Passaram mais de 40 anos, mas os acontecimentos de 5 a 10 de Junho de 1967 têm consequências até à atualidade. Conhecida por "Guerra dos Seis Dias", é um dos mais dramáticos episódios da história de Israel. Desde o dia da sua fundação, em 14 de Maio de 1948, o moderno Estado de Israel foi ameaçado pelos seus vizinhos árabes. Com o cessar-fogo da Guerra da Independência, em 1949, não foi instaurada a segurança e a estabilidade nas fronteiras do jovem Estado Judaico.
A partir do Sinai e da Faixa de Gaza – ocupada pelo Egito em 1949 –, as violações da fronteira de Israel eram constantes. A cada ataque seguiam-se retaliações da parte de Israel. O clima de guerra era permanente e, com a nacionalização do Canal de Suez, o Egito esperava represálias também da França e do Reino Unido, que pretendiam defender os seus interesses no Canal.
Sabendo dos interesses anglo-franceses, Israel decidiu ser o primeiro a atacar. A intenção israelita não ocupar o Sinai permanentemente. O objetivo era impor uma derrota ao beligerante regime de Nasser, que levasse o exército egípcio a terminar com as ameaças às fronteiras de Israel. A “Operação Kadesh” de 1956 causou uma derrota egípcia, mas o ambiente de guerra não abandonou a região. Com a colocação de milhares de soldados da ONU no Sinai para vigiar o cessar-fogo, as incursões árabes em território israelita terminaram durante alguns anos. A confiança israelita nas suas tropas cresceu consideravelmente.
A tranquilidade relativa da fronteira egípcia contrastava com os repetidos ataques na fronteira síria. Povoações no norte da Galileia e nas margens do Kinneret (Mar da Galileia) eram bombardeadas a partir de posições sírias no estratégico planalto de Golan. Em Jerusalém e na fronteira oriental, a ameaça do exército jordano também era crescente. Ainda que o Rei Hussein fosse o mais moderado dos vizinhos de Israel, era pressionado pelos milhares de residentes palestinianos no seu país e pelos restantes líderes árabes.
A situação agravou-se com a ordem do presidente egípcio Abdel Nasser de expulsão das tropas da ONU estacionadas no Sinai e a retoma do controlo militar da península pelo poderoso exército egípcio. No estreito de Tiran, no fundo do Sinai, foi imposto um bloqueio aos navios de Israel, impedindo o seu acesso ao Mar Vermelho. A guerra era de novo eminente.
Os dois blocos da “Guerra Fria” armavam cada um dos lados. Os soviéticos equipavam as forças árabes, enquanto Israel usava armas de fabrico americano, francês e britânico. Em evidente desvantagem numérica e estratégica, a única hipótese de Israel conseguir uma vitória no conflito que estava eminente, seria desencadear um ataque surpresa, rápido e massivo.
Na manhã de 5 de Junho, a aviação israelita atacou as bases aéreas egípcias a partir do Mediterrâneo. Voando a baixa altitude evitaram ser detetados pelos radares. Em algumas horas, a Força Aérea de Israel reduziu a cinzas toda a frota de aviões de Nasser. Simultaneamente, foram atacadas bases na Síria, Jordânia e Iraque. Este ataque fulminante permitiu a Israel o controlo absoluto do espaço aéreo, podendo depois concentrar-se na ofensiva terrestre.
Perante o ataque israelita, as populações árabes reagiram com entusiasmo. Afinal, não haviam sido informadas da pesada derrota aérea pela comunicação social controlada pelos seus regimes. Num esforço propagandístico evidente, a Rádio Damasco difundia a mensagem: “Destruiremos Israel em quatro dias”.
Os combates foram rápidos no Sinai. Em apenas três dias, a maior parte das forças egípcias – o mais poderoso exército árabe – foram derrotadas em batalhas de blindados. O exército de Israel avançou até à margem oriental do canal de Suez. Com a frente egípcia totalmente dominada, Israel concentrou-se na frente oriental. O exército jordano atacava a Cidade Nova de Jerusalém, pretendendo avançar pela cidade rumo ao Mar Mediterrâneo, cortando Israel ao meio.
As tropas israelitas atravessaram a "terra de ninguém"; que se estendia ao longo da fronteira que dividia a cidade desde 1949 e cercaram a Cidade Velha. Após dois dias de combates, o exército jordano foi repelido da Cidade Santa e a cidade foi finalmente reunificada. Pela manhã do dia 7 de Junho, já os fiéis judeus rezavam no Kotel, o Muro das Lamentações, pela primeira vez em 19 anos. O local mais sagrado do Judaísmo havia estado inacessível aos Judeus desde 1948, quando Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha, fora capturada pela Jordânia.
Israel avançou para Oriente, conquistando o território da Judeia e Samaria, que desde 1949 estava sob controlo jordano. Em 1950, esses territórios haviam sido mesmo anexados pelo Reino da Jordânia. Nessa altura, ainda ninguém reclamava a região para fundar um "Estado Palestiniano". Com as vitórias no sul e no leste asseguradas, restava suster a ameaça da Síria. Antes que as Nações Unidas decretassem um cessar-fogo, os blindados israelitas venceram o exército sírio nos Montes Golan. A 10 de Junho foi instaurado o cessar-fogo. A essa altura, as tropas israelitas já haviam avançado até próximo da capital síria, Damasco.
Em menos de uma semana, Israel aumentou mais de três vezes o tamanho do seu território. (A península do Sinai seria devolvida ao Egito em 1981, instaurando o primeiro tratado de paz israelo-árabe, o qual se mantém até hoje, apesar de alguns momentos problemáticos nas relações entre os dois países.) A partir de 20 de Junho foi autorizado a todos os Muçulmanos o acesso à mesquita de Al-Aqsa, no Monte do Templo (ou Esplanada das Mesquitas). Anteriormente, os fieis muçulmanos que viviam do lado israelita da “Linha Verde” também não podiam rezar nos seus santuários da Cidade Velha.
A espetacular vitória israelita causou um fortalecimento sem precedentes da identidade judaica. No espaço dos últimos 2000 anos, nunca as profecias de Redenção pareceram tão reais. Em todo o mundo, milhares de judeus seculares que até então desprezavam a sua origem judaica, passaram a afirmar com orgulho o seu Judaísmo. Milhares de Judeus fora de Israel passaram a usar com orgulho as suas kippot, publicamente. Na União Soviética, onde os Judeus sofriam uma forte perseguição religiosa, mesmo debaixo da opressão do regime despertara um movimento que reclamava o direito de imigrar para Israel.
Desde que Israel unificou Jerusalém, a cidade experimentou uma fase de desenvolvimento sem precedentes. Nunca a cidade se tornara verdadeiramente num local santo para as três religiões monoteístas. Apenas sob o domínio israelita foi instaurada a liberdade religiosa para todos os seus habitantes.
Hoje, o calendário judaico marca o Yom Yerushalaim, o Dia de Jerusalém, que celebra a reunificação da Cidade Santa, ocorrida durante a Guerra dos Seis Dias. Ele simboliza a restauração do domínio do Povo de Israel sobre a sua capital ancestral. O retorno a Sião, base do Sionismo, a ideologia fundadora do Estado de Israel, que é a ânsia dos Judeus de regressarem à sua pátria histórica depois de quase dois mil anos de exílio. A coroa regressou ao seu legítimo soberano.
Fiéis judeus no Kotel, uma realidade impossível até 1967.
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