheiro.
Explosivos, telemóveis e conhecimentos em fabricar bombas, que se adquirem em milhares de sites na Internet. Tudo somado, só falta um elemento fundamental: a motivação. E essa provém dos radicais infiltrados nas comunidades islâmicas que se aproveitam da liberdade de expressão existente na Europa - e muito especialmente no Reino Unido - e assim propagam as suas ideias assassinas.
Os senhores deputados, sempre preocupados com o politicamente correcto, meteram o rabinho entre as pernas e habilmente esqueceram-se do cerne do problema.
Depois dos ataques em Londres, os britânicos deram uma lição ao Mundo, no modo como reagiram ao terrorismo. Foi absolutamente extraordinária a forma serena como os londrinos se portaram, nos momentos imediatos ao ataque. Admirável, a calma com que as pessoas prestavam declarações aos jornalistas, mesmo as pessoas feridas.
De salientar também a cobertura mediática dos acontecimentos pelos media britânicos, habitualmente sedentos de escândalos. Evitou-se a ânsia pelo sangue e a dor, que faria certamente as delícias dos instigadores do ataque, a admirarem atentamente os resultados da sua obra pela televisão.
Foi a melhor maneira de mostrar a sua superioridade de carácter face aos terroristas. O terror regozija-se com o pânico, o sangue e as lágrimas. Os canalhas não poderiam ter recebido maior derrota.
Como talvez nenhum outro povo, os britânicos sabem demonstrar a sua honra. Em especial na adversidade. Poucos dias após os atentados, a multidão nas ruas de Londres a participar nos festejos dos 60 anos do fim da II Guerra Mundial, foi um magnífico sinal de resistência.
Ontem o medo e morte em larga escala chegaram mais perto de nós. Em Londres. A escassas horas de voo. No mesmo fuso horário. Não foi em Bagdade ou em Jacarta, locais bem mais distantes, em todos os sentidos da palavra "distante".
Quando os ataques são no Iraque, na Indonésia ou em Israel, vemo-los normalmente como factos suficientemente longínquos para, em grande medida, nos passarem ao lado. Mas não em Londres. Ou em Madrid. Nesta nossa Europa tão dividida em tantas coisas, em momentos como estes, é como se fossemos um único povo. Um único país. Como se Londres fosse tão "nossa" como é Lisboa.
Nos comentários aos ataques terroristas retive em particular o do General Loureiro dos Santos. Disse ele que "no futuro, teremos de encontrar um nível de convivência possível com o terror". Como é possível conviver - viver com - o terror? Admiti-lo como tão normal que condicione toda a nossa vivência diária?
Conscientes da impossibilidade de prever e evitar todas as acções terroristas, passaremos a encarar o terror como uma coisa que nos pode acontecer como qualquer outra casualidade. Passará a ser exactamente isso, uma casualidade? Adaptados a um estado policial, integraremos nas nossas rotinas coisas hoje aparentemente tão absurdas como ter de passar por um detector de metais em cada ida ao restaurante, ao supermercado, ao banco, aos correios, ao cinema. A ver em cada paragem de autocarro um polícia de rádio na mão, em diálogo com outros polícias em permanente estado de alerta. Habituar-se a que, a qualquer momento, o trânsito seja cortado nas nossas ruas, por causa de uma suspeita.
Em nome do bem comum e da essencial segurança que garante o nosso modo de vida, teremos de abdicar de certas liberdades, bem mais importantes do que simplesmente termos de abrir as carteiras à entrada do café.
Os terroristas usam a seu favor as liberdades que conquistámos nas nossas sociedades. É provável que tenhamos de abdicar de algumas delas para os conseguir vencer. E isso é o mais terrível nesta história. Significa que são eles que nos vencem, porque dominam o nosso modo de vida. Porque nós teremos de mudar, enquanto eles continuarão sempre iguais ao que sempre foram. Inflexíveis.
Em Londres, Nova Iorque, Madrid ou Telavive, são irrelevantes as caras e as causas que se escondem por detrás do terror. Toda a busca de justificações para o que se passou ontem em Londres é tão repudiável como o próprio atentado, porque isso significaria admitir que eles - quem quer que sejam - possam estar certos nos seus actos, que as suas pretensões sejam justas e logo, válidos os seus métodos. Nenhum terrorismo é merecedor de crédito, pois causa alguma justifica a barbárie indiscriminada que é a própria essência do terrorismo.
Ontem a Al-Qaeda ofereceu mais um dos seus "presentes" à Arábia Suadita, com a explosão de um carro armadilhado junto ao ministério do Interior, em Riade. Lembro-me de ter lido nas notícias, há já algum tempo, que em Fevereiro do próximo ano irá realizar-se, exactamente na capital da Arábia Saudita, uma conferência internacional para discutir o problema do terrorismo.
Ora, há aqui qualquer coisa que não bate certo. A Arábia Saudita é um país em que os seus governantes simpatizam abertamente com algumas das ideias típicas de grupos terroristas e patrocinam fortemente a expansão a nível mundial do wahhabismo, a versão mais radical do Islão. A que os taliban impunham no Afeganistão. Essa mesma.
Assim sendo, como é que se vai discutir - sem rodeios - o terrorismo, na Arábia Saudita, sem pôr em causa a ideologia que sustenta o próprio regime?
É tão surrealista como imaginar uma conferência sobre direitos das crianças, na Coreia do Norte, ou sobre liberdade de imprensa, em Cuba ou no Zimbabwe.
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