De Diogo a 7 de Janeiro de 2011
CONTINUAÇÃO

Neste sentido fica sem justificação aparente todo o parágrafo onde falas de um suposto problema de imagem do catolicismo em relação a um "lugar de destaque na macabra contabilidade das centenas de milhões de sacrificados no altar das ideologias". Se não fosse o facto de nada ter que ver com a discussão e de ser uma generalização, a afirmada ideia errónea e cristalizada que algumas mentes judias tem do catolicismo, esvaziava esse parágrafo de sentido.

Acrescento ainda que, maior que o desfasamento que dizes existir entre a doutrina e a prática dos fiéis católicos, é o desconhecimento que a maioria das pessoas que disso fala tem da vivência do catolicismo.

A razão que te levou a distanciar do cristianismo é por sinal a que me aproxima: Deus sendo inefável, fez-se um de nós, nunca deixando de ser Ele, mas sendo Ele no meio de nós. Conceitos como a "morte de Deus" utilizados por ti, estão mais próximos da filosofia nietzschiana, que de uma fundamentada perspectiva da teologia cristã. Explicar isso e o mistério salvador da morte e ressurreição de Jesus, implica mais dedicação que tempo. Se o fizeste no questionamento da tua fé antes do teu processo de conversão? As imprecisões teológicas levam-me a crer que não o fizeste bem.

Sublinho que durante o nosso diálogo tens utilizado expressões que denotam uma certa aversão ao cristianismo. Sendo o judaísmo em muito uma religião de memória, falas com insistência de um histórico ódio anti-judaico dentro do Cristianismo. Se ainda o há, não será essa atitude o caminho certo para uma reconciliação, acredito.
Veio-me à memória os artigos da tua autoria neste blog: "ícone rachado" de 30 de Dezembro de 2007 e "Natal sem Natal" de 17 de Dezembro de 2007 em que utilizas a expressão "seguidores do menino da manjedoura", como que desqualificar uma religião que já abraçaste. Neste registo a tua apostasia tem tanto de consciente como de provocatória.

A "militância cristã" que dizes que tenho é a mesma que me faz aceitar e respeitar a tua conversão, mas não a afirmação de um conhecimento de algo que nunca experimentaste, sobretudo quando apelas a ti esse conhecimento com uma autoridade que não aparentas ter.
De Boaz a 8 de Janeiro de 2011
Diogo, a leitura que fazes do meu texto parece bastante envieada. Ora relê os seguintes trechos:
"Reconheço como a crença em Jesus pode ser satisfatória para muita gente, reconfortante até."
"Alguém que leia estas linhas poderá até considerar-me profundamente enganado em relação às verdades do Cristianismo. Alguém que faça as mesmas perguntas que eu fiz poderá, pelo seu próprio estudo e reflexão, encontrar respostas distintas que o satisfaçam. Poderá até emergir das respostas com uma fé cristã ainda mais fortalecida. Não ponho isso em causa."

Podes por em causa a maneira como vivi o Cristianismo. A verdade é que também nunca fomos muito próximos, por isso posso dizer que não me conhecias bem. Aquilo a que podes chamar a minha ignorância em relação ao Cristianismo, talvez seja derivada da generalizada falta de estudo e de discussão existente no Catolicismo. A ignorância em relação às Escrituras, às verdades de fé é a regra (ao contrário do que acontece entre algumas linhas protestantes, por exemplo). Posso até ser, como disseste, que nunca o conheci verdadeiramente. Mas conheci-o, disso tenho a certeza, mais profundamente que a grande maioria dos católicos.

O teu discurso atual - aquilo a que eu chamo ironicamente 'militância' - deriva do teu próprio estudo do catolicismo. Há alguns anos, houve uma breve discussão no email do Grupo acerca da minha conversão e o tipo de palavras que usaste então, eram bem distintas daquelas que usaste desta vez.

Não tenho aversão ao Catolicismo. Não partilho a crença, mas não nego que aprendi muitas valores importantes.

"Sendo o judaísmo em muito uma religião de memória, falas com insistência de um histórico ódio anti-judaico dentro do Cristianismo."
Negas que exista? Não generalizo, mas há vários pontos que provam que esse ódio ainda está longe de estar dizimado. Por exemplo:
Como vês então a recém-introduzida oração de Sexta-feira Santa em que os católicos pedem pela conversão dos Judeus?
E a canonização de Isabel e Fernando, os Reis Católicos, que expulsaram os Judeus (e os Muçulmanos) de Espanha, introduziram a mais feroz Inquisição e ainda impuseram a Expulsão dos Judeus de Portugal?
E as repetidas acusações de altos membros da Igreja Ortodoxa que os Judeus sacrificam crianças cristãs para usar o seu sangue para fazer o pão ázimo da Páscoa Judaica?
"À filha de César, não basta ser séria, tem de parecer também", e estes comportamentos não ajudam ao tal caminho de reconciliação. E não ajudam a uma melhoria dessa imagem problemática que o Cristianismo tem entre os Judeus.

Para terminar - de novo, não sairá nada desta discussão - existe entre os Cristãos a ideia da exclusividade da verdade. Como disse um amigo meu "O Cristianismo não é uma 'Religião do Livro', mas de uma Pessoa (Jesus), por isso, qualquer crítica é tida como um ataque pessoal".

O meu texto não é um panfleto de propaganda para tentar convencer ninguém daquilo em que eu acredito. É apenas uma declaração daquilo que me levou a deixar o Cristianismo. Ninguém tem de me seguir. Se alguém se ofende que eu fale ou escreva sobre o assunto, tem bom remédio: crie o seu próprio blog e argumente contra mim.
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